A União faz a Força – Nuno Araújo

A sessão que juntou a esquerda toda num só palco, em torno da contestação à Troika e ao governo PSD-CDS de Passos Coelho, marcou a semana passada, no plano político. Mário Soares, que organizou o referido evento, foi brilhante na forma como endereçou críticas ao Presidente da República, Cavaco Silva. Pelo meio, Mário Soares aproveitou ainda para relembrar aos simpatizantes do PSD e críticos de Passos Coelho, que a social-democracia de Francisco Sá Carneiro não colocava o PSD à direita. Prosseguindo com verdades, deu-se uma verdadeira união das esquerdas, pois todos os partidos de esquerda mais representativos estavam lá, desde o PS, PCP, BE, e até PCTP-MRPP, e todos estes partidos estão unidos contra este memorando que o governo elaborou e assinou com a Troika.

Só a união da esquerda contra o situacionismo poderá fazer o país ressurgir e recuperar o estado social. A falência do serviço nacional de saúde, da segurança social e da educação parecem ser o caminho que o governo irá percorrer, mas são conquistas que não poderão ser espoliadas. O PS e restante esquerda são os fiéis depositários da esperança que ainda resta aos portugueses numa retoma económica e na reposição dos valores sociais fundadores da nossa democracia.

O desemprego atingiu 17,8% em Abril, e perante este cenário dramático, o governo criará apenas 5 mil estágios para jovens licenciados no desemprego. Parece óbvio, pois, que o governo está no “fim da linha”, não a de Paulo Portas mas sim a linha do povo, e agora mais do que nunca, as eleições autárquicas serão a oportunidade para os portugueses usarem do poder do seu voto e “demitirem” o governo de Passos Coelho. Só a união dos portugueses contra as políticas de austeridade do PSD e da Troika poderá recuperar alguma esperança para o nosso país.

Outras ambições: ilusionismo, independência (?) e insensibilidade

“A nova Catarina” tem uma nova ambição: “fazer de conta” que não é do PSD.

Moita Flores concorrerá à presidência da Câmara de Oeiras, peloom uma nova ambição: a de ser ilusionista. O “truque de magia” de Moita Flores consiste em não colocar nos seus cartazes promocionais a sua associação ao PSD, o partido de Passos Coelho no governo, e assim “fazer de conta” que não tem nada a ver com o PSD.

Mas Moita Flores não é independente coisa nenhuma, é antes o porta-estandarte da “obra feita” (e diria até desfeita) pelo governo de Passos Coelho. Basta ver a sua “obra” que ficou por fazer em Santarém.

Vamos por partes. A candidatura de alguém a um determinado órgão político, como uma câmara municipal, obedece sempre a vários critérios. Um desses critérios deve ser, a meu ver, a concordância que se tem, ou não com a política do partido pelo qual se concorre. Será que Moita Flores, mesmo não sendo militante do PSD, concorda com as políticas do governo de Passos Coelho e do PSD? Ou, por outro lado, sendo independente, estará Moita Flores contra as políticas do governo? Se sim, porquê concorrer a Oeiras pelo PSD?

Poderá Moita Flores ser indiferente à destruição gerada ao nosso país por Passos Coelho e pelo governo PSD?

Ora, se um candidato independente, ainda que ilusionista, for indiferente à má política do governo PSD, então “as novas Catarinas”, “os novos Pedros”, “as novas Patrícias” e “os novos Tios” terão mais uma nova ambição: a insensibilidade. Sim, Moita Flores, um ilusionista independente e indiferente às políticas do governo PSD é claramente insensível ao sofrimento sentido pela população oeirense, tal como foi insensível perante as necessidades dos munícipes de Santarém. Tanta coisa que ficou por fazer…

A “nova ambição” da candidatura de Moita Flores e do PSD parece não entender que as pessoas não querem ser novas. As pessoas necessitam de, isso sim, uma nova e melhor vida, onde a autarquia as ajude a ultrapassar dificuldades sentidas pelas pessoas no dia-a-dia, como nas necessidades mais básicas, na alimentação, nos cuidados de saúde, em medicamentos, na educação, nas refeições tomadas pelas crianças nas escolas, e em todas as áreas onde uma Câmara ou uma Junta de Freguesia possam fazer a diferença no dia-a-dia de milhares de pessoas. E isso, meus amigos e minhas amigas, Moita Flores não foi capaz de fazer bem em Santarém, o concelho de onde o agora candidato a Oeiras pelo PSD saiu.

