Uma bomba de chatices

Uma ida à gasolineira aborrece-me sobremaneira. Estou dentro do carro e não consigo deixar de sentir que estou num jipe, no meio de uma savana a observar a vida selvagem no seu estado mais puro. A única diferença é o cheiro a gasolina e o constante aperto no peito sempre que olho para a tabela de preços. Por breves momentos faço parte desse grupo selvagem, assim que começo a falar com o meu carro e a insultá-lo. “És um bêbedo”, digo-lhe eu. Ele não me responde.  O meu querido Polo prefere vingar-se nas alturas mais inconvenientes.

Não preciso de binóculos para observar a gasolineira. Abro ligeiramente o vidro, baixo o volume do rádio e olho à volta. Desenrolam-se várias situações diferentes e todas elas me deixam embasbacada.

Começamos pela bomba nº1 onde um senhor anda o mais vagarosamente possível. Sabem aquela expressão que diz: “se pestanejares perdes logo a acção toda”? Pois bem, com este senhor vocês até podem dormir uma sesta e quando acordarem ele ainda está a abrir o depósito da gasolina. Dou uma guinada no volante e tento ir para a bomba nº2.

Já em modo de espera vejo um homem a abrir rapidamente o depósito e a inserir a mangueira para começar o abastecimento. “Ufa, que sorte, este é rápido”, penso eu. Mas o senhor tem uma meta e segue rumo a ela de forma imparável. Abana a mangueira para um lado, alivia a pressão no manípulo e, quando dou por ela, pára nos 30 euros e 1 cêntimo. “Jogue no euromilhões, homem”, grito-lhe eu dando nova guinada no volante. Claramente que há gente que continua sem perceber para que servem os botões de marcação no painel.

Chego à bomba 3 e dou com o Sr. Ziguezague. Corre as filas todas porque não consegue esticar a mangueira caso calhe numa bomba oposta ao depósito do seu carro. É uma pena as mangueiras serem tão curtas. Já preenchi muitas reclamações em diversas gasolineiras para que alterem este paradigma. Mas o Sr. Ziguezague vem mostrar-me que as minhas critícas caíram em saco roto e que as mangueiras não consegue percorrer mais do que cinquenta centímetros.

Na bomba 4 está o Sr. Limpinho. Pega num papel antes abrir o depósito, pega noutro antes de mexer nos botões, pega em mais um antes de tirar a mangueira do sítio e pega em mais dois ou três quando acaba de abastecer a viatura. No final, não sei se estou a olhar para alguém que acabou de meter gasolina ou para alguém que acabou de enfiar as mãos em óleo a ferver e foi de urgência para o hospital.

Depois de nova mudança de direcção chego à penúltima bomba. Fico chocada. Enquanto o senhor mete gasolina, a mulher fica a fumar dentro do carro. Ainda bem que a gasolina não é inflamável senão teria ficado realmente preocupada quando a mulher lançou a beata para o chão. Os carros novos agora não trazem cinzeiro e, aparentemente, o Opel Kadett deve ter sido relançado sem que eu desse por nada.

Por fim chego à bomba 6. Está quase sempre sem ninguém. Tiro o cinto e saio do carro. Estou no meio da vida selvagem, encaro o perigo de frente. Abro a portinhola que dá acesso ao depósito do meu carro, coloco a tampa no tejadilho e dirijo-me ao painel. O abastecimento é tão rápido como levar uma injecção: sente-se uma picada e já está. Mas esta dói do início ao fim.

Quando chego ao guichet de pagamento tenho de olhar para trás. Andei em tantas filas que quase nem me lembro em que bomba abasteci. “15 euros, bomba 6”. A menina arranca-me o dinheiro das mãos e fico com vontade de chorar. “Obrigada e até à próxima”. É, a gente vê-se amanhã se eu entretanto não tiver de ir ao mecânico.

p.s. Mais uma vez, devo explicar que todas estas situações acontecem frequentemente sempre que vou pôr gasolina no carro. No entanto, nunca tive o azar de lidar com todas elas no mesmo dia. Assim sendo, este texto é um apanhado de todas as situações que já “enfrentei”. E não aproveitem isto para fazerem trocadilhos com a palavra “mangueira”. Não encontrei um sinónimo decente.

BárbaraBorralhoLogoCrónica de Bárbara Borralho
Riso sem siso