Um bebé real e o Lobo Mau – Joana Camacho

Gostava de ter uma conversa séria convosco, mas tenho duas questões a colocar, antes de mais. Primeiro: quando estamos a falar com alguém, o protocolo diz que devemos olhar para os olhos ou para a boca da pessoa? É uma dúvida que sempre tive. E, segundo: que história é essa de conversa séria? É comestível?

Sim, sei que não me viram na semana passada, mas andei atarefada a limpar o pó da casa, queiram-me desculpar. Como assim, ninguém reparou? Não, não – não levo a mal, ora essa. Mas, já agora, alguém é capaz de me explicar que atração estranha é esta, entre o pó e os cantos? Claramente há ali um clima estranho. É notório o afeto que o pó sente pelos cantos, mas… eu agradecia que os relacionamentos do pó não interferissem na sua vida profissional. Para além do mais, aleija-me a coluna.

Esta semana só oiço falar em “blá blá blá o bebé dos não-sei-quê-reais nasceu” e “blá blá blá ele é tão lindo”. Agradecia que parassem. Ele não é lindo. Faz chichi na cama. Usa fraldas. Chora e faz barulho durante a noite – grita! Baba-se. E chamam a isto de lindo? Queria ver se fosse eu a fazer estas coisas. Iam chamar-me de linda? Igualdade de direitos, senhoras e senhores! A mim, aposto que me iam chamar de babada, ranhosa, anormal e “mijada”. Mas – ui! – estamos aqui a falar de um bebé real e ele é lindo, claro. Ora: tenham dó!

E falando em (alusão a: dó ré mi fá sol), que vos parece se eu lançar um CD de inéditos, no mês que vem? Se canto bem? Não. Canto terrivelmente mal. Mal ao ponto de quebrar vidros e deixar pobres animaizinhos sem vida. Mas, pela minha análise de mercado, cantar bem – hoje em dia – não é um dos pré-requisitos para se fazer músicas de sucesso! Pensei em criar uma canção acerca dos benefícios do papel higiénico de folha dupla. Aposto que seria um sucesso digno de discos de platina e essas mariquices todas. Se toda aquela malta que saiu do Secret Story canta, então eu também canto! Esta semana ouvi o mais recente êxito do Rúben e da Tatiana, e só vos tenho a dizer que acabei a sangrar dos ouvidos.

Às vezes pergunto-me: que mal fiz eu ao mundo para ser exposta a este género de musicalidade suicida? E que raio de letra foram eles arranjar para aquela canção? Tu és um lobo mau-au-au-au-au-au… – das duas, uma: ou a pessoa que escreveu isto é gaga (e não me refiro à Lady Gaga), ou então sofre de um grave distúrbio mental. Isto não é música de gente normal. (Olha, rimou! Vou parar o texto por aqui, para ficarem com a ideia de que sou uma pessoa inteligente.)

Caras pessoas que me leem: caso, por alguma razão, tencionem subornar a autora deste texto, permitam-me que vos deixe uma sugestão… chocolates. Montes e montes deles.

JoanaCamachoLogoCrónica de Joana Camacho
A parva lá de casa