The Voice vs X Factor

Antes de começar esta minha crónica de opinião, creio que devo fazer uma declaração de interesses: quem me conhece sabe que sou fã do formato X Factor (não confundir com “Factor X”). E mentiria se dissesse que iria fazer uma análise imparcial. Imparcialidade e artigo de opinião são coisas que pouco combinam.

Mas vamos a isto.

Vamos desde já desmistificar a ideia de que “só a voz conta” no “The Voice”. Se assim fosse, eles escolhiam todos aqueles que têm boa voz. Mas é isso que acontece? Não. Argumentos: “Eu já tenho muitas vozes femininas” ou “Eu já tenho muitas vozes masculinas”; “Eu já tenho muitos deste estilo [rock, pop, etc]”; etc.
Estes argumentos, juntamente com o “Opá, eu devia ter carregado” valeriam zero se assim fosse. Ou seja, vale a voz e a estratégia do mentor.

E esta última afirmação leva a uma das principais criticas feitas ao formato X Factor. Este formato é normalmente criticado por preterir algumas boas vozes em detrimento de outras não tão boas, mas com (na opinião dos mentores) mais carisma, mais personalidade, mais presença em palco. A diferença aqui é que, no formato X Factor, ninguém nega que o faz. Quem se candidata a este formato sabe ao que vai. Sabe que eles procuram um artista (não apenas uma voz) que tenha uma combinação de características que interessam à industria discográfica e fazem vender discos. É o objectivo do formato, para além do objectivo claro do entretenimento, como qualquer programa televisivo.

Uma coincidência entre os dois formatos: todos erram. Nem é uma coincidência entre estes dois formatos, é mesmo entre todos. Por muito conhecedores que os mentores sejam da industria discográfica, são pessoas e, como pessoas que são, como qualquer um de nós, falham e têm escolhas menos felizes.

Mas o pior para mim é a hipocrisia. Pelo menos a do formato português do The Voice. “Não desistas que vais longe, tens boa voz”, dizem eles depois de ninguém carregar no botão. Se tem boa voz, porque não viraram a cadeira? O programa não tem esse objectivo, encontrar as boas vozes? “Isto não é o fim”. Claro que é o fim. Uma pessoa concorre a um programa, é rejeitado, é o fim daquela oportunidade. E que tal escolherem melhor as palavras? Ao menos podiam dizer que haverá mais oportunidades ou explicar claramente porque não viraram as cadeiras. E os argumentos do menino Carreira “senti muitos nervos” ou “faltou sentimento na voz” são tão vagos (supostamente todos vão para uma audição nervosos, uns mais do que outros, e o segundo argumento é muito, mas muito subjectivo), que, para mim, de nada vale.

No campo oposto, o X Factor é acusado de ser demasiado rude para os concorrentes, especialmente o seu criador, Simon Cowell. Pessoalmente acho preferível os mentores serem brutalmente honestos e dizerem o que pensam e – como já aconteceu várias vezes – os concorrentes aparecerem no ano seguinte com aqueles problemas que lhes foram apontados corrigidos e/ou colmatados, do que rejeitá-los e dizer que que eles são muito bons na mesma.

E, a melhor comparação que se pode fazer é  falar-se em X Factor e vários nomes surgirem: One Direction, Leona Lewis, Alexandra Burke, Melanie Amaro, Rebecca Ferguson, Little Mix, Cher Lloyd, Fifth Harmony, James Arthur, Olly Murs, Carly Rose Sonenclair, Ella Enderson, entre outros. E do The Voice? Alguém se lembra de alguém que tenha passado pelo The Voice e que se tenha tornado uma grande estrela e vendido milhões de discos? Eu não.

 

Crónica de João Cerveira

Diz que…