Zara Larsson – Nos Passos de Rihanna em “So Good”

Não restem dúvidas, a nova princesa da pop sueca chegou para debater o ceptro lado a lado com as grandes.

 

Há muito que escasseiam novos valores da pop no feminino com potencial, verdadeiramente, fiável e alcance global. Esta década vimos apenas surgir Ariana Grande e… bem, mais ninguém. Ellie Goulding, Jessie J, Rita Ora, Bebe Rexha, Jess Glynne, Ella Eyre, Alessia Cara, Dua Lipa e Tove Lo, só para citar alguns exemplos, ou perderam o comboio ou ainda têm mais créditos por firmar. Fora desse lote, apenas Zara Larsson merece um bilhete de acesso directo à Liga dos Campeões, para ombrear com Katy Perry, Lady Gaga, Beyoncé, Sia ou Rihanna.

E para os mais distraídos é, precisamente, o trono da deusa dos Barbados, que Larsson persegue. Em matéria de beleza e arrojo, estamos bem encaminhados. O timbre glaciar e suculento chega a ser idêntico em certos momentos, sendo que a profeciência vocal é largamente superior. E em matéria de hits? Digamos que a jovem Zara mantém uma eficácia equiparável à de Rihanna no seu tempo, com um já respeitável punhado de êxitos para alguém que ainda não conta sequer com duas décadas de vida.

Após dois EPs seguidos de um álbum de estreia editados apenas à escala nacional, recebemos por fim o seu primeiro álbum à séria, So Good, já com o título de nova princesa da pop sueca às costas – quiçá mundial em breve, também – que reúne todos os sucessos que foi colhendo no último ano e meio e outros tantos inéditos que, bem seleccionados, se tornarão também a seu tempo.

O arranque faz-se ao som da resiliente “What They Say”, pop urbana que não destoaria de Talk That Talk (2011), a típica faixa de álbum que não atinge estatuto de single, mas que também não leva o ouvinte a passar à frente, em busca do dito material estrondoso. Logo à esquina espreita a electropop efervescente da mui sumarenta e divertida “Lush Life”, uma das melhores canções do género de 2015/2016 – dependendo do ano em que se cruzaram com ela – e sem hipótese de recuperar o fôlego, é-nos servida a europop infalível da atrevida “I Would Like”, construída sob um engenhoso sample de “Dat Sexy Body” da cantora jamaicana Sasha, com Zara em modo sirene na pista de dança.

De volta aos apetites urbanos de uma Rihanna-tão-2006 encontramos “So Good”, valente feel-good song a caminho de jingle, que claramente não deveria ter sido lançada como single na altura em que foi. Esse papel deveria ter cabido sim a “TG4M”, que retém a insularidade e o calor dos trópicos das canções da sua pseudo-musa: uma calorosa construção pop/dancehall de paradisíaca entrega vocal. “Only You”, misto de devoção e dependência amorosa, também não fraqueja, sendo um perfeito exemplar da inventividade nórdica que assiste So Good.

“Never Forget You”, o dueto powerhouse futurista com o comparsa MNEK – um dos mais vitais estetas da nova geração – surge para nos relembrar que isto funciona também como semi-greatest-hits, enquanto “Sundown”, nova investida dancehall de fraco teor lírico, oferece-nos o melhor dueto possível entre Drake e Rihanna que não escutaremos este Verão. “Don’t Let Me Be Yours”, com Ed Sheeran nos créditos de composição, vive de engenhosa produção e da tremenda personalidade, que a sua intérprete lhe confere e a imperial “Make That Money Girl” é a tentativa algo precoce de Zara em criar um hino feminista para as adolescentes, filtrado pelos ensinamentos de Beyoncé.

Talvez nenhuma vestimenta urbana lhe assente tão bem quanto o bombástico híbrido trap/dance pop “Ain’t My Fault”, capaz de falar o mesmo dialecto e andar nos mesmo saltos de RiRi, com a dose certa de altivez e confiança. “One Mississippi”, a senhora que se segue, arrasta-se num aborrecido contínuo que só a prestação vocal de Zara consegue salvar. “Funeral”, por seu lado, é uma formidável balada pop tropical, que se aproxima daquilo a que Celine Dion soaria se tivesse nascido nas Filipinas, ou forjado a sua angústia emocional no estúdio ao lado onde Drake cozinhou “Controlla”. Mais tradicional e um pouquinho menos essencial para o alinhamento, “I Can’t Fall In Love Without You”, conduz-nos para o arrebatador final desenhado a meias com os Clean Bandit, em mais um grande número dance pop orquestral de forte vínculo emocional – trata-se de “Symphony”, talvez a sua melhor canção desde “Rather Be”.

So Good é tudo aquilo que um bom álbum pop deve ser em 2017 – actual, ginasticado e apetitoso. Flui agradavelmente por géneros musicais, oferecendo-nos várias facetas suas; convoca produtores pouco em voga que dão vitalidade ao projecto, fugindo assim aos nomes saturados do costume, e esgrime argumentos de sobra para continuarmos a depositar em Zara Larsson as esperanças de um futuro galáctico. Se tudo correr bem, é só uma amostra daquilo em que se tornará – dona disto tudo.

 

Zara Larsson- So Good (2017)

Editora: Epic/TEN

Classificação: 7,7/10