UE: Sim ou Não? Eis a questão – Nuno Araújo

David Cameron, primeiro-ministro britânico, anunciou um referendo à presença do Reino Unido (RU) na UE: sim ou não, eis a questão. Talvez inspirado pelo homólogo britânico, o líder turco, Erdogan, anunciou que poderá vir a integrar a Organização de Cooperação de Xangai, em represália às objecções levantadas pelos europeus à entrada dos “otomanos” na UE.

O Reino Unido é um território dividido quanto à vontade de continuar a integrar a UE. Entre os britânicos, no seio do “povo profundo”, os aspectos positivos e negativos equiparam-se. A cedência de soberania britânica é a questão mais do que essencial para os intentos britânicos.

A UE tem baqueado, ano após ano, sobretudo pelas “forças de bloqueio” (tal como Cavaco Silva apelidou o então presidente da República Portuguesa, Mário Soares). Essas “forças de bloqueio” são encarnadas pela Grã-Bretanha, que não disponibiliza data em agenda quanto à transferência de poderes para as instituições europeias. E, com isso, leia-se cedência de poder e soberania.

“Esta” UE, tal como referiu Cameron, não serve os interesses britânicos. “Esta” UE é aquela entidade singular no mundo inteiro que contém um grupo de países que partilham a mesma moeda, o Euro, enquanto que o RU dispõe de moeda própria que não o Euro. “Esta” UE conseguiu, ao longo de 10 anos, retirar poder comercial e nas exportações ao RU, devido ao facto de o Euro se ter implantado em solo europeu, o que facilita as trocas comerciais entre países da zona Euro. No fundamental, a UE e a Zona Euro avançaram e foram retirando importância e poder negocial ao RU, que muito foi perdendo ao longo da jornada europeia, entre dinheiro e trunfos diplomáticos. Por isto se explica que a UE não aceita a mais recente campanha do governo de Cameron que anuncia a cidadãos búlgaros e romenos que o RU, quanto a emprego e salários, é um sítio “mau”, e também “It’s full” (está cheio – de pessoas, entenda-se).

O RU, enquanto fôr liderado por conservadores (ou até com o Labour), nunca poderá aceitar ceder parte da sua soberania e aceitar a criação de um exército europeu, porque isso significa entre muitas outras coisas, reestruturar o seu importante aparelho bélico e relações no plano militar com os EUA. O RU, enquanto David Cameron fôr primeiro-ministro britânico, nunca irá aderir ao Euro. O RU, enquanto tiver lideranças conservadoras e neo-nacionalistas como a de Cameron e dos “Tea Party britânicos”, nunca irá assinar e implementar de bom grado um acordo como o de Schengen.

Para David Cameron, as questões da criação do exército europeu, da adesão ao Euro e do acordo de Schengen têm como respostas o seguinte: não, não e não. E assim, a UE não poderá dar passos muito mais determinados do que aqueles que deu até agora. Não, enquanto o RU fôr dizendo que não a todas as propostas da UE.

Reflexão da Semana (Remodelação governamental)

Quando se elabora uma remodelação governamental, aproveita-se para dar “uma lufada de ar fresco” ao executivo. Pretende-se, de igual modo, criar condições para que o governo execute políticas difíceis face aos eleitores, dando tempo e espaço para que o programa de governo em curso seja cumprido.


Ora, o caso que quero abordar é o nosso, o português. A nossa forma de governo é semipresidencialista, ou o modelo “dois em um”. É um modelo democrático que pretende oferecer o melhor de “dois mundos”, mantendo as virtudes de um presidente, e e evitando alguns defeitos do parlamentarismo. Contudo, se a nomeação de um primeiro-ministro (Passos Coelho) ocorreu com a confiança merecida pelo presidente (Cavaco Silva), o mesmo não se deveria dizer de um novo secretário de estado (Franquelim Alves), que esteve associado a uma crise política e financeira (BPN), que obrigou à intervenção directa do estado (nacionalização do banco BPN), e, com isso, tendo causado um enorme rombo nas contas do erário público (mais de 6 mil milhões de euros).

Porquê, pergunto eu, escolher como secretário de estado um homem, que por ter exercido funções de gestão de activos no BPN, esteve ligado ao maior escândalo financeiro de que há memória em Portugal?

Será que Passos Coelho ainda é da opinião, ainda que ambígua, “que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal”?

 

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana