Uma questão de respeito – Laura Paiva

Quem procura emprego sabe que deve cumprir determinadas regras, quer nas respostas aos anúncios, quer nas entrevistas. Não faltam portais que nos ensinam, guiam e ajudam – é só uma questão de pesquisa.

O Instituto de Emprego e Formação Profissional disponibiliza, à laia de brincadeira, um jogo para que possamos ter a real noção de como nos comportamos na procura de emprego: http://portal.iefp.pt/cdrom/game.swf

Obtive 39 pontos e a seguinte mensagem:

“Parabéns! Está pronto para se dedicar a este trabalho que é…procurar emprego! E sabe que mais? Será bem-sucedido pois conhece-se a si próprio; conhece o mercado de trabalho, onde e como procurar emprego; domina as técnicas de procura de emprego, sabe analisar e responder a um anúncio, sabe o que é uma candidatura espontânea e poderá fazer, com toda a certeza, um currículo à sua altura. Saberá ainda como actuar numa entrevista…”

Mas, sendo assim, não deveria já estar empregada? Começo a considerar incluir o resultado deste jogo no meu portefólio… alguém terá de me dar créditos por isto!

O curriculum vitae deve ser apresentado num determinado formato, consoante a actividade e o percurso profissional, devendo ser dada especial atenção à simplicidade e coerência até no tipo de letra e fonte utilizados. A carta ou e-mail de apresentação (uma obrigatoriedade) obedece a um número exorbitante de regras às quais temos necessariamente de dar atenção pois trata-se do documento que deverá levar o empregador a interessar-se pela nossa candidatura – é o nosso cartão de visita. Nas entrevistas há que ter cuidado na escolha da indumentária (especialmente as senhoras) sendo essencial uma preparação prévia – conhecer o historial da empresa, se possível com elogios à mistura, antecipar as respostas às questões que poderão ser colocadas, ter uma justificação plausível para qualquer falha, evitar colocar determinado tipo de questões (por muito pertinentes que sejam) e talvez uma das mais importantes, ser pontual.

Até aqui, não vejo que venha mal ao Mundo por actuar seguindo estas e muitas outras regras.

E o empregador? Não deveriam existir regras para os empregadores?

Não deveriam eles saber que é de muito mau tom colocar anúncios enganosos? Pedem alhos quando pretendem bugalhos e ainda fazem propostas indecentes.

Não dedicam um minuto do seu tempo a ler o curriculum. Não se mostram minimamente interessados na entrevista, que nos concedem com um atraso monumental e sem remorso.

Finda a selecção, não há uma palavra aos não escolhidos – seria pedir muito duas linhas a dar conta que a escolha recaiu noutro candidato?

Como se o nosso tempo e dedicação fossem descartáveis e nós, seres miseráveis e parasitas da sociedade, não fossemos merecedores de qualquer respeito.


Crónica de Laura Paiva
O mundo por estes olhos