Um mundo novo – Sofia Marques

A altura em que entramos para a escola secundária é das mais importantes das nossas vidas, e até pode mudar profundamente uma personalidade.

Deixamos para trás as brincadeiras parvas do recreio, os balões de água, os “quem diz é quem é”, os berlindes,  os casamentos a fingir e as pequenas coisas que faziamos às escondidas e achàvamos que eram grandes crimes pelos quais iamos pagar… e caro! ( as negativas a matemática, os trabalhos de casa que ficavam em casa para o cão fazer, as roupas encharcadas por termos ficado a brincar à chuva).

No meu caso , acabei por deixar a matemática, disciplina cujos meus resultados eram, por si só, pequenos “crimes” .Os meus e os de quase todos os alunos. Principalmente nas temidas idas ao quadro, quando os olhos do professor pareciam transformar-nos os ossos em espuma e o nosso cérebro numa massa de operações matemáticas sem solução. Eu, pequenina pequenina  em frente àquele quadro enorme e negro que parecia querer engolir-me , sentindo-me a miúda menos inteligente e mais insignificante do mundo.

Quando entramos para o secundário , parece-nos existir um planeta inteiro de problemas , muitas vezes que nada têm a ver com as notas.

 Importamo-nos mais com aparência e com o que os outros acham dela, principalmente o sexo oposto .Como aquele rapaz que queremos desesperadamente impressionar e (e que até é o mais giro da escola) e as figuras que fazemos para isso, como pintar o cabelo de cores esquisitas e usar saltos tão grandes que nos esparramos no chão à primeira oportunidade, que até acaba por ser à frente do tal rapaz.

Tentamos tudo, igualmente, para nos integrarmos neste novo ambiente e sermos “populares” ou seja, conhecidos por todos, aceites como alguém importante, influente  e considerado belo.

Depois também há aqueles que se revoltam contra esta noção de popularidade ( muitas vezes superficial e elitista) e tentam manter a sua personalidade e estilo pessoal, fazendo valer a sua opinião e não tendo medo de dizer o que pensam .

Neste ambiente, infelizmente, o aspecto a costuma ser o que mais conta, mas com o tempo começamos a aperceber-nos que é bom sermos quem somos, não ligar a estereótipos de beleza insensatos e , principalmente, que é necessário aprender a pensar por nós e não seguir apenas os valores do grupo, que muitas vezes são apenas mesquinhos.

Outro dos novos problemas que aparecem é a falta de confiança que nos assalta ao apercebermo-nos de que os professores agora, apesar de nos ajudarem , já não nos avaliam quase exclusivamente pelos testes, mas muitas vezes por apresentações que temos que fazer à frente da turma toda, muito maior que as que tinhamos tido na preparatória . Os nervos tomam conta de nós , gaguejamos e ficamos sem palavras . Afinal, quem quer ser julgado por um grupo de 25 miúdos competitivos e faladores?

E além destes existem muito mais, pois os miúdos conseguem ser muito cruéis e o bullying aqui já não é feito à pancada, mas sim com palavras e intrigas que se espalham como folhas ao vento .

Cocluindo, apesar destes problemas, o secundário vale a pena não só pelo que se aprende, mas também por que se fazem amigos para toda a vida, aprendemos a enfrentar muitos obstáculos e também que existem pessoas más, que nos vã sempre tentar destruir, assim como pessoas boas que nos vão proteger. Também é aí que nos apaixonamos as primeiras vezes, temos os primeiros namoros e lágrimas por amor e por desespero. Tudo isto nos enche a vida e nos faz crescer, e muito.

Boa sorte , para quem vai embarcar nesta aventura.

Crónica de Sofia Marques
A Minha Vida e outras Insanidades