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Treta de PM

JORNALISTA – Boa noite. Bem-vindos caros espetadores ao nosso programa semanal de entrevistas fictícias aos grandes líderes partidários. Na entrevista possível ao doutor António Costa, fazemos um breve balanço aos seus anos de governação.

Senhor Primeiro-ministro, entrámos em dois mil e dezoito, é caso para dizer ano, vida nova.

A. COSTA – Boa noite. Uma pequeníssima correção: sempre digo que ano novo sim, mas vida nova só seria se estivesse prestes a começar em janeiro noutro emprego, noutras funções e esse com certeza não é o meu caso.

JORNALISTA – Com certeza. E ainda bem, diremos nós, porque o atual presidente do PSD tem feito tantas declarações públicas, que se tornaria desnecessário estar a entrevistá-lo esta noite aqui na tv e, nesse caso, não estaríamos aqui, nem eu nem os meus colegas a fazer nada e íamos todos para o desemprego. Mas ao desemprego já iremos. Mas dizia eu que volvido o chamado estado de graça inicial, continua com a popularidade em alta nas sondagens. Como explica esse fenómeno?

A. COSTA – Não só, mas também graças ao presidente do PSD de quem já falámos. Como referiu, em minha opinião ele tem aberto a boca para dizer tantos disparates, que quando as pessoas prestam atenção ao que diz acabam por concluir que eu sou muito melhor do que ele para desempenhar estas funções de Primeiro-ministro.

JORNALISTA – Quer exemplificar?

A. COSTA – Ainda no verão, quando se queixou de que após os incêndios de Pedrógão Grande as populações não estavam a receber da parte de psicólogos e dos técnicos da Segurança Social o devido acompanhamento. Veio-se a provar que afinal era tudo uma grande mentira, como se recorda.

JORNALISTA – Não quereria ele antes dizer que, perante a dimensão da tragédia, qualquer apoio nunca é demasiado e é muito bem-vindo, venha ele de onde vier?

A. COSTA – Não creio. Seria muito ingénuo da minha parte acreditar nisso, quando o Dr. Passos Coelho é o próprio, perante a tragédia que representa para o Partido a sua perda de popularidade, a não ver com bons olhos, que de repente passasse a receber o apoio das fações que ao longo deste tempo o têm querido ver pelas costas. Se não, veja como se tem mantido afastado da doutora Manuela Ferreira Leite, de quem mantém opiniões divergentes.

JORNALISTA – O Dr. António Costa tem centrado as atenções no cumprimento do défice. Pretende reduzi-lo ainda mais?

A. COSTA – Evidentemente e vai acontecer até ao fim desta legislatura, para que deixe também de constituir uma preocupação para a oposição, o facto de pensar que no final deste mandato e quando iniciarmos o seguinte, ainda vai ser só dessa grande vitória que vamos andar a falar, como se não houvesse mais nada de que nos pudéssemos orgulhar.

JORNALISTA – Tem-se falado em menos desemprego. Deixou de ser o flagelo que se apontava como consequência da intervenção da tróica?

A. COSTA – Sem dúvida que Tróica significa desemprego, eliminação de postos de trabalho, mas futuramente quando tivermos de pedir o seu regresso a Portugal, vamos exigir que tragam menos técnicos e aproveitem o melhor da mão-de-obra nacional, contratando cá quem estiver desempregado.

JORNALISTA – Como vai o entendimento com os líderes dos Partidos à Esquerda?

A. COSTA – Esforçamo-nos diariamente por mantê-lo coeso, e em todas as negociações que encetamos. Não nos esquecemos de que no tempo do governo de coligação à direita, foi quando os líderes dos dois Partidos nem sempre manifestaram concordância em algumas questões, que as coisas descambaram para o seu lado.

JORNALISTA – Nos próximos dois anos, vai baixar impostos?

A. COSTA – Claramente que sim. De acordo com o que negociámos com os nossos parceiros das esquerdas unidas, vamos diminuir os que incidem sobre os rendimentos do trabalho e aumentar os que são calculados sobre os rendimentos de capital e os lucros das empresas, todavia, não tanto que se julgue que já estamos com falta de liquidez financeira e, para voltar a pôr as contas em ordem, estamos a pensar em voltar a chamar a tróica.

