A verdadeira amizade é eterna

Esta semana no “Desnecessariamente Complicado” proponho-vos uma reflexão sobre a amizade. E esta data é tão boa quanto qualquer outra para o fazer, porque a amizade é intemporal. Aliás, reflectíssemos nós mais sobre a amizade e saberíamos mais facilmente distinguir uma amizade verdadeira de uma amizade interesseira e oportunista. E começo precisamente por lhe fazer, caro leitor, uma simples pergunta: tem quantos amigos? Se não tiver resposta para a pergunta que acabei de lhe colocar isso diz-me já duas coisas sobre si. Primeiro: não tem reflectido sobre a amizade num passado recente. Segundo: tem muita gente à sua volta mas não sabe distinguir os verdadeiros amigos dos restantes.

Alguém que tem a resposta à minha questão na ponta da língua sabe exactamente com quantas pessoas pode verdadeiramente contar. Aconteça o que acontecer é com elas que vai falar. Seja uma boa ou uma má notícia existem sempre algumas pessoas que sabem primeiro que outras. E se desse lote de “privilegiados” excluirmos a família e a/o namorada(o) ou mulher/marido estão encontrados aqueles a que pode chamar o nobre nome de “amigos”.

Por esta altura já o leitor coloca a questão: “E tu, quantos amigos tens?” Pois fique sabendo que com o passar dos anos a lista tem ficado cada vez mais reduzida e o número é cada mais baixo. Amigos, tenho muito poucos. Conhecidos é que tenho muitos. Esses sim são em grande quantidade. Contudo, como bem sabe, a quantidade é inimiga da qualidade.

Mas serve o presente texto para falar de um amigo em especial. Conhecemo-nos há tantos anos que nem sei ao certo quantos são. E é assim mesmo que são as grandes amizades: maiores que o próprio tempo fazendo-nos perder a noção dos dias, dos meses, dos anos.

O Nuno Vicente tem vinte e sete anos, mais quatro que eu, e é portador de Osteogénese Imperfeita. Esta é uma doença rara, nos ossos, e ataca uma em cada vinte mil crianças. Trocando o nome científico “por miúdos”, isto quer dizer que os seus ossos são muito mais frágeis do que os nossos, podendo assim fracturar com relativa facilidade.

O destino condenou o seu corpo a uma cadeira de rodas, mas a sua mente é, e sempre será, livre de quaisquer amarras. Nunca deixou que as suas limitações físicas o impedissem de sonhar. Colocou sempre objectivos a curto, médio e longo prazo. Alguns já foram atingidos. Muitos outros estão a caminho. Primeiro concluiu o Ensino Secundário. Depois fez os exames nacionais que lhe poderiam dar acesso à tão desejada Universidade. Cursar Direito era o seu objectivo, mas os exames nacionais revelaram-se um obstáculo maior do que o esperado. Repetiu-os ano após ano até que quando deu por isso estava a realizar as inscrições para a universidade. Ainda não está em Direito, frequenta neste momento Ciência Política, mas não tenho a menor dúvida de que um dia estará, é apenas uma questão de tempo.

É de paixões. Ama o Sporting e o Barcelona. Ama a sua freguesia e o seu concelho. Ama os seus pais. Mas acima de tudo ama a poesia. Nasceu com o dom da palavra. Mas não de uma palavra qualquer. Da palavra complexa, pensada, trabalhada. Da palavra que nos toca bem fundo, sendo impossível ficar-lhe indiferente. Cria poemas como ninguém. E publica-os na internet, partilhando com o mundo o que ganha forma nos recantos silenciosos da sua mente.

Persegue o sonho de um dia viver apenas daquilo que escreve. E por mais utópico que tal possa parecer acredite que esse dia já esteve mais longe. Editou recentemente um livro, intitulado “Sou feliz à minha maneira”. Aqui podem ser encontrados poemas publicados no seu blogue assim como uma detalhada biografia que o acompanha do nascimento até ao presente. No meio de tantos poemas há um especial. Tem como título “Benditos Sejam os Sonhos” e simboliza a nossa amizade. Foi escrito por ele e dedicado à minha pessoa. É um acróstico (mais pessoal que isto era impossível).

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No dia da apresentação do seu livro eu lá estava, tal como tinha prometido. Não perderia por nada deste mundo a concretização de um dos maiores sonhos da sua vida. Comprei o livro e passei a carregá-lo comigo para todo o lado, para o ler assim que tivesse tempo. Lida a biografia era tempo de ler os poemas. E embora já os tivesse lido a todos reli-os como se fosse a primeira vez que os meus olhos vislumbravam tal associação de letras ou cadência rítmica. Até que sou apanhado desprevenido pelo poema acima mencionado. Eu sabia da sua existência (ele próprio mo mostrou quando o escreveu), mas desconhecia que ia ser incluído no livro.

Na imagem acima presente está representada toda a nossa amizade. As conversas de dias incontáveis sobre tudo um pouco: de Saramago ao Benfica, da paz no mundo ao Sporting, do buraco do ozono ao Barcelona, das conversas sobre o sexo oposto ao Real Madrid.

Ele pode ser teimoso. Pode ser de ideias (por vezes demasiado) fixas. Pode ter gostos e paixões diferentes das minhas. Mas é meu amigo. Dos verdadeiros. Daqueles a quem posso confiar um segredo ou pedir uma opinião. E esses são raros.

A sua paixão, determinação, coragem, perseverança e talento inspiram-me diariamente, dando-me força para enfrentar o amanhã. Um dia o mundo vai ter oportunidade de ler os seus poemas, ouvir as suas sábias palavras e venerar a sua inteligência fora do comum. Mas enquanto esse dia não chega eu tenho o privilégio de o acompanhar dia após dia. E acreditem que é um grande privilégio privar e conhecer tão bem alguém destinado a voos tão altos.

Se quiserem acompanhar o grande escritor, e superior ser humano, que é o Nuno podem fazê-lo através do seu blogue (http://lacrimologia.blogspot.pt), da sua página de Facebook (https://www.facebook.com/nunocorreiavicente) e também no Magazine Mais Opinião, publicação mensal, e irmã, do Mais Opinião (http://magazine.maisopiniao.com/author/nuno-vicente).

Boa semana.
Boas leituras.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
Visite o blog do autor: aqui