2014: ano do regresso dos “Regionalismos”? – Nuno Araújo

Na semana passada, os vinte e oito assinaram um acordo que estipula as bases daquilo que será a tão aguardada “União bancária”, ou seja, uma estrutura financeira e jurídica que será um mecanismo de ajuda a bancos em falência ou com necessidades de recapitalização, entre outras. Assim sendo, e em ano eleitoral para o parlamento europeu, 2014 será palco do ressurgimento de movimentos regionalistas e separatistas, até porque só assim é que esses casos podem ganhar mais visibilidade mediática.

Durante alguns anos, a Europa assistiu a uma “cristalização” de alguns movimentos defensores de mais autonomia para as suas regiões, como foi o caso da Galiza em Espanha, ou mesmo a Córsega em França. Porém, alguns casos recentemente surgidos deixam antever o fim deste panorama político, onde os estados nacionais terão de responder de forma eficiente perante novos desafios, sejam eles económicos ou mesmo do âmbito da segurança interna e externa. Os casos que analiso, de seguida, exemplificam, um pouco, aquilo com que os estados europeus terão de lidar a partir do próximo ano, de 2014.

  1. Os “Boinas vermelhas” da região da Bretanha, em França.
    François Hollande, antes de vencer as eleições presidenciais em França, em Maio de 2012, prometera na sua campanha eleitoral introdução “eco-taxas”, ou seja, impostos. Ora, a população da região da Bretanha, composta em grande parte por pessoas ligadas directa e indirectamente à agricultura e à pecuária, respondeu em força, colocando bloqueios em estradas, para além de outras formas de luta pouco convencionais, claro está. Dessa forma, pessoas muito diferentes entre si ganharam, segundo se veícula, um elo que denominam como “interesse regionalista” em favor da Bretanha. O “mal-estar bretão”, como já alguma imprensa francesa vem escrevendo, parece ter tido já resposta pronta por parte da República: Jean-Marc Ayrault dirigiu-se à Bretanha (e lá esteve muito pouco tempo, por motivos de segurança) para assinar um acordo com novas premissas que possam beneficiar o “tecido económico” da região. Fica aqui a pergunta dos editores do jornal francês Le Monde: “Deve o Estado reforçar a sua autoridade (sobre a Bretanha), ou antes de mais descentralizar”?
  1. O referendo à independência da Escócia.
    No dia 18 de Setembro de 2014 será realizado um referendo à independência da Escócia, sobre o Reino Unido. Com efeito, essa será uma data histórica, onde o povo escocês poderá decidir sobre o seu próprio futuro, isto é, se acalenta a ideia de possuir soberania sobre o seu território e demais áreas do país, ou se por ventura desejará prosseguir enquanto mais uma das regiões administrativas da coroa Britânica, da qual faz parte há mais de 300 anos.Dos três exemplos que analiso nesta crónica, a Escócia é para mim o único território que poderá, a curto-médio prazo, almejar a independência. A Escócia é um país dotado de todas as estrutruras de que um estado-nação deve dispor. Apenas tem restado a dúvida quanto à moeda a utilizar, se a Libra indexada à Sterling Pound, ou se antes a Libra mas com valor ainda por definir por futuras autoridades monetárias escocesas.O primeiro-ministro britânico, David Cameron, estará empenhado na campanha pelo “Não” à independência da Escócia, sendo que estará empenhado em fazer cumprir as sondagens que mostram que metade dos escoceses estarão a favor de uma Escócia autónoma, enquanto que apenas um terço estará a favor da independência. Lembre-se que foi Cameron que decidiu favoravelmente pela marcação do referendo para a Escócia em 2014, assim como simultâneamente marcou referendo à presença do Reino Unido na União Europeia, como data de realização para 2017.

    Escócia, país com cinco milhões de habitantes, é governada desde 2011 pelo Partido Nacional Escocês, o qual alega que Londres não “dá muita atenção” aos vizinhos do norte. Contudo, em contexto de crise, e em que a Escócia já não é tão lucrativa para a coroa Britânica como outrora, apesar das potencialidades oferecidas pelo petróleo do mar do Norte e das torres eólicas produtoras de energia, David Cameron julgou (e bem, visto que o “Não” até poderá sair vencedor) que este seria o momento indicado para tal consulta popular.

  1. Referendo à independência da Catalunha: ir-se-à (mesmo) realizar?
    A Catalunha, tal como o País Basco, tem motivos históricos para reivindicar a sua independência face a Espanha, sobretudo devido às fortes diferenças culturais catalãs face ao resto das regiões espanholas, assim como devido à repressão de que a região e seus habitantes foram alvos no longo período negro do franquismo (1939-1976), em que na “noite longa” catalã fosse proibido o uso da língua catalã. Verdade é que a Catalunha, apesar destas e muitas outras razões para justificar plenamente o direito à existência enquanto estado-nação, nunca foi respeitada para o efeito, nem mesmo para a realização de uma consulta ao povo acerca do tema.Artur Mas é o actual presidente da Generalitat de Catalunya e reafirmou, na semana passada, a sua intenta em realizar um referendo, onde os eleitores catalães são convidados a responder se concordam, ou não, com a independência da Catalunya enquanto estado soberano e desvinculado administrativamente de Espanha.Porém, e após se ter apercebido de que o seu passo foi “maior que o tamanho das pernas”, ou seja, que a maioria dos partidos nacionais espanhóis não foi muito receptiva à ideia de uma consulta popular nesses termos, Artur Mas admitiu conversações com o governo espanhol. Conversações essas sobre as quais Mariano Rajoy, presidente do Conselho de Ministros, já comentou que não sabe “do que vamos falar”. Esta meia resposta chegará para um bom entendedor…

 

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana