Um sonho: matar a voar

Quando somos pequeninos e vemos os aviões no ar, a passear lá no alto, queremos ser nós os condutores destes “pássaros grandes”. Queremos voar. Abrir asas e simplesmente ir…

Contudo não serão muitos os que concretizam este sonho. Os que ficam à frente de um avião, levando-o de aeroporto em aeroporto, de cidade em cidade, pelas nuvens. Mas os que realizam o tal sonho, os que ficam à frente do avião, esperamos, nós restantes condutores da própria vida, que sejam os mais eficientes, os mais indicados para o trabalho.

Esta semana um avião despenhou-se nos Alpes Franceses, sem sobreviventes. Não interessará para o caso o número de pessoas a bordo. Podia ser uma, podiam ser 300, ou mais até, não interessa. Quando existem mortes é sempre de lamentar.

Nas primeiras tentativas de explicar o sucedido falava-se em acidente, uma possível quebra do vidro do cockpit diziam outros, etc. Depois de analisada uma das caixas negras surgiu uma outra teoria. Muito mais sinistra. O copiloto terá ficado sozinho no cockpit e levado o avião para o abismo, ficando tudo desfeito quais peças de lego que caem ao chão depois de montadas.

Esta monstruosidade foi desencadeada (ou dizem que foi) por um jovem de 28 anos, que tinha como sonho voar. Um jovem que era descrito como calmo, uma pessoa normal. Mas não seremos todos pessoas normais até que?? Agora outras notícias dizem que sofreu uma depressão e um esgotamento há uns anos. Mais um sinal que uma pessoa pode camuflar muita coisa. E fosse quem fosse, o certo é que todas as pessoas que iam naquele avião estão mortas, e ele é que as levou para a morte.

Até aceito que por diversas razões a pessoa queira colocar terma à própria vida, independentemente da idade. A eutanásia, com a qual concordo, é apenas uma forma mais digna, digamos assim, de isso acontecer em casos de doença. No entanto cada um sabe de si (e como dizem alguns “Deus sabe de todos”) e a vida por vezes é tramada e leva a pessoa a pensar em 1001 coisas. Até aqui “tudo bem”. A pessoa pode ter os pensamentos que quiser, até pode fazer o que quiser da vida e com a própria vida desde que aceite sofrer as consequências de tais actos. Mas brincar com as vidas de outros? Levá-los à morte quase que como para ter companhia?

Este caso foi com um avião levando a que o número de mortes fosse mais elevado, contudo não faltam por aí exemplos, infelizmente. São pais que matam a família, são maridos que matam as mulheres, normalmente por dívidas, falta de dinheiro ou doenças que muitas vezes se traduzem (ou dizem que se traduzem) em depressões e esgotamentos. E são sempre pessoas normais, sem o mínimo indício que algo poderia acontecer e muito menos do que género que aconteceu.

O que se passará na cabeça destas pessoas para terem este fim? E darem o mesmo fim a outros apenas porque elas quiseram?

Ninguém vai descobrir verdadeiramente o que se passou neste caso do avião. Quem lá estava e poderia contar morreu. Um acidente (ou a teoria de acidente) aceitar-se-ia de forma mais fácil – ninguém consegue prever o futuro e acidentes acontecem. Mas existir a possibilidade de alguém deliberadamente mandar o avião contra os Alpes? Será complicado aceitar para quem perdeu familiares. Será complicado para a própria família do co-piloto. Será complicado para todos.

Para quem tinha a intenção de embarcar naquele avião e não o fez, agradecem a tudo e todos porque o destino final está à vista. Para os familiares ficará a lembrança dos entes queridos. E talvez “tranquilizará” de certa forma saber que a morte foi instantânea, pelo menos não sofreram.

O ser humano tem razões que a própria razão desconhece. E o resultado está à vista…

Neste último voo, o objectivo e sonho de pequeno não foi voar. Foi matar!