A verdade da Metamorfose

E mais uma vez, é rodeada de vencedoras que deixo um novo paradigma entrar na minha cabeça de quase-certezas e quase-verdades, quase-dúvidas e quase-quases.

A minha costela de mulher esteve adormecida e tinha-me esquecido de como somos fortes e determinadas, de como lutamos de punhos no ar e pontapeamos a vida quando ela nos lixa. É um karma estar em lutas constantes… terei sido eu uma prostituta barata que roubava os seus clientes, uma homicida de crianças ou uma vigária que deixou uma cidade inteira na penúria, para merecer tantas voltas e trambolhões nesta vida presente?

Após lamber as feridas com ar de derrota, olhei ao espelho e vi a minha primeira ruga proveniente dos recentes 30 anos que me bateram à porta de mansinho…e lá estava eu cheia de cicatrizes e mudanças de direcção, cheias de nódoas e calos nos mindinhos, de unhas partidas e lágrimas secas.

Por um instante, olhei bem no meio da “menina-dos-olhos” e vagueei por outros corpos e outras mentes, por mulheres que trago em mim e pedaços de vida que apesar de não serem meus, trago no bolso em SOS.

E lá estavam elas, as mulheres da minha vida.

Em segundos transportei-me a 1980, ano em que a minha avó agrediu uma cunhada por injúrias prejudiciais ao seu casamento com o meu Avô…hoje, continuam juntos e felizes.

Passei por 1985, ano em que a minha Mãe me deu à luz, no meio de tanto preconceito pela idade tenra que tinha, por casamentos impostos e sociedades vendadas, mecânicas.

Hoje, a minha Mãe é divorciada, vivemos juntas e ela está bem.

No caminho, dei uma olhada nas minhas Princesas, companheiras de luta e de histórias de (des)encanto, cúmplices de guerra e de choros acompanhados de gargalhadas, momentos de uma intensidade indescritível em palavras, apenas sentida e vivida como se nada mais existisse no coração de uma menina magoada.

E aí voltei a mim, e à minha primeira ruga…suspirei e chorei de alívio. Porque eu continuava eu; e nada nem nenhum daqueles trambolhões me tinha roubado de mim.

Claro que as mudanças se dão pelo caminho, mas a essência de quem sonhava com o outro lado do Mundo estava mesmo ali, ao lado da menina do olho, naquela ruga que gritava o quanto eu ainda tinha para dar ao Mundo, o quanto eu aprendi a ser uma Princesa, e o quanto eu fiz de Gata Borralheira para lá chegar.

E em fase de mudança como a presente, só posso ser grata às minhas vontades que não cessam, de mudar o Mundo, abraçar causas, caminhar na praia, amar os meus e ser fiel ao que sinto durante o percurso…pois no dia em que ele me parecer desprovido de emoção, está novamente na altura de mudar.

E que nem Pocahontas, fico bem na minha selva cheia de bichos e árvores trepadas, cheia de dias ensolarados e amores impossíveis no horizonte; porque a verdade é que nunca o amor entre uma indígena e um civil permaneceu. Tal como Ariel, que sonhava ter pernas e se esqueceu de como era mágico o oceano; que se iludiu com o amor dos humanos, quando tinha consigo toda a força do Mar.

Às mulheres de “cá de dentro”, por suportarem os meus vacilos e inconsistências, derrapes e acidentes, penas e lamentações. E por saberem que é certo, que tudo tem um lado bom e me lembrarem todos os dias que o meu continua aqui. Basta levantar o véu.