Vermelho que Mata

  Era a quarta noite que sonhava com o mesmo. Não podia ser coincidência. Algo lhe tinha escapado. O sonho fê-la despertar. Olhou para o relógio… quatro da manhã. Tinha mais três horas de sono mas decidiu levantar-se da cama.

  Sentou-se no sofá, acendeu um cigarro e ligou a aparelhagem. Concentrava-se melhor ao som de Die schönsten Arien na voz de Maria Callas. Pit, o seu cão fiel, seguiu-a até ao sofá e aninhou-se a seu lado.

  Josepha Martin era a última vítima, encontrada há duas noites atrás noutro beco da cidade. Era o quarto crime que fazia supor tratar-se do mesmo assassino. As outras três vítimas começavam já a fazer uma pilha de papéis na sua secretária.

  Phoebe olhou para as fotos uma vez mais. Algo lhe estava a passar ao lado e tinha de perceber o que era. Fixou-se nas mãos. As vítimas nada tinham em comum a não ser a falta do dedo anelar. O que significava este dedo para que o assassino fizesse dele o seu troféu?

  Releu o relatório de autópsia, morte por estrangulamento, o mesmo modus operandi . Era um assassino organizado, não estrangulava a vítima com as próprias mãos. Usava um garrote de latex.

  De repente, precisamente aos 4:03 de La Mama Morta, Phoebe repara num detalhe que lhe havia escapado, a ela e a toda a gente. A vítima tinha vestígios de verniz no polegar. Phoebe revê todas as fotografias das mãos da vítima e, tal como no seu sonho, todas as unhas continham restos de verniz, um vermelho cor de sangue.

  Apressou-se no duche, vestiu-se e abriu a porta do quintal a Pit. Despediu-se dele como sempre fazia. Colocou apressadamente as fotografias na mala e seguiu para o IML para falar com o Dr. Loveland.

– Caíste da cama Phoebe? O que fazes aqui a estas horas?

– Bom dia Mark. Mais ou menos isso, dormir é um desperdício de tempo. Estive a rever as fotos da nossa última vítima e queria que me confirmasses algo. Tens contigo os relatórios das outras vítimas?

– Bom, eu estive de férias e quem fez as autópsias das duas primeiras vítimas foi a Dra. Brooks mas tenho-os no computador sim. Mas o que precisas?

– Ao rever as fotos hoje reparei que a vítima tinha vestígios de verniz vermelho nas unhas. Quase não dá para perceber porque está na cutícula, mas olha com atenção.

– Hmm, deixa-me ver… Tens razão, mesmo colado por baixo da cutícula. Deixa-me ir buscar o corpo da vítima. Phoebe…foi mais um dos teus sonhos? Nem uma águia conseguia detetar isto a olho nu, está quase impercetível… Porra, a mim escapou-me por completo! Como deste por isto?

– Sim Mark… foi mais um dos meus sonhos, não quero falar disso. As outras vítimas ainda estão aqui?

– Sim, vou buscá-las. Enquanto isso, vai buscar-nos café que a manhã vai ser longa.

  Analisaram os relatórios e observaram atentamente os corpos das quatro vítimas. Tinham encontrado uma nova pista. Todas elas continham vestígios de verniz e os mesmos componentes de acetona, o que sugeria que o assassino havia removido o verniz das unhas das vítimas post mortem, da mesma forma como lhes havia cortado o dedo anelar.

– Curioso é que todas elas tinham verniz vermelho, Phoebe.

– Sim Mark. Há um motivo muito sombrio por detrás deste ritual, consigo senti-lo, mas não te consigo explicar.

– Tranquila, rapariga. Sei o quanto o teu dom te atormenta mas tens de acreditar em ti e seguir a tua intuição. Já nos conhecemos há muitos anos, sabes que podes falar comigo quando precisares.

– Eu sei Mark, és dos poucos que acredita em mim e não imaginas como te estimo por isso. Mas o sonho foi muito perturbador. Talvez amanhã te fale sobre ele, mas não hoje. Ele vai atacar outra vez, e muito em breve…

(Continua…)