Vou partir…

Vou partir. Esta decisão é minha. Às vezes e quando menos esperamos a vida lança-nos no caminho. Tira-nos de um lado da margem e coloca-nos do outro, mas eu acredito que se mudamos de margem é porque não estávamos no lado certo. É preciso ter Fé. Digam o que quiserem, digam que estou louca, digam que sou outra coisa qualquer, pouco me importa, justifiquem-me como se vive hora a hora sem ter Fé? Justifiquem-me…

Desisti de querer ser… Atenção, não desisti de mim, não desisti da vida, nem desisti de viver… Desisti daquela vontade incessante de querer ser alguém. Aprendi que a vida é muito mais que isso. Quando era pequena perguntavam, como perguntam a todos, o que queres ser quando fores grande? e eu respondia, pediatra… Eu queria ser pediatra, depois lembro-me de querer ser psicóloga… Acabei num curso de engenharia. Se me perguntassem hoje, eu responderia sem reticências: ” Não sei, o tempo o dirá”… Vivi durante tanto tempo incessantemente esta procura de querer ser alguém que até me esqueci da beleza da vida que me rodeia. Fui criando um castelo tão forte, porque as regras assim o determinam, desde pequenos que vamos sendo questionados e quase que não temos volta a dar temos mesmo de ser alguém importante, até que um dia a vida desinstalou-me e colocou-me a caminho

Ao inicio a dor que carregava era grande, os “porquês” invadiam-me a mente a toda a hora, não conseguia entender porquê comigo, porquê agora, caminhei fechada em mim, lembro-me de deixar de me sentir… Eu não sentia o meu corpo mas caminhava “sozinha” com as minhas pernas, olhava para baixo, estava desiludida… Não parei, continuei, caí e levantei-me, cheguei. Sobretudo aprendi que a vida era muito mais que tudo o que tinha vivido até então e prometi que jamais caminharia “sozinha”. Comecei a sair de mim, a olhar o outro e deixei de ser eu a caminhar, para ser alguém a caminhar por mim e eu por alguém. Desinstalei-me e foi assim que desisti de querer ser alguém.

É preciso ter Fé para viver um dia de cada vez mas é possível. É preciso e não digam que não. É preciso ter Fé para aceitar que não somos ninguém e todos os dias olhar para a vida como mais uma oportunidade. É preciso ter Fé para aceitarmos que o conhecimento é importante, saber mais numa determinada área, saber comunicar, saber estar, mas que esse mesmo conhecimento não é a essência da nossa vida. É preciso ter Fé para abandonarmos todas as máscaras e mostrarmos a nossa essência.

Tenho feito muitas travessias no caminho para conseguir vivênciar o momento e ficar em Paz. Tenho subido muitas montanhas para provar a mim própria que nada nem ninguém justifica a mudança do meu ser, da minha essência, mas eu consegui, sinto-me em Paz.

Parti e levo comigo apenas a certeza que nada me vai impedir de sentir… Sentir a chuva, o vento, o sol, o mar, os outros… sentir apenas.