Diz que… – Um disse-que-disse

É assim que eu vejo esta última semana.

Pedro Passos Coelho disse na Assembleia da República que quem foi nomeado pelo Governo para os cargos que são conhecidos pela comunicação social foi escolhido por mérito (por currículo) e não por filiação partidária. Disse mesmo que ninguém pode ser prejudicado nestas escolhas pela sua filiação partidária. Ficou por explicar a coincidência de o Governo achar que só existe gente com mérito no PSD e no CDS.

Catroga negociou o Orçamento de Estado de 2011, em nome do PSD, com o PS. Elaborou o programa de Governo do PSD (o tal que, segundo a oposição, não dizia nada em concreto). E participou das negociações com a “Troika”. Em todas as aparições públicas disse que a situação nacional era muito critica e que iam ser anos muito difíceis. E quando foi indicado pelos accionistas da EDP para presidente do conselho geral da mesma, anunciou que não iria abdicar nem de ordenado nem de reforma. Pensando desta forma (em relação à retribuição pelo trabalho), conseguirá Pedro Passos Coelho convencer os portugueses que a sua indicação (ou pelo menos recomendação) não foi recompensa por tudo o que fez pelo PSD?

Esta semana, a nível de concertação social, mais do mesmo. CGTP volta a recusar-se a negociar. Governo diz que faz acordo mesmo sem os sindicatos presentes. UGT decide ficar. Patrões querem salários 20% mais baixos. Governo ultra liberal aplaude. UGT diz assim não. Governo recua. Aprova-se o despedimento quanto à inadaptação em geral (até aqui era só às novas tecnologias de informação), mas limita-se a um máximo de 3. Ficamos só com 22 dias de férias mas não trabalhamos mais meia hora. Se é equilibrado? Claro que não. Se os trabalhadores são prejudicados? Muito. Mas ao menos esteve lá alguém a defendê-los e, nalguns pontos em concreto, conseguiu minorar estragos. Neste aspecto, acho que o Cavaco tem razão. É melhor haver acordo, moderado (dentro do possível) pela UGT, do que haver só acordo entre o Governo ultra liberal que temos e o patronato. É bom? Não, longe disso. Mas em tempo de crise, não se vira a cara à luta.

Por falar em Cavaco, este mostrou a sua indignação por saber que, da Caixa Geral de Aposentações, só vai receber 1300€, e que, juntamente com o que vai receber das restantes pensões (que ainda não sabia o valor), provavelmente não ia dar para as suas despesas, até porque não recebe ordenado. Perdeu uma boa oportunidade para estar calado. Todos nós sabemos que ele não ganha ordenado porque foi obrigado a abdicar ou do ordenado ou das pensões por força de legislação aprovada pelos socialistas (uma das poucas coisas boas por eles criadas). E que abdicou do ordenado porque ganhava muito mais em reformas (mais de 10 000€ mensais). Para além disto, queixar-se que 1300€ é pouco, quando há pessoas que têm de viver com 200€ mensais de reforma, é, no mínimo lamentável. O Jerónimo de Sousa disse que era até um insulto.

Já que se fala de Jerónimo de Sousa, vou terminar falando do PCP. Sou claramente de esquerda, e, apesar de não simpatizar com o comunismo ou “bloquismo” (neste momento, para ser sincero, não me identifico com o que é defendido por nenhum partido com assento parlamentar), apoio pontualmente algumas iniciativas do PCP. Acho que o Jerónimo tem levado o PCP a apresentar algumas boas propostas. Mas, ultimamente, olho para as declarações dele com algum desalento. A repetição daquele “chavão” comunista, popularizado por Carvalhas (que valeu aos comunistas o apelido de “Cassetes” pelo saudoso “Contra-informação”), da luta de classes, do patronato como o “bicho papão”, que eu via, embora ainda presente no PC de Jerónimo, mas mais moderado (como deve ser), tem vindo ao de cima nos últimos tempos. Eu não esperava que o PCP mudasse assim tanto – aliás, prova de que não querem mudar, que querem continuar a ser o “velhinho” PC foi a expulsão dos chamados “renovadores” -, mas tinha esperança que o Jerónimo conseguisse moderar um pouco o discurso, de forma a que o PC deixasse de ser apelidado do “partido do contra”, do partido do “discurso feito”, da “cassete”,  e, dessa forma, ganhasse maior credibilidade, especialmente entre os jovens. Inicialmente parecia-me que ia nessa direcção. Actualmente voltaram à reedição de Carvalhas. A frase do Contra-Informação era algo do género “Governam contra os trabalhadores, favorecem os grandes grupos económicos como o do Shampoo Limão (…)”. Shampoo Limão era Champalimaud, como facilmente se entende. Se a frase é actual? Pode dizer-se que sim. Aliás, dificilmente sairá de moda (é só trocar o nome Champalimaud por outro qualquer grande grupo económico).  Mas, depois de tantos anos, “a malta” está farta da mesma “cassete”. Não abandonem os vossos ideais, mas ponham a “cassete” no lixo. Tornem o partido mais atractivo. No limite, oiçam o que dizem os “Homens da Luta”: tornem a luta uma alegria!

Crónica de João Cerveira
Diz que…