Treta de Presidente

JORNALISTA – Boa noite, senhores telespectadores. Depois de em duas semanas consecutivas termos estado à conversa com António Costa e Passos Coelho, vamos receber hoje a visita de S. Exa. o Presidente da República, o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, para debatermos a atualidade política e não só. Boa noite, Senhor Professor.

MARCELO R. SOUSA – Boa noite. Uma saudação afetuosa para todos os que estão em casa.

JORNALISTA – O Sr. Presidente fala na necessidade de arranjar consensos, mas foi extremamente difícil chegarmos a um consenso consigo para conseguir trazê-lo aqui para esta entrevista. Por causa de ter todos os dias ocupados e todas as horas preenchidas, segundo nos informaram do seu gabinete.

MARCELO R. SOUSA – É verdade. Mas acabámos por nos entender, não é verdade? O doutor sabe, tão depressa estou em Angola, como Moçambique, em Paria como Nova Iorque. Quase sempre onde está a maior parte das portuguesas e dos portugueses que, quando são entrevistados na televisão, dizem sempre muito bem o que é nosso e da santa terrinha, porque já estão fora há tanto tempo que certamente já não se lembram de como eram as coisas no seu tempo.

JORNALISTA – Mudando de assunto. Como considera que decorreu o processo eleitoral das Autárquicas?

MARCELO R. SOUSA – Muito bem. Não podia ter sido mais pacífico. Correu tudo sem quaisquer percalços, mas mesmo nas secções de voto onde houve ténues protestos, não chegou a haver violência, nem queima de boletins de voto ou já me teriam chamado para lá ir tirar umas selfies e distribuir afetos pelos que, para se armarem em heróis, tivessem levado uns valentes sopapos.

JORNALISTA – O Senhor apelou ao consenso pós-eleições entre os principais Partidos. Confesse lá, acha mesmo que António Costa e Pedro Passos Coelho estão atentos a tudo o que diz?

MARCELO R. SOUSA – Os dois, não sei … e se é ao que eu digo, também desconheço, sinceramente. Mas creio que o Dr. António Costa, pelo menos, deve estar a par de algumas coisas a meu respeito, nem que seja só da minha agenda. Digo isto porque não é raro nos encontrarmos fora de Lisboa e nessas ocasiões até acontece fazermos uma festa.

JORNALISTA – Os portugueses sabem que as opiniões de ambos convergem em variadíssimos assuntos.

MARCELO R. SOUSA – Sim, em quase tantos como entre mim e o atual presidente do PSD que me ajudou a eleger. Um facto tanto mais extraordinário, quando eu e ele vimos da mesma família política. Do mesmo partido que vimos nascer.

JORNALISTA – Perante as suas afirmações, impõem-se fazer a pergunta: presentemente sente-se mais social-democrata ou socialista?

MARCELO R. SOUSA – Comunista.

JORNALISTA – Comunista?!

MARCELO R. SOUSA – Precisamente. Como eles, também os critico publicamente, a António Costa e a Passos Coelho, ferozmente por vezes, mas plenamente consciente de que se estivesse no seu lugar a governar, acabaria fazendo tudo exatamente igual a eles.