Uma maçã perfeita – Laura Paiva

Há dias em que odeio o comércio tradicional.

Talvez seja porque não tenho um horário que me permita ir a uma loja quando preciso mesmo de comprar um presente inesperado ou algo urgente. Reclamam a existência das grandes superfícies mas empurram-nos para lá.

Também não ajuda nadinha entrar numa loja e não ter a atenção de nenhum funcionário. Já entrei numa loja, completamente deserta de clientes, com três funcionárias à conversa sobre algo tão prioritário e importante que nem notaram a minha presença.
Entrei, percorri a área, não encontrei o que procurava e saí, pois nem sequer tive vontade de interromper tão amena cavaqueira.

Presenciar altercações entre funcionários, diverte-me. À frente dos clientes, são um excelente cartão de visita.
Ser atendido por alguém que mostra o quanto sofre, quer por ser mal remunerado quer por não ter o emprego dos seus sonhos, faz-me bradar aos céus.

Entrei num cabeleireiro e fui recebida por um “o que vai ser?” vindo de alguém que nem se dignou sequer a cumprimentar-me ou tão pouco olhar para mim – claro que a vontade foi responder “Um café, por favor” mas optei por vir embora!

É claro que existem excelentes profissionais, dedicados e dotados (e esses que me perdoem a generalização) mas, estranhamente, teimamos em fixar as más experiências.

Mas, lá vem um dia em que as esqueço.

Esta semana, à porta de uma pequena mercearia, enamorei-me de uma maçã. Não era uma maçã qualquer… Era linda – vermelha, luzidia e parecia mesmo dizer-me “come-me que sou deliciosa!”

Não resisti à súplica, apanhei-a e entrei na loja com a maçã na mão. Deparei-me um senhor, talvez na casa dos setenta anos, cuja expressão revelava um não sei o quê de doce, tal como eu esperava da maçã à qual estaria a espetar o dente daí a nada.

Desculpei-me com o facto de levar apenas aquela maçã mas a ideia era comê-la já. Sempre com um sorriso na face e sem que eu me apercebesse, o doce senhor entregou-me a maçã já lavada – Espero que lhe saiba muito bem…

E soube mesmo – das melhores maçãs que me lembro de alguma vez ter comido!
A cada dentada, um sabor perfeito e uma doçura que me saciou o apetite.
Bem-haja a quem tem a amabilidade, a cortesia e a atenção que nos faz querer voltar… sempre!

 


Crónica de Laura Paiva
O mundo por estes olhos