Um tributo às bestas do trânsito…

Depois de um verão atípico em que o São Pedro decidiu que não merecíamos ter um Agosto com temperaturas elevadas — como é apanágio todos os anos —, eis que chega Setembro, e as chuvas começaram a cair com uma tal violência que me leva a crer que o raça do santo anda com problemas de próstata. Pudera, com a idade que tem, até fico surpreendido como é que ainda tem capacidade para controlar o tempo, e estragar-nos as férias de verão. Faço aqui um pedido expresso ao São Pedro: homem, se estás a ler isto, não achas que já estás na idade de passar dias inteiros no parque a jogar ao dominó com os outros santos, em vez de andares a judiar connosco? Olha, deixa aí a traquitana que controla o tempo em modo automático, e vai divertir-te com os da tua idade a jogar xadrez ou outro jogo qualquer.

Setembro começou calmo, com temperaturas aceitáveis. Mas esta semana regressaram as chuvas em força, deixando toda a gente em alvoroço. Especialmente aqueles que achavam que em Setembro é que ia estar um “tempo do caraças”, e tiraram férias nesta altura. É uma situação chata, não é? Irem todos equipados de chapéu de sol, toalhita de praia, cadeirinha para sentar o rabiosque a ler um livro, absolutamente preparados para apanhar um valente escaldão, e levarem com os problemas de próstata do São Pedro em cima da carola? Sim, confirma-se: é chato, sim senhor…

Com a chegada da chuva, parece surgir das catacumbas do asfalto, uma raça de condutores que eu tive a liberdade de apelidar de “Bestas do Asfalto”. “E o que são as Bestas do Asfalto”, é o que vocês iam perguntar já de seguida, certo? Não vale a pena perderem tempo com isso que eu explico o que são. As “Bestas do Asfalto” são todos aqueles condutores que, faça chuva ou faça sol, conduzem sempre da mesma forma. São aqueles que se acham sempre os melhores condutores do mundo, e que têm sempre tudo sob controlo. Até ao dia em que essa autoconfiança se esvoaça quando se vêem enfaixados na traseira de um camião, ou decidem derrubar uma árvore, só porque “ups, não consegui controlar o carro, e aquela árvore também não me parecia nada bem ali, naquele sítio…”

É de conhecimento básico que se deve adaptar a nossa condução conforme o estado do tempo, do piso ou mesmo do nosso estado psicológico. Eu quando estou mais em baixo, conduzo mais devagar. Quando estou mais animado, sou um pouco mais rápido nas decisões. Quando estou depressivo, o melhor é nem conduzir, porque me torno esquizofrénico e a coisa pode correr muito mal. Mas há bestas que, mesmo que o piso esteja escorregadio, acham que conduzir em segurança é sinónimo de acelerar em curvas, travar dentro das curvas, andar colado à viatura da frente com o claro intuito de intimidar o seu condutor, incentivando-o a acelerar que nem um piloto de fórmula 1. Bestas que gostam de acelerar e de fazer manobras perigosas quando não o deveriam fazer em caso algum, especialmente quando o piso se encontra molhado.

Mas a culpa não é deles. Não, não é. Eu sei bem de quem é a culpa de estas bestas existirem. Sei bem quem é que devia ser chamado à razão, e não é. Sei bem quem é que deveria levantar o seu rabiosque do cadeirão, e corrigir o que ele próprio criou. Sim, estou a falar do Criador. Sim, esse mesmo… o Todo Poderoso, Deus!

Na altura em que ele criou os 10 Mandamentos, podia muito bem ter antecipado o que ia acontecer uns valentes séculos mais tarde, e ter criado igualmente os 10 Mandamentos para as “Bestas do Asfalto”! Podia ser que assim não se chegasse a ver loucos varridos com um volante nas mãos a ceifar vidas de pessoas pacatas e inocentes que apenas estão no local errado à hora errada.

Mas nunca é tarde para tomar uma posição, ó Deus. E já que andas um pouco comatoso, e decidido a continuar a fazer da preguiça o teu hobby preferido, eu dou-te uma pequena ajuda. Criei os 5 primeiros Mandamentos para as “Bestas do Asfalto”. Ora cá vai:

1 – Não acelerarás com o piso molhado, tal e qual uma besta.
2 – Não acelerarás nas curvas, tal e qual uma besta.
3 – Não travarás a meio de uma curva, tal e qual uma besta.
4 – Não conduzirás colado aos carros da frente, tal e qual uma besta.
5 – Não conduzirás no inverno, como se fosse verão, tal e qual uma besta.

Agora levanta o rabiosque do cadeirão, e faz pela vida… ó Deus preguiçoso…

Até para a semana, malta catita… (E cuidado com as “Bestas do Asfalto”, que eles andam aí. É só darem pelo cheiro típico de terra molhada, que desatam imediatamente a sair das tocas…)