Processed with VSCOcam with c1 preset

Um amor para sempre

Quero-te por dentro dos abraços. Quando desaba, a flor do jardim prazenteiro, a noite encerra os beijos, os respirares, os gestos, os olhares, as palavras, e os versos. Nos entretantos, a vida recomeça. No centro das coisas, pernoitamos os dois, deslizamos os sentimentos, permanecemos quietos. Tu e eu, no culminar das estrelas.

Amanhece o mundo. O suor toma de assalto as primeiras horas do dia. Quero ver-te recuperar o fôlego. Observar-te, tudo sem ti é inútil. A nossa narrativa contada pelos deuses. Os inestimáveis, produzidos de sonhos e afazeres, deleitam o tempo desfrutado. O nosso tempo. Somos o relógio da existência que nos une. As horas que decidimos ser. O amor que priorizamos. Este é o nosso lugar, fonte de sedução a despontar os primeiros raios de sol.

Entardece o sentimento duradouro. As palavras que ficam por dizer. Os afagos que ficam por fazer, promessas desfeitas no silêncio do céu cansado. Prometes voltar. As luzes do ar tratam com afago as ruas, as cidades acabadas, os passeios, as casas e as gentes.

Anoitece. Estou na sala. A claridade é nula, espero-te. Outra vez. Há, por cima da lareira, um retrato de ti. Um rosto real, nunca antes observado. Estou sentado num sofá de quatro lugares. Ouço o bater do coração. Porque o meu coração só golpeia quando regressas. Tudo o resto é morte absoluta. Toda a tua ausência.

Amo-te e abomino-te. Como todas as pessoas da vida quotidiana. As minhas forças embatem na parede ao lado. Como se realmente o meu corpo sentisse dor. Na hora da minha morte, amo-te tal como posso. Carregas no olhar a certeza da minha nova morada. A vinda do caixão malfadado. E dos homens experientes.

Há sempre um princípio na morte. E um alívio na palavra Fim. Depois de mim, sobras tu e a vida de todos os dias. Nada mais. Aproveita este corpo que pára. No final das contas, apenas este texto, todas as imagens sossegadas, todas as memórias e, indubitavelmente, o tremor parado do meu coração. Tudo o que me resta.