Vamos “fuxicar”? – Fátima Ramos

Vamos pois!…
No passado domingo fui até à FIARTIL, na sua 49ª edição, no Estoril. Gostei, está com uma disposição diferente.
Não gostei, de alguns stands com artigos que não percebi bem do que tratavam. Estavam próximo da entrada, do lado esquerdo. Confesso que visualmente, nada tinham de apelativo e em minha opinião, destoavam de tudo o resto. Um pouco mais à frente, num outro stand, duas artesãs estavam em amena cavaqueira.Tinham um cesto cheio de flores de “fuxico”. Simpáticas e com sotaque brasileiro. Perguntei sorrindo, “estão a fuxicar?- riram-se e, eu explico porquê.
Ora, o “fuxico” é uma técnica artesanal de reaproveitamento de sobras de tecidos. Pequenas trouxinhas franzidas e geométricas, com um toque de exclusivo e pessoal. Alguns pesquisadores publicaram que o “fuxico” tem a sua origem no início do século XVIII, período do Brasil escravo. Naquela época, não existiam fábricas de tecidos no Brasil. Ia tudo já confeccionado, em particular de Portugal, França e também da Índia. Tecidos finos, rendas francesas chegavam de navio. Nessa altura as roupas velhas eram de imediato postas de lado e doadas, aos escravos que com elas confeccionavam essas tais trouxinhas. À noite, as escravas reunidas falavam mal das patroas (fofocavam) e por este facto, tão curioso, é que as trouxinhas ganharam o nome de “mexerico”, hoje o tradicional e conhecido “FUXICO”. (pesquina de C. Moreno)
Esta arte, muito utilizada pelas nossas artesãs, permite confeccionar vários tipos de peças, desde artigos para decoração ao vestuário.
Esta semana, temos mais uma convidada.
Maria Isaura Sousa, autora do blog http://myaideia.blogspot.pt/ reside em Espinho. Hoje com 42 anos, conta-nos o que a levou até ao artesanato.
Em criança, gostava de brincar com pedaços de tecido. Aos doze anos, depois de concluir o ciclo, foi trabalhar para uma alfaiataria, diz: ”aprendi a fazer calças e todo o vestuário de senhora.”
Por volta dessa idade, a sua irmã mais velha ensinou-lhe crochet e tricot.
Acrescenta: “a minha mãe fazia tapetes de Arraiolos, eu aos nove anos, já sabia fazer o ponto, mas foi aos treze que aprendi a executar um tapete, do princípio ao fim”.
Aos vinte anos, começou a trabalhar por conta própria como costureira, alternando sempre que podia com o crochet.
O seu vício são revistas de trabalhos manuais, a sua paixão linhas e tecidos.
Conta-nos que: “o trabalho como costureira, diminuiu muito quando surgiu o mercado chinês em Portugal. Como não gosto de ficar parada, comecei a fazer trabalhos em crochet para vender. Inicialmente vendia para a loja de uma amiga”.
Apaixonada por experimentar coisas novas, confidenciou: “comecei a fazer em crochet o que fazia em tecido, bolsas, porta-moedas, porta-chaves e flores. Tenho o cuidado de não copiar o trabalho das outras artesãs, inspiro-me no que vejo em revistas ou na internet, outras vezes em simples figuras geométricas”.
Participa na mostra de artesanato urbano da esplanada de Espinho, durante o verão.
A bijouterie e as bonecas também em crochet, são um atractivo e termina dizendo: “Dá-me um prazer imenso saber que os meus trabalhos vão para o estrangeiro, em particular Espanha, ouvir os elogios, saber que aquilo que comecei a fazer por brincadeira, hoje é um trabalho levado a sério. Espero um dia poder fazer do artesanato, o meu trabalho principal”.
Semanalmente outros casos com igual, mais ou menos sucesso, o que importa é ler e ouvir “A Voz do Artesão”.

Crónica de Fátima Ramos
A voz do artesão