Um cidadão normal

Sou deficiente motor desde que me conheço por gente, nasci assim e acho-me normal ser assim, como qualquer outra pessoa se achará normal. No dia 19 de Outubro fui renovar o meu cartão de cidadão, a loja do cidadão de Freixo de Espada à Cinta. Pelas 10 horas da manhã, lá estava eu a entregar o meu cartão de cidadão. Lembro-me a primeira vez que o fiz, correu tudo bem. O equipamento ajustava-se ao cidadão que sou, mas desde então tudo mudou! Hoje quando entrei na mesma loja do cidadão, senti que já não era um cidadão porque o estado não pensou em pessoas como eu,que têm de ir numa cadeira.

A máquina não me conseguia apanhar para tirar a foto, mas afinal isto não é feito a pensar em todo o cidadão, pensava eu… Afinal o estado me obriga a renovar um documento sem me dar um lugar onde o fazer e sem precisar de ocupar a boa vontade de outros cidadãos, que desde já fizeram mais do que lhes era obrigado. Pois foram de uma bondade incrível ao ponto de me levantarem para tirar a foto e poder assinar o cartão para não ficar como um analfabeto que felizmente não sou muito a custa da minha mãe, pois também ai o estado não me dou apoio nenhum, a não ser a escola normal.

Eram outros tempos… Mas pelo visto o estado pouco mudou e continua a não me considerar um cidadão normal, com os mesmos direitos que qualquer cidadão. É curioso, bastava termos acesso as mesmas coisas, para talvez não precisarmos tanto do estado. Depois de hoje me pergunto: como o estado pode incriminar alguém por descriminação, que moral tem o estado de o fazer, se o próprio estado descrimina pessoas como eu? Hoje poderia dizer que perdi a minha dignidade ao passar por aquilo tudo, o estado é que perdeu essa dignidade, aos olhos dos que me ajudaram.

É lamentável e humilhante passar por isso! Os tipos que desenvolveram a máquina, os senhores que aprovaram o sistema. Um dia podem passarem por essa humilhação. Não deixo mal a ninguém, mas estão sujeitos e ai vão sentir na pele o que eles podiam evitar com muito mais respeito pelos que são diferentes mas cidadão na mesma.