O Verão de um Fraco Playboy

Eu já vos expliquei toda a história de eu não ser um Playboy. Tenho uma capacidade crónica de parecer um e não ter os louros disso. Mas, a verdade é que eu também me ponho a jeito para que me chamem tudo isto.

Desde há um par de semanas a esta parte, tenho trabalhado num bar de um grande amigo meu e todos sabemos o quanto pode ser difícil trabalhar com amigos, mas quando a amizade que nos une é maior do que a soma de todos nós, então aí trabalhar com eles é o mais fácil que há. O Dali, bar onde trabalho, é o bar da moda neste verão em Santa Cruz. As noites começam ao pôr do sol, e só acabam quando ele já lá está bem em cima. A noite no Dali faz lembrar os quadros do homónimo louco. Surreais!

O surreal aconteceu há uns dias atrás. O meu amigo David diz-me que uma amiga dele e uma amiga da amiga vêm ao bar. Vieram de Lisboa e, por isso, quando chegassem ele ia atende-las e pôr a conversa em dia. Por mim tudo bem. Sabia que uma se chamava Sara, mas nada mais. Mal as vi nesse dia! Quer dizer, vi… Só não tinha nada a ligar-me a elas. Nada que me fizesse falar com elas. Sempre que queriam alguma coisa era ao meu amigo que pediam e no meio de tudo, ainda passaram pelo festival de música que decorreu durante esta semana na minha terra. Ou seja, eu literalmente não tinha o mínimo de interesse em falar com elas.

No dia seguinte, o meu companheiro nesta história tinha ido trabalhar para outro lado. Isto significava que eu ia ficar com outra miúda, a Daniela, no bar. Até que voltam a entrar essas duas miúdas no bar. Sentam-se numa mesa, perguntam pelo David, ao que eu respondi que não estava e da Sara vem a seguinte pergunta:  “São irmãos?”. Não podia ter tido mais vontade de rir. Uma miúda, com um metro e sete dezenas de centímetros, sardas na cara e nas costas das mãos, olhos pequenos e delicados, um sorriso fino, abre a boca e pergunta se eu e o David somos irmãos. Ora só faltava o David ser louro para ser mais diferente que eu. Há uma quinzena de cem-avos de metro a separar a nossa altura, eu sendo o mais alto, fiquei com a fava de ser careca, ele sendo o mais baixo com a sorte de ter realmente piada. E aquela rapariga de sardas, a Sara, conseguiu, sem saber como, pôr-me a rir a noite toda a pensar que eu e o David podíamos ser irmãos.

No dia seguinte não podia faltar. Mal elas chegam, chamo o David e temos a primeira conversa a quatro. “Mano, ela acha que somos irmãos! Ahahahahahah” Foi isto que se ouviu logo desde início: risos. Provavelmente aquilo que marca todo início e reencontro de amizades neste grupo. Passamos metade do tempo a rir, a outra metade a sorrir. Vieram as apresentações da praxe. Afinal a amiga da Sara tinha nome. Nome, um metro e setenta, também ela. No lugar das sardas da Sara, há o sorriso da Catarina. Estamos a falar que cada uma delas é de parar o trânsito, as duas… É de parar o Bar. E assim foi! Durante horas falamos, rimos, jogamos ao “Eu Nunca” e nas horas vagas atendíamos os dois ou três clientes que foram passando até às três da manhã, daquele dia de semana. A partir das 3 a história era diferente: o bar estava ao barrote e aquelas duas raparigas que o pararam, já se tinham ido embora.

13664644_10201934584881634_820345165_n

Assim foi durante uns poucos dias. Quatro dias a aturá-las e vice-versa. Digo poucos dias porque foram realmente poucos. Praia, cafés, cervejas e cidras faziam as vezes das horas de sono. Elas não têm culpa que nós sejamos vampiros e nós não temos culpa que elas sejam um bom motivo para acordar cedo. O conjunto de situações que um “Vocês são irmãos?” originou é completamente surreal. Elas, meninas de Lisboa, vivem o paradigma daquilo que chamamos Betos. Roupa simples, pouco álcool, gostam de Agir. Nós, um par de bêbedos que trabalha à noite. Elas acabaram um dia a dançar em cima do balcão. Nós acabamos uma noite a tomar o pequeno almoço com elas. Mas o que é bom acaba rápido!

“Quando vão embora?” “Sábado ao fim do dia…” Foram talvez as piores 5 palavras, que ouvimos durante esta semana, este verão. “Mas estamos a pensar em voltar!” “Quando?!” “Por mim, já segunda”, 15 segundos depois das piores cinco palavras do Verão, vem a melhor declaração de intenções possível. Elas não tinham tido intenção de nos marcar o verão, nós não tínhamos intenção de tomar o pequeno-almoço com elas, mas sem querer as coisas foram acontecendo. As milhentas e tal fotografias que temos, já só servem para nos lembrar que falta pouco até elas voltarem. No Facebook, o grupo de conversa que temos, nunca para de dar plins,  As mensagens com a Catarina, são ao minuto. As piadas da Sara, são constantes. E as saudades de as ver já são demasiadas.

No Sábado, elas estavam estranhamente conimbrigenses. Ainda mais bonitas na hora da despedida. Meia hora depois já estávamos a combinar um reencontro. E meus amigos, esta história não a acabo hoje. Amanhã tenho de ir para Lisboa ter com elas e depois logo vemos. Mas algo me diz que estas duas, ainda me vão dar pano para mangas. Afinal, até um Fraco Playboy no Verão, pode ter uma história feliz.