Uma “onda” a todas as prostitutas de Portugal! – Ricardo Espada

Olhando para o título, constato que acabei de fazer asneira. E porquê? Porque qualquer que seja o conteúdo da crónica de hoje, o leitor, olhando para o título, vai inevitavelmente pensar: “Olha-me este… A louvar as prostitutas de Portugal… Pois, pois… muito me contas… Deves ser pouco fresco, deves…” Por mais respeito que eu tenha por esta profissão, eu confesso que… que… NUNCA usufruí dos serviços destas profissionais do sexo. Nunca! Nunca… Nunca, hem! Mesmo, nunca… Bom, adiante… que já tenho a minha namorada a interrogar-me com que veracidade eu afirmo que nunca usufruí dos serviços destas profissionais do sexo.

De uma forma bastante dúbia, há quem afirme que é a profissão mais antiga do mundo. Bom, sinceramente, isso não me interessa muito. Mas que é uma das profissões mais descriminadas, lá isso é de certeza absoluta. Quando se fala em “prostitutas”, o riso, a chacota e o gozo (Vá, não se meta com pensamentos badalhocos, ó leitor…), surgem em primeiro plano. Mas e o respeito? Onde está o respeito por esta classe trabalhadora? Para não falar do reconhecimento? Onde é que está o reconhecimento pelo trabalho destas profissionais do sexo? Não está, não é? Pois, pois…

Há quem afirme que as “senhoras da vida”, só querem é mamar (Pronto, lá vem a badalhoquice fortuita a fervilhar na sua mente, não é ó leitor? Vá, deixe-se disso… Quando digo “mamar”, é apenas no sentido metafórico da palavra. Ou seja, elas passam o ano inteiro a “mamar” o dinheiro aos seus clientes. Vá, deixe-se lá dessas coisas, leitor depravado…), mas esquece-se do que elas sofrem diariamente – e não estou a referir-me aos tarados que lhes passam, diariamente, pelas mãos… e não só, pelas mãos…

Vou dar o exemplo de uma zona perto da minha habitação, onde existe uma estrada nacional que une duas localidades, onde essas profissionais do sexo costumam laborar. Peço desculpa pelo o que vem a seguir, mas não tenho outra forma de o dizer… Esta estrada nacional, liga a localidade de Coina à localidade de Fernão Ferro. (É Coina, leitor… Pare lá com isso, está bom?) Esta estrada nacional, há muitos anos que passou a ser intitulada como – e peço, sinceramente, imensa desculpa pela linguagem que se segue, mas não há outra forma de o dizer… – a “Estrada das Putas”. As prostitutas que lá laboram, passam dias inteiros à beira da estrada, a ver os carros circular, sendo alvo de inúmeras buzinadelas de gentalha que não respeita o seu trabalho (Mas que, se não fosse talvez a vergonha, certamente gostariam de trocar uns poucos euros, em troca de uns voluptuosos serviços…). Faça chuva, ou faça sol, elas estão sempre lá, prontas a satisfazer os seus clientes das mais variadas formas. Elas são obrigadas a trabalhar em condições desumanas, e nunca são vistas a queixarem-se, durante as suas horas de árdua labuta de fornecimento de prazer – muitas das vezes, por estarem demasiado ocupadas, não conseguindo gesticular uma palavra que seja (Agora sim, pode puxar pela sua imaginação, caro leitor…)!

Agora, já não chega terem de trabalhar debaixo de condições climatéricas adversas – e, por vezes, em situações de risco de saúde! – ainda têm de prestar contas ao seu patrão: o “Chulo”. O que eu acho, simplesmente, lamentável. E alguém deveria colocar os olhos nisto, e criar um sindicato qualquer que ajudasse estas profissionais do sexo a livrarem-se dos seus “Chulos”… Elas não merecem que, depois de ganharem o seu dinheirinho com o seu corpinho, tenham depois de entregar uma cota parte dos rendimentos aos seus “Chulos”. E em troca de quê? Diz que é de protecção… Protecção? Mas que tipo de protecção? Ah, já sei. São os chulos que fornecem os preservativos, pílulas e outros utensílios para a prática da profissão, às suas protegidas. Deverá ser isso, certo…?

Uma coisa eu garanto, amigo leitor, eu não era capaz de exercer a minha função de trabalhador debaixo destas condições. Com chulos a controlarem-me os meus rendimentos… Ah, espere… Constato agora que, lamentavelmente e ironicamente, todos nós temos os nossos chulos: o Governo! Todos nós trabalhamos durante o ano inteiro (Quem é engraxador, e consegue assim ter um emprego hoje em dia…), para depois entregarmos o nosso dinheiro a esse grande CHULO, que é o governo português. Aliás, o governo é tão, mas tão CHULO, que não somos nós a entregar-lhe o dinheirinho, mas sim, é ele que se apropria dele sem dó nem piedade.

Posso então afirmar que, infelizmente – e com total respeito pela profissão! –, todos nós, trabalhadores, somos umas autênticas “prostitutas”com direito ao seu “Chulo”, e tudo… A classe! A classe…

Até para a semana, malta catita…

 


RicardoEspadaLogoCrónica de Ricardo Espada
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