O enigma dos guarda-chuvas…

Por mais estranho e absurdo que possa parecer ao leitor, eu vou mesmo enveredar pelo «estranho mundo dos guarda-chuvas»… Tenho plena consciência que até já ajustámos os relógios para a hora de verão, mas com o maravilhoso tempo de primavera que se tem sentido nos últimos dias, eu não resisto em abordar este tema agora – porque eu gosto de ser diferente, e abordar os temas fora da sua época faz parte dessa tonalidade de «tentar ser diferente».

Desde petiz que pertenço à classe de pessoas que se recusam a usar o guarda-chuva quando chove. Não sei bem o porquê, mas sempre tive a absurda ideia de que isso era estúpido. Passar um inverno inteiro de guarda-chuva na mão, para mim, isso significava a «não sucesso com as miúdas»! Agora, tardiamente, constato que a «coisa» até deveria ter funcionado ao contrário. Possuir um guarda-chuva nos tempos de petiz, poderia ter sido um triunfo valioso para «resgatar» miúdas aos garanhões da escola – com a desculpa de que, se estava a chover, eu poderia fornecer uma boleia à menina que mais me aquecesse o coração na altura, para que ela não molhasse o seu cabelo esbelto e tão bem tratado (O que se vinha sempre a constatar o contrário, porque no meu tempo de petiz as miúdas queriam lá saber do cabelo… Se molhou, fica molhado e pronto…).

Agora, que caminho a passos largos para a idade da reforma, não consigo dispensar um bom guarda-chuva nos dias em que São Pedro parece estar aborrecido com o mundo, e desata a descarregar baldes e baldes de água cá para baixo. Ou é isso, ou então tenho uma outra teoria que até me parece mais válida: o São Pedro vai à casa-de-banho fazer necessidade número 1, depois lava as mãos e acaba por esquecer-se de fechar a torneira. E a malta cá em baixo é que tem de aturar a sua irresponsabilidade. Se ele pagasse a água que gasta durante o inverno, tenho a certeza que nunca se esqueceria de fechar o raça da torneira.

Mas existe algo que me aborrece quando tenho de usar um guarda-chuva: o facto de, depois destes anos todos, ainda continuar a ser um verdadeiro leigo no que respeita ao uso do guarda-chuva. Por mais que eu tente acertar com o seu uso de uma forma correcta, acabo sempre por chegar a casa completamente encharcado (Também podia ser considerado como simples estupidez, mas leigo parece-me mais adequado…).

Por mais que tente abordar várias técnicas, nunca consigo acertar com a forma mais correcta de proteger-me da chuva. Se inclino ligeiramente o guarda-chuva para a frente, molho as costas. Se o faço para trás, encharco a cara. Se o inclino para o lado direito, o meu lado esquerdo acaba ensopado. E se o inclino para o lado esquerdo, torna-se somente estúpido porque esse lado já está molhado e acabo com o lado direito igualmente ensopado – o que era desnecessário.

A meu ver, todos os guarda-chuvas deveriam trazer um pequeno manual de instruções para que o pudéssemos usar correctamente, sem acabar com uma parte do corpo completamente encharcada como se, por alma de Deus nosso senhor, tivéssemos decidido atirarmo-nos para dentro de uma poça de água. Mas, lamentavelmente, essa é uma das grandes falhas da humanidade – a falta de um raio de um manual de instruções.

Antes que o caro leitor decida assaltar a secção de comentários desta crónica com as instruções básicas de como usar correctamente um guarda-chuva, deixe-me dizer-lhe que não vale a pena e que só irá perder o seu tempo. Pois já as usei todas, e obtive sempre o mesmo resultado: en-char-ca-do da cabeça aos pés. E mesmo que decida insistir em aconselhar-me, afirmando «Ó meu calmeirão desajeitado, o truque é verificar como caem as pingas da chuva, para depois colocar o guarda-chuva na inclinação correcta!», aviso-o desde já que não sou nenhum tarado para perder o meu tempo precioso a observar como a chuva cai. Sou apenas um simples – e bastante leigo! – cidadão que apenas pede para que o raça do guarda-chuva faça o seu trabalho. Que execute com naturalidade, aquilo para que foi criado: proteger as pessoas da chuva! O que lamentavelmente, não se verifica. E alguém deveria fazer algo em relação a esse flagelo da sociedade.

Para não falar na luta desleal que travamos contra o vento, sempre que usamos um guarda-chuva. Entre o tentar evitar que o maléfico vento nos vire o guarda-chuva de pernas para o ar, e a tentativa frustrada de evitar que nos molhemos, acabamos sempre por ficar sem guarda-chuva e completamente encharcados da cabeça aos pés – o que, convenhamos, é cá de uma estupidez mórbida, que até me dá comichões só de pensar nisso. Era pegar em todos os guarda-chuvas, encostá-los a uma parede e… e… e… Olha, que estranho… Esqueci-me… Se calhar ia dizer: abri-los porque pode estar a chover. Ou qualquer coisa do género… Sei lá…

Até para a semana, malta catita…


RicardoEspadaLogoCrónica de Ricardo Espada
Graças a Dois
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