JORNALISTA – Se não se importa, gostaria de voltar atrás ao desemprego…

A. COSTA – Meu caro, para recuar ao desemprego, só se for há uns anos, ao tempo em que governava o Dr. Passos Coelho. Desde que o PS entrou para o Governo, ele baixou tanto que agora é meramente residual.

JORNALISTA – Queria perguntar-lhe se vai mesmo avançar com a extinção do corte de dez por cento nos valores do subsídio de desemprego?

A. COSTA – Claro que sim. Deixo aqui essa garantia aos cidadãos e cidadãs deste país.

JORNALISTA – E como pensa compensar a perda dessa receita de milhões para o Estado?

A. COSTA – É muito simples. Passo a taxá-los com o pagamento de IRS e assim, os que pensavam gozar o subsídio até aos últimos dias, seguindo-se o pedido do subsequente, até pensam em arranjar emprego mais cedo.

JORNALISTA – Evocou o nome do antigo Primeiro-ministro, mas é com o atual Presidente da República que as relações vão de vento em popa.

A. COSTA – É verdade. Por isso é que se for para escolher alguém com experiência governativa, preferia que o candidato para substituir o Prof. Marcelo fosse um dos meus atuais ministros ou Secretários de Estado … como por exemplo a senhora ministra da Administração Interna ou aquele que está em exercício na pasta da Defesa, que não estão habituados a discutir as minhas decisões.

JORNALISTA – E por falar em entendimentos, o líder comunista já fez saber que quer a partir de janeiro o aumento do ordenado mínimo para seiscentos euros?

A. COSTA – Se for só para seiscentos, pode ser. O único ordenado mínimo que não aumentarei será o dos enfermeiros, porque segundo consta, mesmo para quem inicia a carreira, é já de uns mil e duzentos.

JORNALISTA – Ele quer também a retoma dos vinte e cinco dias de férias para os funcionários públicos.

A. COSTA – Vão ser trinta, fica a saber em primeira mão. Como estamos apostados em acabar com tudo o que é precário no Estado, decidimos passar a considerar como dias de férias, aqueles em que as pessoas vão trabalhar, mas por causa de calhar numa chamada “ponte” e elas estarem contrariadas, melhor será que se não é para fazer nada mais vale ficarem em casa.

JORNALISTA – Catarina Martins o Bloco de Esquerda exige a melhoria da rede de transportes.

A. COSTA – A sério?! Apanhou-me totalmente de surpresa. Vindo dela que tem sido à boleia das medidas do PS que ultimamente tem ficado bem vista junto dos eleitores.

JORNALISTA – Parou para pensar no conflito vigente na AutoEuropa?

A. COSTA – Parei, mas ao contrário dos seus trabalhadores que quando param sem ser para almoçar é sinal de que vão entrar em greve, não parei de trabalhar. No dia em que reuni com o ministro da Economia para abordarmos o problema, ainda fui ao gabinete e lá despachei toda a papelada que estava pendente em cima da secretária, desde antes de ter ido para Palma de Maiorca de férias no verão.

JORNALISTA – Em face de ter conquistado elevado número de câmaras considera que venceu as eleições autárquicas deste ano?

A. COSTA – É lógico, nem que só tivesse ganhado metade. Nas restantes, faria coligações à esquerda, mas a que teria o cuidado de não chamar “geringonça”, não fosse o Dr. Paulo Portas lembrar-se e vir reclamar o pagamento de direitos de autor.

JORNALISTA – Para terminar: avança a remodelação no Governo?

A. COSTA – Não enquanto eu mandar e for Primeiro-ministro … e mesmo depois, quando alguém do meu Partido me suceder, só se não escolherem para me suceder nenhum dos meus atuais ministros ou Secretários de Estado, que estão habituados a ouvir-me calados e a não pôr em causa as minhas sábias decisões.