Um artigo do “caralho”

“O que caralho é isto?”, “Este gajo é parvo como o caralho” ou “até que é pertinente pra caralho” são três reacções possíveis ao nome deste artigo, e nelas, utilizamos o “caralho” como forma de comparação positiva, negativa e até de espanto. Uma pequena demonstração do poder, flexibilidade e universalidade do “caralho”.

A palavra “caralho” é como aquele amigo que não vemos há um “caralho” de tempo mas sabemos que poderemos sempre contar com ele, vocês sabem, “aquele Caralho”… vejam como também serve para substantivo. Adiante, é no fundo uma companhia do “caralho” para quando existe alguma dificuldade para descrever ou definir algo.

Não percebes o que estou para aqui a dizer, não faz mal, podes sempre rematar com algo tão expressivo como “não percebo um caralho disto”. Mas se souberes perfeitamente do que estou a falar, podes afirmar orgulhoso como o “caralho”: “eu sei disto pra caralho”.

Claro que as reacções podem não ficar por aqui, e podes dizer que este artigo é estúpido como o “caralho”. Ou então, é espetacular como o … “caralho”.

Agora peço-vos alguma disponibilidade física para se levantarem do “caralho” da cadeira e irem à janela. Estão a ver pessoas? Ok, olhem para a direita, estão a ver aquelas duas senhoras lindas como o caralho? Não, ok. Então olhem para a esquerda, veem aqueles dois tipos feios como o “caralho” ali atrás do “caralho” do café? Como podem constatar, o “caralho” é universal, não existe conversa fechada à sua entrada, porque ele é uma espécie de chave-mestra que abre todas as portas à descrição.

Já estão cansados como o “caralho” desta conversa sobre o “caralho”? Não, se há coisa que um verdadeiro tuga não se cansa é de dizer “caralho”, aposto que vocês ainda têm energia como o “caralho” para me ouvirem mais um bocado a dissertar sobre este fenómeno do “caralho”.

O “caralho” pode ser tudo o que um homem ou uma mulher quiserem. Essa é a sua beleza, a ausência de limites, diria até de fronteiras físicas e psicológicas.

Porque o “caralho” pode também ser um destino, quem nunca mandou ninguém “pró caralho” – aposto que alguns já me desejaram esse destino de férias no decorrer deste texto -, pode ser também o estado do tempo, quer no pico do calor em Bagdad, onde estará calor como o “caralho”, quer no pico do frio na Sibéria, onde estará frio como o “caralho”.

Mas não só, o “caralho” também pode verbalizar uma intensificação de sentimentos tão paradoxais como nestas demonstrações que se seguem: “Golo, caralho!!!!”, “Este caralho falha-me isto, caralho!!!” (veja-se como aqui, a palavra “caralho” assume a forma de substantivo e ao mesmo tempo demonstração de desagrado na mesma frase, sublime), “Caralho!!! Parti o caralho da perna!!!”, “Já estou bom, caralho!!!”, “Eu vou-me a ele, caralho!!!”, “fugi dele a sete pés, caralho!!!”…

E poderia continuar, no fundo, tudo pode ser relativizado através do “caralho”, aliás, existe algo de democrático no “caralho”, nada lhe escapa: alguém pode ser grande ou pequeno como o “caralho”, lindo ou feio como o “caralho”, mau e bom como o “caralho”, complicado e simples para “caralho”, burro e inteligente para “caralho”, e sim, esperto ou como vocês devem estar fartos de dizer também, parvo para caralho!!! 🙂

O certo é que já faltava um texto de tributo a essa palavra tão portuguesa e tão pouco reconhecida por todos. O certo é que há falta de melhor, toda a gente, homens e mulheres, terão sempre um “caralho” à mão para um final feliz descritivo.