Tens um homem que nem mereces…foda-se!

Um dia destes, em conversa com uma amiga sobre a minha infância, percebi instintivamente que este seria o tema da minha próxima crónica. Até aos dezasseis anos eu vivi com quatro mulheres. Solteiras, deprimidas, frustradas e carentes. Nunca entrou homem nenhum naquela casa. Nunca entrou homem nenhum naqueles quartos. Nunca entrou homem nenhum naquelas camas. No entanto, desde muito nova que ouvia as conversas de mesa e de sofá, as revistas eróticas espalhadas pela casa, os doces da carência escondidos nos armários, os aparelhos de ginástica encostados a um canto a ganhar pó, as caixas dos calmantes, as lagrimas que corriam facilmente pelo rosto, a palavra homem e filho da puta surgia com frequencia nos dialogos. Em dessazeis anos, nunca ouvi palavras positivas acerca de um homem e de um relacionamento. Cresci sem uma figura paternal, um pai, um avó, um tio, agora percebo que, por melhor que uma mãe seja, a figura de um homem é essencial para o crescimento saudável de uma criança. Cresci com a ideia errada que os homens são uma merda, que o seu interesse por mulheres é meramente sexual, que as mulheres podem ser compradas, que as mulheres podem ser facilmente levadas pela carência, que as mulheres são as piores inimigas delas próprias e das outras mulheres, que o amor não existe e que os bons casamentos não o são na verdade. Desde muito nova que, ouvia falarem de sexo, keka para aqui, pénis para acolá, preservativos, rapidinha…sempre soube que seria uma miúda promiscua, fui estimulada para tal, ainda o sou, sempre serei, mas com a maturidade vem a contenção também.

Eu cresci mas a opinião negativa acerca do sexo masculino não mudou, continuo a repugnar os machistas,os idiotas, os maus pais, os comilões, os gabarolas e os malandros. A minha tolerância com o sexo masculino é zero, não tenho paciência para os dramas, as desculpas, os vícios, as indecisões, faltas de atitude e faltas de maturidade. Conheço-me melhor que ninguém, assumo que mudar a minha personalidade moldada na infância é extremamente difícil, sei também que esta falha prejudica a minha vida pessoal, mas agora questiono: Eu não mudei e a sociedade mudou?

Alguém me contou, um dia destes, que, a fulana x é uma má esposa porque, não se levanta da cama quando o marido chega do trabalho, para lhe preparar algo para comer. Sabem a que horas o marido chega do trabalho? Às quatro da manhã! Claro que uma afirmação destas só podia ser dita por uma sogra ciumenta e antiquada ( raios partam as sogras ), mas porque raio a mulher, que tem todo o direito de dormir e descansar, ia se levantar da cama para dar de comer ao marido? Ele é maneta? É algum bebé? Não sabe preparar uma merda de uma sande de fiambre e buscar um sumo ao frigorífico? Foda-se! 

Alguém me contou, um dia destes, que passa a ferro as camisas do marido porque ele não sabe passar a ferro. Não sabe? Porquê é que não lhe ensinou? Não mexe no computador para ver filmes pornográficos enquanto se masturba? Então também sabe pegar na merda de um ferro, montar uma tábua e passar a camisa. Se a esposa morrer, o viúvo vai arranjar outra só para lhe passar as camisas? Foda-se!

Alguém me contou, um dia destes, que sendo dona de casa, era sua obrigação cuidar mais dos filhos do que o marido, porque este trabalha fora de casa e chega ao final do dia cansado. Mas a keka não foi dada pelos dois? Não são os dois pais? Trabalhar em casa não é um trabalho como todos os outros? Os putos já são educados a diferenciar as funções da mãe e do pai, está completamente errado. Foda-se!

Alguém me contou, um dia destes, que não gosta de sexo, mas faz para agradar ao marido. Mas que porra é esta? Ter um casamento feliz é detonar a nossa auto-estima em prol da satisfação sexual do marido? Ele ter prazer é mais importante que o nosso prazer? O homem descarregar é o que importa? Isso não é sexo e muito menos é fazer amor, isso é uma merda qualquer que nem consigo atribuir nome. Foda-se!

Continua