Uma Cultura de Todos para Todos

Hoje, caríssimos leitores, trago-vos um desabafo. Um desabafo que, pode-se dizer, é pessoal, mas também, de certa forma, uma mensagem e uma sugestão política, cultural, social e até económica. Algo para fazer pensar e refletir.

Se há coisa que adoro muito no meu país, “à beira-mar plantado” como muitos Homens Portugueses cantaram ao longo dos tempos, é a nossa cultura e a nossa História, o nosso património (histórico, aquitetónico, cultural) e as nossas gentes, as nossas tradições e os nossos costumes. Não, meus caros…. Não sou nenhum apologista do passado, conservador ultra-nacionalista e anti-progressista. Considero é que, cada um de nós, portugueses, deve de se orgulhar do que fomos e do que somos por causa de todos os feitos que, em quase 900 anos de História, conseguimos alcançar!

Noto, nos dias de hoje, que há muitas pessoas, um pouco desde o Sul ao Norte do País e sem descurar as nossas pérolas atlênticas, se esquecem de ir relembrar o que Portugal já foi e o que as suas gentes já fizeram. Relembrar feitos gloriosos a nível social, a nível político, a nivel artístico-cultural, a nível geográfico, ciêntifico, económico. Sim, meus amigos! É verdade que desta pequena porção de terra, conseguimos alcançar o mundo inteiro. Durante algum tempo, o mundo foi nosso. É certo e sabido que também cometemos os nossos erros, as nossas atrocidades e os nossos abusos em todos os quadrantes da vida, quer a nós mesmos, quer a outros. Contudo, não devemos arrumar estes erros dentro de uma caixa, colocá-la num armário e fica ali fechado e esquecido. É importante que olhemos para as nossas coisas boas e tenhamos orgulho nelas, mas talvez mais importante, é olhar para as más e aprender com isso. Sermos melhores seres humanos do que já fomos ou que os nossos pais e avós foram. E é aqui que entro, especificamente, no assunto que vos trago.

É nas nossas ruas, praças, avenidas, Igrejas, Palácios e Museus que encontramos os vestígios que, de uma forma ou de outra, nos conectam e nos aproximam ao nosso Passado. Da nossa História. São nesses locais, principalmente, locais edificados, alguns deles de raiz, outros reaproveitados, que através do processo de musealização, mantêm e conservam os seus acervos materiais ou imateriais que nos fazem imaginar façanhas que apenas temos acesso através dos livros de História. Pergunto agora a quem me lê: “Quantas vezes costuma visitar um Museu?” Imagino que a resposta seja curta: “Poucas ou muito poucas vezes…”. E se perguntar o porquê, a resposta também não será difícil: “Os bilhetes são caros”; “Não há tempo para tal”. Respostas mais que normais, obviamente, e totalmente compreensíveis.

Pergunto agora, caríssimo leitor: E se pudesse visitar alguns dos principais museus portugueses, gratuitamente É verdade que o atual Governo, já tomou uma medida importante e muito pertinente para incentivar a nossa população a visitar acervos museológicos e palacianos, monetariamente mais em conta. E ainda bem! Contudo, e apesar dos dados positivos que se têm verificado, considero que se pode fazer mais e melhor.

Fonte: INE – Consultado a 28/02/2017

Para tal, recentemente, dei a minha contribuição para o Orçamento Participativo, onde submeti a minha proposta. À semelhança do que é feito na grande maioria dos Museus Britânicos, e um pouco por todo o Mundo, propus que se realizasse em Lisboa, um projeto-piloto onde às entradas de alguns museus (ou se possível, todos) na cidade seriam gratuítos para qualquer pessoa e, no final da visita, umas Donation Box (“Caixa de Doação”) aguardariam pela saída do visitante e este depositaria uma quantia simbólica que considerasse pertinente para ajudar na manutenção e conservação dos serviços do mesmo museu. Esta medida tem, no meu entender, um caráter duplamente democrático: o livre acesso à cultura a todos aqueles que a queiram visitar e a oportunidade, dentro das possibilidades de cada um, de deixar uma pequena contribuição para ajudar na manutenção daquele espaço, equipamentos e recursos humanos no Museu/Palácio. Do meu ponto de vista, mais depressa e conscientemente se deixa 5€ de contribuição numa Donation Box (e vê-se o espólio museológico à vontade) do que se paga o mesmo valor por um bilhete à entrada.

http://www.youtube.com/watch?v=XfPjE6r-Y1Y

Obviamente que esta medida incorre num perigo. O Português de gema adora a gratuitidade de qualquer coisa. Contra mim falo, claro…. está nos nossos genes ser assim. Logo, os museus ficariam abarrotados e, possivelmente, ninguém contribuiria com ajuda nenhuma, ou pouca, porque iria considerar que não é nenhuma obrigatoriedade. Portanto, refiro-me a uma questão de mentalidade do nosso povo e da nossa maneira de ser e de estar. Meus amigos, se uma ideia como estas fosse para a frente teríamos que pensar e ter consciência do que se está a fazer.

É certo que a gratuitidade é boa mas, só é possível se os museus, os espolíos, os equipamentos, recursos humanos e muitas outras engrenagens que fazem um museu funcionar, estejam operacionais, e só estão se nós, cidadãos comuns, também fizermos a nossa parte que é tão simplesmente ajudar e contribuir de alguma forma. Caso contrário, não há gratuitidade para ninguém e, pior ainda, não há museus. Logo, não há cultura para preservar.

É muito importante, para mim, conservar o que faz de nós Portugueses, ou pelo menos ajudar a cuidar e de manter, para que possamos explicar e mostrar aos nossos filhos e netos, aquilo que o nosso país e os nossos avós conseguiram alcançar e que feitos conquistaram. Orgulharmo-nos do bom e aprender com o mau. E é neste sentido, que lancei esta minha proposta e que vos escrevi hoje, neste tom de desabafo, mas também de uma sugestão cultural. Incentivem-se a vós mesmos e os mais pequenos a interessarem-se pela nossa cultura. Visitem os nossos museus, os nossos palácios, os nossos monumentos. Eles não são meramente efeitos de decoração. Podemos aprender muito com eles. Basta olhar com atenção e interpretar as pistas que estão à frente dos nossos olhos.

Despeço-me, assim, de vós, caríssimos leitores. Boas leituras e bons passeios!

Lisboa agradece!