As Catarinas, os Pedros, as Patrícas e os Tios não podem passar fome. E só uma política séria, que ambicione, isso sim, unir as pessoas é que consegue combater a miséria que começa a avolumar-se um pouco por todo o nosso país. A ambição do poder local, seja em Oeiras, Lisboa, Cascais, Sintra, Porto, Gaia, ou noutro concelho do país deve ser a de resgatar Portugal do abismo económico, social e financeiro em que o governo PSD nos colocou a todos, sobretudo porque o governo tomou o povo como o seu próprio inimigo.

Perigo: eurocepticismo alemão oficializado

Günter Oettinger assumiu-se como “caudilhe” da nova vaga de eurocepticismo de uma camada populacional germânica. Oettinger, que é o comissário europeu da energia, criticou a própria UE e os parceiros europeus, imagine-se. A Assembleia das Câmaras de Comércio Germano-Belga-Luxemburguesas, deste ano, contou com a presença de Oettinger, que milita na CDU, partido de Angela Merkel, a chanceler alemã. E nessa conferência, Oettinger discursou, afirmando entre outras coisas que “em vez de combater a crise, a Europa festeja-se a si mesma e comporta-se como se fosse um “centro educacional” para o resto do mundo”. Sobre alguns países periféricos, sustentou que “Bulgária, Roménia e Itália são países fundamentalmente ingovernáveis”. Sobre França, o comissário considera que “não está nada preparada para fazer o que seria necessário”, como reduzir o valor das pensões, aumentar a idade da reforma e cortar nas despesas do estado. Este comentário juntou-se aos “recados” enviados por Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, e que iam na mesma direcção, ou seja, de o governo gaulês aderir à austeridade.

A resposta de François Hollande não se fez esperar: “Comissão Europeia não dita à França o que temos de fazer!”. Melhor resposta é impossível, pois recusar a austeridade é apontar muito claramente à existência de um plano de intenções no sentido de trilhar um outro caminho para a UE.

A CDU de Merkel necessita de providenciar algum distanciamento face às instâncias comunitárias e parceiros europeus, pois na Alemanha vive-se a ilusão, favorecida pela comunicação social germânica, de que a economia do país cresce “de vento em popa”. Ora, a economia germânica já está estagnada, e quando entrar em recessão, os responsáveis políticos do governo alemão vão culpabilizar a UE no seu todo, Portugal incluído, pelo fiasco da sua política neoliberal, defensora de austeridade para os outros e de crescimento desregrado para os seus.

Isto não pode continuar assim, a os planos de Merkel e do seu “staff” devem ser detidos. Há que aguardar pelo desfecho das eleições alemãs, que serão disputadas a 22 de Setembro, e “torcer” por uma vitória do SPD, de Steinbruck, sobretudo para quem quiser a UE unida e com futuro risonho pela frente. Para aqueles que defenderem que a UE deve ser desmantelada e que o Euro também deve “acabar” enquanto divisa comum a mais de uma dezena de estados-membros, então esperar uma vitória de Angela Merkel e da sua CDU é a chave para isso suceder.

Eu desejo uma vitória de Peer Steinbruck e do SPD, que poderão aliar-se aos Verdes e assim governar pelo futuro da UE, e não contra o futuro do mais belo projecto de solidariedade, coragem e visionarismo criado no século XX. Há muito mais a perder do que a ganhar, pelo cidadão europeu comum, na queda do ideal Europa.

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana