Uma mulher prevenida, vale por duas!

As mulheres são seres que se conseguem metamorfosear com uma capacidade surreal de meter inveja até ao grande Hulk — o boneco verde que, assim que se enerva, deixa de ser humano para ser uma espécie de Arnold Schwarzenegger nos idos tempos de filmes como “Commando” ou “Predator”, em que ele era uma besta assassina num corpo repleto de músculos em sítios que, para mim — que era apenas umas simples criança nos tempos de “Commando” ou “Predator” —, achava que não existiam. Só lhe faltava ser verde — coisa que eu ficava, sempre que via Arnold a aviar porrada da boa no Predator (Porque o Predator, para mim, naquela altura, é que era o bom da fita. Eu queria era ver o Predador a aviar porrada da boa em toda a gente, e não o contrário, caramba…).

Voltando às mulheres. Sim, elas são uma raça que têm a capacidade de alterar várias coisas na sua vida — mais propriamente, no seu visual —, precisando para isso de andarem sempre carregadas com os seus mais fieis amigos. Falo, obviamente, dos seus packs de maquilhagem ou peças de vestuário. Faça chuva, ou faça sol, elas saem de casa sempre preparadas para qualquer eventualidade, fazendo jus ao provérbio “Uma mulher prevenida, vale por duas!”.

Mas elas esquecem-se de um pequeno pormenor. Nós, os homens, somos absolutamente o oposto. Nós somos uma raça pragmática. Por norma, o homem gosta de andar liberto. Sem nenhum tipo de item que o atrase. Que mace os seus queridos ossinhos. Por isso, sempre que o homem sai de casa para ir a algum lado, não se preocupa em trazer um casaco porque pode estar frio, ou então a embalagem de gel para o cabelo, não vá o caso de o tempo estar ventoso e despentear o penteado que demorou cerca de vinte segundos a elaborar em frente ao espelho.

Mas quando estamos numa relação, as coisas tendem a alterar-se um pouco. E porquê? Porque, as mulheres, para além de terem elas próprias a capacidade de se metamorfosear num ápice, ainda querem incutir essa habilidade feminina às suas caras-metades — os homens. E isso gera confusão. E a confusão gera discórdia. E a discórdia gera valentes discussões. E valentes discussões acabam por terminar em duas situações; em divórcio, ou então em noites de sexo louco como desculpa para fazerem as pazes. Ou, no meu caso — em que estou numa relação vai já para catorze anos —, em concordância. Ou melhor: em resignação. (Porque, depois de catorze anos de namoro, a resignação passa a superar a opção “noite de sexo louco para fazer as pazes”.) Mas, como homem que sou, tenho de tentar defender a minha raça até ao final, até não conseguir mais e atirar a toalha ao chão. Então, normalmente, o que se passa comigo é o seguinte:

Eu: Mor, vá, vamos embora. Já estamos atrasados!

Ela: Sim, estou quase! Olha, achas que vai chover?

Eu: Eu sei lá. Não sou o São Pedro, e nem trabalho no IPMA.

Ela: Oh pá, é que agora não se hei-de levar as sandálias, os chinelos ou os sapatos. Está calor, disso tenho a perfeita noção, e a minha vontade é levar os chinelos para ir à vontade, mas e se depois chove?

Eu: Eh pá, não chove nada! Vai de chinelos!

Ela: Sim, acho que é melhor. Mas vou levar os sapatos num saco. Guardas no carro, e se for preciso vou buscar…

Eu: Eh pá, não sejas totó! Chove lá agora… Deixa-te lá disso, pá!

Ela: Hum… Acho que é melhor levar o casaco, também. Não vá o tempo mudar mesmo e ficar frio…

Eu: Eh pá, mas qual frio?! Está uma brasa do camandro! Anda-te mas é embora! Estamos super atrasados!

Ela: Sim, vou já. Olha… Achas que não chove?

Eu: Ó mor, porra… Estão pra aí uns 30 graus, pá! Vai lá agora chover!

Ela: Oh, pode chover! No Brasil, com 30 graus, costuma chover. O melhor é levar o chapéu-de-chuva. Não vá o Diabo tecê-las…

Eu (pensando alto): Um bom Diabo pareces-me tu…

Ela: O quê, mor? Disseste alguma coisa? Ah, o melhor é levar também um par de meias. Não vá ter frio nos pés…

Eu: Eh pá, traz lá essa porcaria toda! Não vais usar nada disso, mas tudo bem. Vocês, mulheres, são assim. Vocês deviam ser mais como nós, os homens. Ou seja, mais pragmáticos. Mas, enfim, o que fazer…

Ela: Não sejas parvo. Falas, falas, falas… mas depois comentas sempre que devias ter trazido um casaco ou um par de sapatos de reserva no carro.

Eu: Ok, ok… É como quiseres. Eu só quero é ir-me embora!

Ela: Pronto, já estou despachada. Vamos?

Eu: Vamos! Finalmente, porra!

(À chegada ao carro, eu abro o porta-bagagens para colocar o mega saco com três mudas de roupa dela, e eis que…)

Ela: Olha, que mochila é essa?

Eu: Qual?

Ela: Essa que está no porta-bagagens…

Eu: Ah, esta… Hum… Então… Hum… é uma… Porra, é uma muda de roupa para mim! Para ver se deixas de me chatear a cabeça sempre que saímos de casa!

Ela: Pois, pois… Parece que afinal já aprendeste… Porque, já sabes…

Eu/Ela (em uníssono): “…uma mulher prevenida vale sempre por duas!”

Eu: Raios…

Ela: Ah, pois é…

Isto é que é uma “Vida de Cão”, hem…