Yesterday – Capítulo 1

“13”

Entrelaçados e preguiçosos, nuvens e sol pintam o céu, numa recatada aparição na antemanhã, exalando pouco entusiasmo aos que começam mais um dia.

O costumado tom de café assenhora-se do faro quando se entra no aeroporto, onde ao longo de extenuados e foscos corredores, malas crepitam numa melodia dolente e sinuosa. Passageiros amontoam-se entre as ruas serpenteantes, cujo alvo são os balcões de check-in. Suas faces são os seus reflexos, onde surge o desbotar de uma paleta sentimentos, mas um destaca-se, a saudade de quem ainda não partiu.

São pachorrentos os bancos e cadeiras que escutam os lépidos sonhos, as acres despedidas e os temores exasperados de quem ousa beber o incerto.

De mãos enlaçadas e lágrima no canto do olho, o enamorado casal resiste à iminente desunião, como se lhes abscindissem um bocado do seu coração. A derradeira chamada está prestes a ser entoada e, abraçados, eles esperam a última badalada que anuncia a partida.

Mesmo percebendo que saem em busca das suas expressivas aspirações, como pais, é difícil suportar a sua sobranceira saída do ninho. De angusto coração, permitem que esvoacem, mesmo depois de pandos anos bem aconchegados nas suas asas. É agora, estão por sua conta.

É rumorosa a festa, quem observa pensa que estão a regressar. Mas não, estão a partir. Amizade. É o que realmente está espelhado nos seus afogueados semblantes, que espreitam a cada beijo, a cada abraço e a cada lembrança que carregam consigo. As suas mãos são exíguas para as malas e para todos os pedacinhos de coração que os acompanham.

Todos estes rostos têm algo em comum. Assim que cruzam a linha que os desune de quem lhes é estimado, miram mais uma vez. O laço na sua garganta é grande demais para que consigam falar uma vez mais, pelo que é o seu olhar que deixa no ar um até já.

Mas…

O vasto e atilado quadro de voos anuncia os caminhos de quem chega e de quem parte, uma dança angustiada que envolve a sua silente alma. Durante largos anos foi sugado pelos ponteiros do repreensível marca passo, mas hoje ele parou. Consigo não trouxe fardel, apenas o passaporte que repousa na algibeira das suas calças puídas. Uma panóplia de letras vai cintilando, mas ele desconhece o seu destino. Demasiado quente, demasiado frio, demasiado movimento, demasiado paradisíaco. O rol é infindável. Não conseguindo chegar a uma conclusão, escolhe um número à sorte. Número 13. Linha a linha, ele tenta sedentamente alcançar o décimo terceiro voo. Ao averiguar o seu destino, sorri. Afiança que não poderia ter sido uma escolha mais acertada.

To be continued