Foi você que pediu um Presidente?

No momento em que escrevo esta crónica, Terça-feira à noite, o Presidente da República Cavaco Silva ainda não comunicou ao país se irá dar posse a um governo liderado pelo PS de António Costa e apoiado por BE, PCP e Verdes. No entanto, quase que aposto em como Cavaco irá optar por um governo de gestão, ainda que saiba de tais custos (pesados) para o país.

 

Cavaco irá optar por essa via, devido a três “pistas” que entretanto deu a quem o tem “seguido” desde 4 de Outubro: a primeira, foi a de recordar ao país alguns governos de gestão, incluindo um liderado pelo próprio Cavaco, que estiveram em funções; a segunda “pista” é a de chamar a Belém associações tipicamente favoráveis ao PSD e CDS, como banqueiros e confederações empresariais, e que logicamente têm pedido eleições antecipadas (favorecendo a perspectiva de Passos e Portas, indo contra Costa); a terceira “pista” foi a inacreditável e rocambolesca conversa que Cavaco teve sobre o sabor e tamanho das bananas da Madeira, num quadro de crise de governação em Portugal – o governo “caiu” na semana passada. Foi você que pediu um Presidente?

 

Um Presidente como Cavaco é um autêntico “manual” sobre como não se lidar com crises políticas. Alguém que apela à insurgência de deputados PS contra os seus próprios camaradas e que só gera mais união no PS; alguém que prefere ver um país a viver com um orçamento de duodécimos do que empossar um governo de maioria parlamentar – tal como o próprio Cavaco já tinha “pedido”. Ora alguém assim não tem dignidade para ser Presidente da República! 

 

O Presidente da República não pode nem deve censurar os partidos de esquerda, ou quaisquer forças políticas representadas no parlamento – e que respeitem a Constituição da República Portuguesa. Esses deputados representam cerca de um milhão de Portugueses, e o Presidente da República é o Presidente de todos os Portugueses, e Cavaco jurou cumprir isso mesmo, e a Constituição. Cavaco nada disso cumpriu.

 

Ora, foi você que pediu um Presidente? Em Janeiro, será eleito um novo. Seja a 24 de Janeiro ou noutra data, convém percebermos que um Presidente deve ser sóbrio e sensato nas suas funções de “arbitragem” da vida política portuguesa, pois só alguém com tais características, sim, pode ser o Presidente de todas as portuguesas e de todos os portugueses. E nunca alguém como Cavaco.