União Europeia: Encruzilhada ou princípio do fim?

Numa altura em que se aproximam as eleições Europeias, merece a pena fazer um balanço sobre o  momento em que a União Europeia se encontra, e assim tentar perceber qual o caminho que será seguido por uma Europa que já teve dias bem  melhores.

No entanto, antes de passar à chamada nata Europeia,  contemplemos este belo rectângulo à beira-mar plantado. Cá no  burgo, sucedem-se os discursos triunfalistas de membros do Governo sobre a mais-que-famosa saída limpa, mas a verdade é que esta discussão (sobre quão ‘limpa’ terá sido a dita cuja) é apenas semântica. Importante seria mesmo tentar perceber porque é que Portugal está assim tão melhor do que estava antes da  Troika, tendo em conta que pouco ou nada  mudou a nível estrutural no aparelho de Estado, e que a dívida pública, que em teoria obrigou a esta intervenção, aumentou largamente.

De qualquer forma, esta questão pouca influência terá nos resultados das eleições para o Parlamento Europeu, já que a quase inexistência de debate e de pensamento político europeu  no espectro das forças político-partidárias em Portugal, transforma esta campanha num concurso de popularidade onde os integrantes das 16 listas em jogo se vão limitar, quase em exclusivo, a trocar acusações.

Senão olhemos com um pouco mais de atenção. A Aliança Portugal, nome oficial da coligação PSD/PP para estas Europeias, cujo programa eleitoral (se é que se pode apelidar de tal) foi organizado em 101 pontos em forma de Tweets, genéricos e sem conteúdo, é liderada por Paulo Rangel e Nuno Melo, e tem como  única missão evitar o descalabro e assegurar a sobrevivência do actual governo e sua política.

Mais à esquerda, a lista do PS, encabeçada por Francisco Assis, vai dar tudo para ajudar a derrubar o Governo, mas acabará por ser penalizada pela falta de ‘Factor X’ de António Seguro, enquanto a ausência de uma liderança forte no Bloco de Esquerda agudizará a queda que já se verificou nas últimas eleições autárquicas.

Dos partidos com representação parlamentar sobra a CDU (coligação entre PCP e Partido Ecologista Os Verdes), que pelo simples facto de afirmar com clareza ao que vai, já é revolucionária, característica esta que se acentua se considerarmos que as suas propostas incluem um referendo para a saída do Euro e um total redireccionamento das políticas, estruturas e objectivos da UE. No entanto, o espírito reaccionário comunista permanece intacto, revelando todo o seu esplendor no rol de acusações aos três partidos que formaram Governo em Portugal desde o 25 de Abril, rol esse que perfaz quase dois terços da sua declaração programática. Ainda assim, e atentando no panorama político actual, o PCP arrisca–se a ser novamente (e depois das últimas Autárquicas) o verdadeiro vencedor destas eleições para o Parlamento Europeu, deixando Governo e PS num limbo até às legislativas e Bloco de Esquerda com uma importância terciária.

No plano Europeu, as coisas são um pouco diferentes. Apesar das dúvidas que assolam esta União e que surgiram muito por causa das crises económicas dos países periféricos, a hemorragia parece estar a ser estancada pela mão dos seus grandes bastiões. Em Espanha, o PP de Rajoy sobreviveu a alguns escândalos de corrupção e continua de pedra e cal. Na Alemanha, a coligação do SPD com os conservadores do CDU/CSU, assegurou a manutenção da política de Merkel e consequentemente a continuação do reinado da austeridade externa. Em França, Hollande não conseguiu conduzir os destinos do seu país como conduziu tantas vezes a sua scooter, e acabou por espatifar as esperanças da existência de um governo de esquerda no eixo franco-alemão. As consequências do falhanço de Hollande não ficam por aqui, tendo feito renascer o fantasma Le Pen, na versão mais polida da sua filha Marine. Em Itália o mesmo cenário, Matteo Renzi tornou-se Primeiro-Ministro e traz consigo estabilidade muito necessária à União Europeia.

Por outro lado, nos países que sofreram intervenção externa para além de Portugal, as tendências não são as mesmas. A Irlanda parece querer girar à esquerda, e o Sinn Fein lidera as principais sondagens para as eleições do Parlamento Europeu. Já na Grécia, o Synaspismós Rizospastikís Aristerás, mais conhecido pelo seu acrónimo SYRIZA, uma coligação da esquerda radical, irá certamente obter um resultado histórico nestas eleições.

Como se percebe facilmente, a estabilidade que a União Europeia necessita na antecâmara daquela que será uma das suas mais importantes eleições de sempre, advém do estanque político dos Estados Membros com maior peso nesta União. Além disso, a  baixa de juros em todos os países periféricos veio criar uma conjuntura ainda mais favorável a um sistema que não se vê de forma alguma ameaçado, muito por falta de um verdadeiro confronto ideológico.

No entanto, os poucos focos de possível instabilidade política que referi acima, assim como os agrestes ventos de Leste, poderão criar uma instabilidade nos mercados e nas sociedades que faça emergir actores políticos mais radicais, colocando em risco a própria existência da União. Deste modo, a gestão do conflito entre Rússia e Ucrânia será um dos grandes desafios imediatos da União, um dossier que tem sido muito mal gerido pela UE e que por força do peso da Rússia nas grandes economias europeias (nomeadamente devido ao controlo Russo das rotas energéticas) poderá ser decisivo na resolução da dialéctica que apresentei e assim obter resposta à pergunta que dá nome a esta crónica.

henrique_dores_logoCrónica de Henrique Dores
Teoria do Caos