Vermelho que Mata (continuação)

  As investigações tinham progredido pouco e a pressão da comunicação social começava a perturbar o bom funcionamento do departamento e da investigação. A paz da pequena cidade de Seagoville (Texas) estava agora do avesso. Nunca em Seagoville se tinham visto tantos jornalistas. Não se viam crianças a brincar nas ruas e de noite parecia uma cidade fantasma. Seagoville não era isenta de crime, mas os assaltos e roubos a que estavam habituados estava longe do pavor que agora inundava a população e as pessoas olhavam-se com desconfiança, criando teorias nos cafés sobre quem seria o assassino em série.

  Phoebe fazia o seu trajeto de 30 minutos todos os dias, vinda da sua casa perto de Dallas, terceira maior cidade do Texas, onde trabalhava desde 2014 na delegação do FBI. Estacionou em frente ao Departamento para mais um dia de investigações na sala improvisada gentilmente cedida pela polícia local.

– Bom dia Capitão.

– Bom dia Phoebe, pronta para mais um dia? Temos de apanhar este sacana. Já não sei o que dizer ao raio dos jornalistas.

– Somos dois. O Detetive Ray conseguiu alguma informação com o que lhe dei ontem?

– Sim! Ele está a caminho, foi deixar a miúda à escola mas já me ligou a pedir-te que não saias daqui porque tem novidades.

– Ok, vou ligar para o Mark. Ele ficou de me confirmar uma coisa sobre a última vítima.

– Ok, eu vou buscar o meu café duplo que a noite de ontem foi longa. Tivemos uma chamada por causa do filho do Lemond. Já não basta o pânico geral, ainda anda com conspirações. Se não fosse filho do mayor, sei bem o que lhe fazia.

  Phoebe fecha a porta da sua pequena sala improvisada.

– Mark, sou eu. Conseguiste confirmar o que te pedi?

– Bom dia também para ti, tesouro. Não me digas que os sonhos continuam?

– Bom dia, desculpa. Não, tenho tido noites tranquilas. Bom, sem sonhos, tranquilas nem por isso. Só pela minha indelicadeza matinal pago-te um copo mais logo, que tal?

– Espetáculo! Saio às 18! Só por isso, dou-te boas notícias.

– Combinado. Diz lá então.

– Bom, como suspeitavas, também a última vítima encaixa no teu perfil. Portanto, além do verniz removido, o dedo anelar cortado post mortem, também a nossa pobre Audrey tinha vestígios de estupefacientes. No caso dela, metadona. Pesquisei o nome dela e confirmei que estava em tratamento desde há quatro meses. Mais uma Phoebe, todas elas estavam em tratamentos contra dependências.

– Ok. Sabemos então que o assassino procura mulheres que passaram por algum tipo de dependência. Temos um caso de heroína, dois de antidepressivos e dois de analgésicos, um de álcool e agora um de metadona. Todas elas tinham as unhas pintadas de vermelho na altura do crime. Conseguiste mais alguma coisa sobre o verniz?

– Não. A quantidade é pequena demais para te conseguir confirmar. A cor é exatamente igual, mas sabes tão bem quanto eu a imensidão de marcas que existem por aí.

– Pois… Espera, o capitão está a bater à porta. Sim, capitão?

– Phoebe, desculpa interromper, mas encontraram outro corpo. Precisamos de ti.

– Tenho de ir Mark, encontraram mais uma. Parece que vamos ter de juntar ao nosso copo uma autópsia.

– Porra, são já oito mulheres em três semanas Phoebe. Tens de parar esse filho da mãe.

– Temos… sabes que sem ti fica mais difícil.

– Deixa-te de merdas! Só não fazes o meu trabalho porque não gostas de sujar as mãos! Até já.

– Ray, ainda bem que chegaste, não tires o casaco. Encontraram mais uma vítima. Conseguiste algo com o que te passei ontem?

– Bom dia Phoebe. Porra, esse gajo não dorme?! Sim, consegui mas não é muito. Conto-te no caminho.

  Ray e Phoebe seguiram pela Hall Road em direção ao Heard Park.

– Bom, com a info que me deste ontem, encontrei duas lojas onde vendem aquela acetona. A primeira confirmou que não têm essa acetona há cerca de 2 meses, está esgotada e a última que venderam foi há 3 meses. Levei uma grande seca enquanto o tipo procurava nos registos… quase que me apeteceu oferecer-lhe um computador. Sabes como são as drogarias antigas.

– Bom, 3 meses não é assim tanto tempo. Tinha registo de quem comprou?

– Não. Quem comprou, pagou a dinheiro e não faz ideia quem tenha sido.

– Isso não ajuda… E na outra?

– Na outra… preparada? A outra tinha ainda uma disponível e comprei-a. A senhora fala que nunca mais acaba mas lembra-se de há cerca de mês e meio ter vendido três acetonas daquela marca. Ela diz que aquilo não tem muita saída porque são acetonas muito fortes. Vendeu uma embalagem a um homem! Estamos com sorte? Estamos! Tenho a cópia do recibo. Dennis Parker. Ia começar a trabalhar nisto quando chegasse.

– E as outras embalagens?

– Vendeu a uma rapariga. Pagou com dinheiro mas diz que é uma tipa que lá vai com alguma frequência. Não sabe quem é porque parece que a jovem não gosta muito de conversar, mas consegue fazer uma descrição se quisermos.

– Ok. Então quando acabarmos aqui eu vou à loja com o Sam para fazer o retrato e tu investigas esse Dennis.

– Achas que vale a pena? Um tipo comprar acetona é que é fora do normal. Tenho um feeling sobre este Dennis.

– Hmm, não sei. Nem sempre o mais óbvio é o acertado. Mas porra, estamos finalmente a chegar a algum lado! Chegámos, vamos ver a nossa oitava vítima.

(continua…)