Tudo o que precisa de saber sobre o futuro da Selecção Nacional de Futebol

A última semana foi pródiga em acontecimentos extremos no que à Selecção Nacional de Futebol diz respeito. Primeiro veio a desilusão e a raiva, depois a alegria e felicidade incontrolável. E não era caso para menos. Primeiro porque fomos derrotados, em casa, pela modesta Albânia no início da Fase de Apuramento para o Euro 2016. Depois porque Paulo Bento foi despedido passados alguns dias e finalmente vamos ter oportunidade de ter um seleccionador a sério. Mas qual o futuro da Selecção Nacional? Esse é o tema desta semana do “Desnecessariamente Complicado”.

As paupérrimas participações nas fases de qualificação, e em particular no Mundial 2014 no Brasil, tinham provado que Paulo Bento não era (nem de perto nem de longe) o homem ideal para o cargo. Contudo a Federação Portuguesa tinha uma opinião diferente, prova disso foi a renovação de contrato antes do início do Mundial.

Mas agora que Bento se foi embora o que será da Selecção? Quem o irá substituir? Esta é, sem sombra de dúvidas, a maior questão de todas. E a sua resposta, para já, não passará de meros palpites dado que nenhum de nós (e muito menos eu) possui os poderes da Maya ou do Professor Bambu. Mas todo o treinador de bancada adora palpites, logo vamos a eles.

A imprensa tem apontado, com bastante insistência, dois nomes: Fernando Santos e Vítor Pereira. Fernando Santos tem uma longa carreira (já treinou inclusivamente o Sport Lisboa e Benfica, o Sporting Clube de Portugal e o Futebol Clube do Porto algo que poucos treinadores conseguiram) e já deu diversas provas do seu talento e perspicácia tanto em Portugal como no estrangeiro, contudo tem contra si o facto de ter de cumprir um castigo de oito jogos (ou seja, na prática não teríamos seleccionador durante toda a qualificação para o Euro 2016). Por sua vez Vítor Pereira é mais jovem e não possui experiência e reconhecimento no estrangeiro mas tem do seu lado o currículo vencedor adquirido no Futebol Clube do Porto.

Num plano secundário tem sido apontado um outro nome que pode muito bem reunir em seu redor algum consenso. Falo, naturalmente, de Jesualdo Ferreira. Tem a seu favor a longa carreira (sinónimo de experiência) e o recheado currículo. Mas parece mais uma solução de recurso (principalmente por estar desempregado) do que uma aposta para um futuro a médio prazo.

Paralelamente decorre um outro debate: deve o próximo seleccionador ser português ou estrangeiro? E se para alguns a questão nem se coloca para mim é mais do que válida. Eu sou da opinião de que só teríamos a beneficiar com a contratação de um treinador estrangeiro (e dito isto perceberam que nenhuma das duas opções veiculadas acima são do meu agrado, certo?). Porquê? Primeiro porque seria alguém de fora do círculo vicioso que existe em Portugal (das amizades e interesses entre clubes e empresários) que apenas prejudica a Federação e a selecção de todos nós. Segundo porque sendo alguém independente teríamos a garantia de que eram chamados os melhores jogadores e não apenas aqueles que dá jeito promover e publicitar. Terceiro porque nos daria mais projecção e atenção mediática no estrageiro (não podemos viver à sombra da notoriedade do Cristiano Ronaldo para sempre).

Agora na minha opinião claro que teria de preencher alguns requisitos: experiente mas não demasiado velho (de modo a poder manter-se mais do que 1/2 anos no cargo); com provas dadas e títulos ganhos; com um currículo que prove a sua aposta na formação de jovens jogadores e que aceitasse um salário à nossa medida e não à medida dele (evitando valores astronómicos para os quais não temos capacidade).

Mas temos ainda uma terceira hipótese. A da escolha recair num treinador empregado que aceite acumular o trabalho no seu clube com o da Selecção Nacional. E aqui existem dois caminhos possíveis: um treinador a actuar em Portugal ou um treinador a actuar no estrageiro. Se formos pela primeira possibilidade eu diria que apenas um nome se adaptaria ao cargo: Jorge Jesus. Porto e Sporting têm novas caras à frente dos respectivos plantéis. E se Marco Silva aparenta ser demasiado novo para tamanha responsabilidade Julen Lopetegui não aparenta possuir o nome, o apoio popular e o conhecimento do futebol nacional suficiente para o cargo.

Dos restantes clubes nacionais Rui Vitória (do Vitória de Guimarães) poderia recolher algum apoio. Principalmente pelo excelente trabalho desempenhado no Vitória (o recente reconhecimento da imprensa estrangeira seria, certamente, um forte impulso também).

Contudo esta é, na minha opinião, a menos provável das soluções. Nomeadamente porque o acumular de trabalho seria imenso e poderia colocar em causa o clube e o contracto anteriormente existente. Pela experiência, credibilidade, currículo, personalidade forte e vincada e provas dadas de promoção de jovens jogadores Jesus parece-me ser o nome ideal para assumir o comando da Selecção Nacional.

Quanto há probabilidade da escolha recair num técnico empregado no estrangeiro parece-me ainda mais remota e dada a quantidade insana de possibilidades torna-se impossível fazer previsões ou apostas.

Mas é ainda necessário abordar um outro aspecto. Paulo Bento condicionava constantemente o lote de seleccionáveis com base nas suas preferências pessoais, birras e amuos. Com a entrada de um novo treinador todos esses jogadores voltam a poder ser chamados. E neste lote encontram-se, por exemplo: Danny, Tiago, Ricardo Carvalho ou Manuel Fernandes (penso que concordamos todos que é ridículo falar do regresso de Bosingwa, certo?). Mas não só, porque se é importante falar dos jogadores das selecções jovens é ainda mais importante falar daqueles que têm dupla nacionalidade. Ou seja, daqueles que não tendo nascido portugueses adquirem mais tarde a nossa nacionalidade.

Nomes como Rony Lopes (emprestado ao Lille pelo Manchester City), Marquinhos (do PSG), Lima (SLB) ou mesmo Maicon (FCP) não devem ser totalmente excluídos do futuro da selecção. Todos têm em comum o facto de possuírem no passaporte mais do que uma nacionalidade e ainda não terem jogado pela Selecção A de nenhum dos países. E se os responsáveis da Federação não estiverem atentos podemos ainda vir a perder Ilori para Inglaterra (para os mais distraídos a mistura mais explosiva de todas: pai inglês de ascendência nigeriana, mãe portuguesa e nascido em Londres).

Hoje mesmo surgiu um outro possível seleccionado para a selecção nacional. Dá pelo nome de Luka Zahovic e sim, é filho do mítico Zahovic. O seu pai foi internacional esloveno (em Portugal representou o Vitória de Guimarães, o Porto e o Benfica) e um dos mais lendários jogadores do seu tempo. Ele nasceu em Guimarães, tem 18 anos e é o actual melhor marcador da Liga Eslovena (representa o Maribor, adversário do Sporting na Liga dos Campeões). Fala fluentemente português (afirmou mesmo que quando foi para o seu país não sabia falar a língua oficial) e no nosso país vestiu as camisolas de Guimarães, Porto e Benfica. Disponibilizou-se para a selecção nacional e, na minha opinião, só alguém com muito pouca visão estratégica e muitos preconceitos não convoca um talento do calibre de Luka Zahovic.

Claro que perfeito, perfeito é ter apenas portugueses “de gema” na Selecção. Mas segundo essa ordem de ideias Bosingwa, Nani e Danny (refira-se para os mais distraídos que nenhum deles nasceu cá e cada um vive fora há cinco, seis e oito anos respectivamente) também não têm direito de ser chamados. Para não falar da vaga de jogadores africanos que têm “invadido” as nossas camadas jovens: casos de Bruma, William Carvalho, Cá, Hélder Costa, Aladje, Idrisa Sambu, Moreto Cassamá, entre muitos outros têm tanto direito a nacionalidade portuguesa quando Nani, Pepe ou Deco.

Claro que não se vai começar a convocar qualquer estrangeiro que apareça, nem é isso que se pede nesta crónica atenção. Contudo, confrontemo-nos com a verdade: há inúmeras posições em que estamos severamente desfalcados e toda a ajuda é bem-vinda. É por isso imperial que percamos de uma vez por todas esta xenofobia e admitamos que estes jogadores têm talento e potencial e seriam grandes adições ao conjunto luso.

Seja quem for o novo seleccionador cá estaremos para o aprovar (ou reprovar, dependendo da escolha), analisar e comentar até ao limite. Resumindo e concluindo: eu pessoalmente gostava que fosse Jorge Jesus, contudo acho que a escolha vai recair em Fernando Santos.

Boas leituras.
Boa semana.
E…bons palpites!