Os “talent shows” na TV em Portugal

Há uns anos a minha irmã mostrou-me um video de uma concorrente do X Factor UK (já não me lembro quem). Gostei e, a partir daí, passei a ver os vídeos dos diferentes talent shows no Youtube [pois não passavam em Portugal na altura (só mais tarde a SIC Mulher ou Radical, já não sei bem, passou o X Factor USA): X Factor UK, USA (entretanto cancelado) e Australia, Britain’s Got Talent, America’s Got Talent, The Voice UK e USA, às vezes Dancing With The Stars ou Do You Think You Can Dance USA por influência da minha irmã. Posso, por isso, dizer que já conheço minimamente este tipo de programa.

E se grande parte dos espectadores está interessado em ver apenas os concorrentes, quem acompanha e gosta do formato nos outros países espera também que as versões nos nosso país seja fiel à versão original. E se os programas The Voice (RTP1) e Achas Que Sabes Dançar (SIC), pela produtora Shine Ibérica, estão, pelo que vi e conheço, iguais ou muito colados aos formatos originais, não posso dizer o mesmo dos programas Factor X (SIC) e Got Talent Portugal, pela produtora Freemantle Media Portugal.

Quem acompanha as minhas opiniões no Mais Opinião sabe que fui grande critico do Factor X (SIC). Muita coisa foi alterada, muita coisa foi, se me permitem o termo, inventada na versão portuguesa. Para quem conhece o original, não faz sentido maior parte das alterações. Não encaixam no formato original. E se bem se recordam, eu achei que a responsabilidade devia ser da estação de televisão, que teria pedido uma versão low cost do formato (o formato original, apelidado de “o melhor programa de tv do mundo” pelo seu criador, é bastante caro). pois não fazia sentido que a Fremantle, produzindo o programa em todo o mundo, não o conseguisse fazer igual (ou semelhante) em Portugal.
Agora, vendo os episódios do Got Talent Portugal na RTP, produzido pela mesma produtora e menos exigente (mas não menos brilhante na sua versão original), creio que mudei de ideias. Um exemplo: o formato original tem um genérico mais curto, dourado, nas audições (episódios gravados) e outro genérico maior nos programas (semi-finais e final) em directo. A produtora usa o genérico das audições nos directos. E é inexplicável como o faz, sendo que há uns anos, quando produziu o mesmo formato para a SIC, com o nome Portugal Tem Talento, fizeram o genérico em condições (que pode ser visto aqui http://youtu.be/ZZk2ryChyuM).

E perguntam vocês: “Não estás a ser preciosista?” Posso estar, mas há uma razão para o formato Got Talent ter sido indicado pelo Livro dos Recordes Guiness em 2014 como o formato de “reality tv” com mais sucesso no mundo. Assim como há uma razão para as versões mais aproximadas do original perdurarem no ar, enquanto outras são canceladas. Na Austrália, por exemplo, houve uma versão do X Factor que durou um ano. Anos depois, noutro canal mas com a mesma produtora e com a colaboração próxima do criador do formato, o X Factor voltou à tv australiana e, desde aí, é um campeão de audiências e, para mim, o mais aproximado do original britânico. Nos EUA, o X Factor durou 3 anos. No último ano, o formato – produzido pelo próprio criador – estava substancialmente alterado, desde algumas das regras, até ao cenário e palco. O que aconteceu? A Fox cancelou (ou confirmou o cancelamento do) programa.

Não conhecem aquele ditado que diz que “em equipa que ganha não se mexe” ? A Shine Ibéria pelos vistos sabe. Assim como sabia a Endemol quando há muitos anos produziu o original espanhol Operação Triunfo para a RTP. Se são formatos de imenso sucesso no estrangeiro, com muita audiência, se, com a internet, muitos portugueses acompanham (e gostam) desses mesmos formatos, para quê fazer alterações? Porquê fazer alterações?
Não posso, no entanto, dizer que tudo é mau. Acho bem uma alteração no Got Talent que é o facto de, enquanto o formato original passam das audições para os directos 45 concorrentes e há 5 semi-finais de 9 concorrentes (em que passam 2 de cada semi-final, mais o wild card, um concorrente escolhido pelo júri de entre todos os eliminados nas semi-finais), na versão portuguesa passam 48 concorrentes e faz 6 semi-finais de 8 concorrentes (o restante sistema é igual, mas não se sabe ainda se há wild card) .

Contactei a produtora sobre a questão do genérico do Got Talent Portugal no Twitter. A resposta foi “estamos a trabalhar para os talentos, é esse o nosso foco”. Creio que, posto isto, posso concluir que a produtora não é capaz de reproduzir o formato oficial e, em simultâneo, “trabalhar para os talentos”. A confirmar isto, é, no mínimo, triste. O que “salva” a produtora é que os portugueses normalmente queixam-se da injustiça do sistema de votações telefónica, sistema igual em todo o mundo, e não das alterações ao formato.

 

Crónica de João Cerveira