A virgindade – o que mudou com esta geração! – Sandra Castro

Não me lembro do dia exacto em que perdi a virgindade. Não sou muito boa com datas, sou mais dada aos momentos. Recordo-me que foi em Agosto, num dia típico desse mês, calor, altas temperaturas, uma brasa…eu tinha 15 anos. O Luís tinha 17.

O meu primeiro namorado chamava-se Bruno, tínhamos seis anos. Mandava-me bilhetes na sala de aula a dizer: o que importa não é a cor, o que importa é o amor! Idade maravilhosa!

Mas o Luís foi o rapaz por quem me apaixonei na adolescência. O meu primeiro namorado!

Desde o primeiro beijo que me senti tentada, e aos 15 anos, idade em que não se percebe nada da vida mas achamos que sabemos tudo, a tentação é forte e persistente.

Dávamos as nossas escapadelas para casa da avó dele (que Deus a tenha em eterno descanso) e, de vez em quando, para a minha casa (sim, a minha mãe trabalhava o dia todo).

Já andávamos há algum tempo nos amassos, beijos e apalpadelas em terreno denso e excitante, até que um dia aconteceu…eu perdi a virgindade. E ele também.

Eu escrevo sobre este assunto, para mim tão normal e natural como qualquer outro assunto. Para mim, enquanto mulher e mãe, o que não é normal é esta geração de miúdas de 13, 14 e 15 anos que lidam com a sua virgindade como algo banal.

Recuei apenas dez anos ao escrever sobre a minha experiência, nesse tempo perder a virgindade era uma coisa sagrada e não se exibia como um troféu. Fazia-se amor com quem se estava apaixonada, em lugar apropriado e com algum romantismo próprio da idade. Era invulgar e vergonhoso iniciar a actividade sexual antes dos 15 anos.

Há dez anos atrás, primeiro conhecíamos o parceiro, depois a paixão, o envolvimento intelectual e físico, e só depois tínhamos sexo. Tudo tinha as suas etapas e acontecia tudo de forma natural e com respeito mútuo.

Mas o que se assiste e se ouve nos dias de hoje é muito diferente de há uma década atrás.

Miúdas que vão para a escola, vestidas, arranjadas e maquilhadas (!!!) como se fossem para uma discoteca. Têm 13 anos, mas parecem ter 20.

Miúdas que usam os seus atributos físicos para se darem a conhecer aos rapazes, quando a inteligência é muito mais cativante, mas passa para segundo plano nesta geração.

Miúdas que fazem sexo nas casas-de-banho das escolas a troco de popularidade, quando a sua obrigação era estarem concentradas a estudar, enquanto os pais anda podem pagar os estudos neste país plantado à beira-mar.

Miúdas de 15 anos que nunca se masturbaram, não conhecem o seu próprio corpo, os seus desejos e limitações, mas cedem aos caprichos de um chavalo qualquer da escola.

Miúdas de 14 anos que já tiveram vários parceiros sexuais e imaginem só: nunca usaram preservativo!

Antes de eu iniciar a minha vida sexual, tive a conversa mais difícil que alguma vez tive com alguém. Disse à minha mãe que tinha de ir ao médico, porque queria tomar a pílula. A resposta da minha mãe foi negativa. Com 15 anos tomei uma atitude, consciente e madura, fui à médica sozinha.

Erros como o que a minha mãe cometeu não podem ser cometidos pelos pais desta geração. Mas cometem, muitas vezes inconscientemente, porque não conhecem os seus filhos. Aos nossos olhos ainda são pequenos seres, incapazes de tais proezas como ter sexo, beber álcool a mais, fumar uns charros…não se iludam pais! Não pensem que o facto de não abordarem estes assuntos com eles, o facto de não os levarem ao medico nem lhes darem contraceptivos, o facto de os filhos não irem ter convosco para conversarem, o facto de coscuvilharem o quarto deles e não encontrarem nada suspeito, é sinal que estão no caminho certo para que nada aconteça. O mais provável é que já tenha acontecido. E acontece, no calor do momento, com ou sem preservativo, com ou sem pílula, com ou sem pré-conversa com os pais.

Os adolescentes têm ao seu dispor tanta informação errada, na televisão com programas da treta, na Internet, publicidade, revistas, entre amigas, que é fundamental um papel mais activo por parte dos pais.

É  necessário, em português vernáculo, pegar nos bois pelos cornos! Se nesta geração, os adolescentes iniciam cedo demais todas as peripécias próprias desta fase da vida, quem melhor do que os pais para lhes dar todas as informações sobre estes assuntos? Quem melhor que os pais para ter as tais conversas super importantes, sinceras e desnudas de qualquer preconceito? Quem melhor que os pais para enxaguar as lágrimas às adolescentes apaixonadas? Quem melhor que os pais para os acompanhar ao medico? Se somos os paga-contas, os limpa-casas, os lava-roupas, os oferece-prendas, também podemos ser os todo-ouvidos! Informação é educação!

Crónica de Sandra Castro
Ashram Portuense