assobiar

A Arte de Assobiar

Quem gosta de assobiar coloque o dedo no ar sff! Ora aí está…eu sabia que havia por aí muitos leitores viciados no bom, e velho, assobio! Sim, porque isto de assobiar já esteve mais na moda do que agora, convenhamos. Bom, mas estando na moda ou não, a verdade é que assobiar de forma delicada e talentosa não é para qualquer um! Pois, porque assobiar também é uma arte! Não concorda? Então leia esta crónica e verá que sei do que falo! Sim, porque esta semana o “Desnecessariamente Complicado” é dedicado na totalidade ao dom de assobiar!

Tudo para ler aqui, no seu Mais Opinião, como é óbvio!

Acredito piamente que Deus deu a todos pelo menos um talento. E se há pessoas que têm talentos de espantar meio mundo também há aqueles cujo único feito é assobiar melhor que a média da população mundial. E escusado será dizer, penso eu, que faço parte deste último grupo de pessoas. Acho que faço muitas coisas de forma mediana/satisfatória, mas apenas umas três (ou quatro, no máximo) verdadeiramente bem. E até me provarem o contrário considero-me um assobiador particularmente dotado (vou deixar à consideração da vossa imaginação quais os meus restantes talentos…)!

Para mim o que aconteceu foi o seguinte. No momento da minha criação Deus viu-se num impasse: tinha que me dar algum talento mas não sabia qual. Cantar não era uma solução e só a mera hipótese de me ver dançar fazia-o rir. Ainda pensou no croché mas, à última da hora, percebeu o quão má era aquela ideia. Depois de muito ponderar chegou a duas derradeiras alternativas: assobiar ou o potencial para ser Campeão Mundial de Skate. E, para ser sincero, não me queixo do que me calhou na “rifa”. Sim, porque bem vistas as coisas assobiar aleija muito menos que ser skater! E uma das regras que tem regido a minha vida é: “foge sempre de tudo o que te possa aleijar”. E cheira-me que andar de skate podia, ocasionalmente, esfolar um joelho ou outro.

Contudo a verdade é que mesmo o assobio pode trazer alguns dissabores. Sim porque, infelizmente, nem todo o mundo partilha da mesma paixão por esta tão nobre arte. Os meandros da vida de um assobiador compulsivo estão recheados de muito mais dor do que vocês pensam, a sério! É que quem gosta verdadeiramente de assobiar fá-lo por diversas vezes no sua dia-a-dia. Ou seja? É muito provável que encontre pelo menos uma pessoa que diga: “Mas tu não te calas? Se não paras de assobiar sozinho o meu punho ajuda-te….”. E, perante ameaças deste calibre, é óbvio que o assobio se cala. Entretanto passam uns minutos e o assobio retorna, como se nada se tivesse passado. E é esta a rotina de um assobiador compulsivo.

Mas falemos um pouco mais a sério: afinal porque raio não é o assobio mais respeitado? Se quem canta bem é aplaudido de pé não faria sentido congratular, de forma igualmente épica, quem tem nos lábios a melodia de um autêntico rouxinol? É que nem sequer faltam exemplos de músicas mundialmente famosas que contenham assobios. Por exemplo? Podemos começar no imortal hit de Bobby McFerrin (“Don’t Worry Be Happy”) cuja melodia assobiada é tão poderosa que basta ouvir uma vez para nunca mais esquecer. Ou então pelo igualmente histórico “Walk Like An Egyptian” das The Bangles que nos transporta imediatamente para o antigo Egipto.

Obviamente que existem muitos mais exemplo. O quê, não se lembram de nenhum? Então eu ajudo: “The Stranger” (de Billy Joel); “A Fistful of Dollars” (do inigualável Ennio Morricone) e “Patience” (dos míticos Guns N’ Roses). Ainda não estão convencidos? Então dou-vos mais três exemplos: “Young Folks” (o trio Peter, Bjorn & John); “Wind of Change” (dos Scorpions) e “Love Generation” (de Bob Sinclair). Já sei, querem mais três exemplos não é? Cá vão eles: “Moves Like Jagger” (da inesperada dupla Maroon 5 e Christina Aguilera); “Leãozinho” (do “nosso” Caetano Veloso) ou ainda “(Sittin’ On) The Dock Of The Bay” (do mestre Otis Reding). Mais? “Over My Shoulder” (de Mike and the Mechanics); “Summer Paradise” (dos Simple Plan e de Sean Paul) ou ainda “Tighten Up” (dos geniais The Black Keys).

“Ah, isso é tudo muito bonito mas onde estão as músicas portuguesas (ou de autores portugueses) com assobios?”. Mas vocês acham que me apanham desprevenido? “Insónia” (do jovem e talentoso Filipe Pinto); “I Would Love To” (da singular Luísa Sobral) e “Só a Ti” (da talensosa dupla Miguel Araújo e João Só). Querem mais três? “Superstars” (do génio contemporâneo David Fonseca); “Violinos no Telhado” (dos jovens Os Pinto Ferreira) e “All Good Things (Come To An End)” (da luso-canadiana Nelly Furtado).

Portanto, como podem constatar, o que não faltam são músicas com assobios. E ainda bem, diga-se de passagem. Até porque o assobio é uma forma de nos relacionarmos mais rapidamente com a música (e, por consequência, com o(a) autor(a) da mesma). Nunca repararam na quantidade de assobios que existem na publicidade? Pois, não pensem que é por acaso! Usar assobios é apenas uma, de milhares, de estratégias de marketing para que prestemos atenção aquele anúncio (e à respectiva marca).

E se, por acaso, os estimados leitores forem entusiastas do assobio então tenho excelentes notícias. É que Leiria tem, a partir de agora, mais um motivo de atracção: um curso dedicado à arte do assobio! Sim, leram bem: um curso apenas e só sobre assobiar! A responsabilidade é da Sociedade Artística Musical dos Pousos (SAMP) e tudo nasceu graças a uma inocente proposta de uma aluna.

No passado mês de Maio escola, e aluna, começaram a trabalhar em conjunto. O resultado? O primeiro curso de assobio do país (e, muito possivelmente, do mundo porque tanto quanto sei não existe nada semelhante noutra parte do globo). Através do assobio, Célia Simões, para já aluna única, percorre vários estilos musicais, do pop ao rock, do soul ao reggae. O objectivo passa, evidentemente, por crescer e atrair cada vez mais alunos.

Se o curso irá resultar, ou não, ninguém sabe. Mas seja qual for o seu destino há algo que ninguém tira ao SAMP: a ousadia e a coragem de criar um curso único, concretizando algo que todos julgavam impossível! Portanto assobiadores deste país uni-vos e ajudai o curso de assobio criado pelo SAMP! Uma instituição que faz tanto pelo assobio merece, sem sombra de dúvida, o nosso respeito!

Sabem o que vos digo? Ouçam boa música e assobiem muito. A humanidade agradece.

Boa semana.
Boas leituras.