UE: continua a derrocada

Na semana passada foi-me oferecido o livro “L’ Europe de Maastricht”, do jornalista F. Siegel (edição francesa da JCL). Este livro, datado de 1992, aborda a temática do então actual tratado de Maastricht, claro está. Tem uma particularidade deveras interessante: o subtítulo tem por nome “Pour ceux qui n’y comprennent rien”, ou seja, traduzido para português como “para aqueles que não percebem nada disso”. Passados 24 anos sobre o lançamento deste livro, já vivemos o tratado de Nice e o tratado de Schengen, não esquecendo o já mais recente tratado de Lisboa. Digo uma coisa: trata-se de um exercício interessante ler um livro que já é de uma outra época, datado da ressaca da reunificação da Alemanha, da queda do muro de Berlim e da União Soviética. O distanciamento temporal face aos acontecimentos, na metodologia de análise histórica e política, permite sempre uma melhor análise dos mesmos, tanto no processo de reflexão como na verificação dos factos, pois as consequências advindas daí são hoje mesmo visíveis.

Chegando aos dias de hoje, viajámos de tratado em tratado, e continuámos a observar a passividade da União Europeia (UE), que não se soube afirmar enquanto entidade política supranacional. A criação do Euro tinha a intenção de optimizar o mercado livre comum, e nisso até singrou; porém enquanto divisa comum aos estados-membros falhou, pois o Reino Unido, fazendo-se valer da sua Libra, nunca irá aderir à moeda (e aí o projecto europeu falhou redondamente). A Europa de Schengen está suspensa, e com isso acabou-se a utopia tornada realidade da livre circulação de pessoas e bens, fim esse ocorrido após os recentes encerramentos de diversas fronteiras e regresso aos postos de controlo fronteiriços característicos dos já idos anos 80 do século passado. Mais: a UE está refém dos populismos e fascismos nacionalistas que agora proliferam um pouco por todo o “velho continente”.

A Hungria, Holanda, Suécia (pasme-se!), entre muitos outros, decidiram fechar as fronteiras aos refugiados. É assim. Ponto final. Pouco mais há a fazer. Os estados são soberanos, e podem voltar atrás nas suas decisões, mesmo que elas tenham sido tomadas entre os 28 estados que formam a UE. E mesmo que a UE esteja a definhar, a prosseguir na sua derrocada, pouco mais há a fazer.

O regresso da “fortaleza Europa” deixa antever tempos muito conturbados. A Alemanha acordou, na Segunda-feira, com uma dor de cabeça, após a subida exponencial do AfD (sigla alemã para Alternativa para Alemanha), partido xenófobo e nacionalista que está a um passo de recuperar velhas bandeiras que tanta vergonha fazem aos alemães democratas. É caso para dizer que estamos preocupados, mas também vigilantes.