Acerca da Psicossomática – “Sentimentos que nos adoecem ou curam”

1. “O QUE É A DOENÇA PSICOSSOMÁTICA?”
Se é verdade que as doenças físicas apresentam sinais e sintomas identificáveis que podem ter tratamento ou cura, consoante os casos e gravidade, também é verdade que antes de algumas destas doenças se instalarem no corpo das pessoas e manifestarem os sintomas a elas associados, elas começaram muitas vezes na “cabeça” e no “coração”… É o caso das Doenças psicossomáticas.
As doenças de origem psicossomática, ou seja, que começaram de fato nos pensamentos e sentimentos, surgem a partir de algo que é a história psicológica da vida do sujeito, e é perante o silenciar dessa história dolorosamente sentida que se forma a doença. Como o nome indica, Psicossomática – Psico (Mente) + Soma (Corpo), trata do “Poder da Mente” sob o Corpo, ou seja naquilo que de influência tem sob o corpo a mente humana.
Na Psicossomática, o corpo adoece, porque a mente esteve doente primeiro…Ou seja, o corpo vai “contar a história que a mente não soube contar, não soube expressar, não conseguiu transformar. O corpo adoece tendo por base os sentimentos e pensamentos, a história psicológica das emoções e a história de vida do sujeito, que a viveu no seu silêncio interior, por exemplo, até que “ganhou forma”, tornou-se doença física. Quando os pensamentos e sentimentos tomam a forma física, expressando-se no corpo através da doença, estamos perante a doença psicossomática.
A doença começa pelos sentimentos e pensamentos, começa na mente, mas uma vez instalada no corpo é real, física, e muitas vezes irreversível até dada a sua gravidade.
Alguns estudos apontam mesmo para contornos psicossomáticos de doenças tão graves como a insuficiência renal crónica, a artrite reumatóide, e o cancro nos mais diversos orgãos do corpo.
A Asma, doenças respiratórias, doenças dermatológicas (psoríase, seborreia, acne, etc), doenças do aparelho digestivo, e até vários tipos cancros têm sido associados na sua origem a fatores psicossomáticos.
Obviamente é rara a existência de apenas um fator no desenvolvimento da doença. Os cancros por exemplo têm por base causal aparentemente múltiplos fatores, e em determinados casos prova-se que são agentes químicos e agentes externos vários que causam o cancro. Isto não invalida no entanto que haja outro fator que contribui para desenvolver o cancro em si, determine a sua gravidade, recidivas ou velocidade de “propagação” dentro do organismo, e até o seu potencial de cura. Este fator é o psicossomático – aquele que está na sua origem e potencia eventualmente a sua cura, se transformado.
Assusta um pouco percebermos o “poder da nossa mente”, o poder dos sentimentos e pensamentos que alimentamos anos a fio nas nossas vidas. Sobretudo “assusta” quando percebemos que os pensamentos e sentimentos ganham a forma de doença, como na psicossomática parece ser o caso.
Mas não é para termos medo. Apenas para termos a noção de que se a mente provoca a doença, também a poderá em muitos casos curar, ou pelo menos, ajudar na sua cura ou tratamento.
No entanto é preciso não esquecer que depois de formada a doença, consoante a sua gravidade, muitas vezes é tarde para reverter o processo, embora seja sempre positivo mudar de atitude perante a vida.
2. “SENTIMENTOS QUE ADOECEM E DICAS PARA OS TRANSFORMAR”
Atenção, não precisamos de estar permanentemente “alegres”, nem ser “santos”, para ter saúde mental e física…Precisamos isso sim de aprender a conhecer os nossos pensamentos e sentimentos e arranjar estratégias ao longo da vida que permitam aumentar os que nos são benéficos e transformar os que nos podem fazer mal; no fundo, arranjar forma de lidar com pensamentos e sentimentos mais negativo, mas humanos e portanto nossos, de forma a que eles não nos prejudiquem, nem aos outros,antes possam ser direccionados, canalizados, sublimados, transformados de forma benéfica. Não é de todo positivo reprimir esses sentimentos mais negativos ou na alternativa oposta “passá-los ao ato” (agir em função do sentimento negativo sob um alvo – o próprio ou o outro). É positivo, isso sim, transformar e (re)direcionar esses sentimentos de forma inteligente e eficiente.
Parece ser certo e seguro que os pensamentos negativos e sentimentos como o medo, a raiva, o ódio, o desejo de vingança, tristeza persistente, stress, inveja, sentimentos de inferioridade, zanga extrema, culpa excessiva, e negativismo em geral,estão associados a determinadas doenças físicas, à sua origem ou à sua evolução e desenvolvimento no organismo.
A Psicossomática tem provado e mostrado ao longo dos últimos anos o grau em que a personalidade prévia do sujeito e as emoções contribuem para a instalação da doença.
Como sabemos no entanto: “não há doenças, há doentes”, e cada caso tem de ser visto individualmente.
Importa refletir sobre as nossas emoções e em como o pensamento positivo e os sentimentos benéficos, tal como os sentimentos menos bons se transformados porque bem resolvidos, podem influir positivamente na saúde física. Estes últimos sentimentos, os “maus” se quisermos assim chamar-lhes, podem deixar de ser negativos se expressos e trabalhados inteligentemente, o que se pode fazer por exemplo:
a) Em psicoterapia e/ou análise pessoal ao longo da vida, sem ser em situação de crise. Estes sentimentos são trabalhados pelo próprio e o terapeuta no “setting terapêutico” (espaço de psicoterapia ou análise), e daqui deriva uma continuidade do trabalho “psicológico” que a pessoa faz também fora do “setting”, e que a vai modificando;
b) Sublimados através da criatividade artística ou científica; qualquer forma de arte e de ciência, desde que criativa, transforma sentimentos ou pensamentos negativos em “obra criativa”;
c) “Canalizados” ou “colocados”, no desporto – a agressividade e a frustração, por exemplo, são muito bem “resolvidas” em atividades desportivas, tal como a ansiedade nalguns casos);
d) “Controlados” ou disciplinados através de artes marciais por exemplo;
e) “Esvaziados do seu efeito nocivo”, se quisermos pensar assim, através de técnicas de relaxamento ocidentais (técnicas sofrológicas por exemplo) e/ou técnicas orientais (meditação, ioga, yoga).
f) “Neutralizados no seu efeito negativo” através de “coisas simples” na vida, e de acordo com o local onde se está. Um passeio à beira-mar, à beira do rio ou de um lago, num Parque natural, no jardim, ou onde quiser ao ar livre; a leitura de artigos, poesia, obras literárias interessantes para o próprio, um simples banho relaxante em água tépida e/ou revigorante em água fria do mar ou de uma cachoeira, ouvir uma música harmoniosa e suave, uma ida a uma exposição do seu interesse, museu ou monumento, assistir a uma peça de Teatro, Bailado ou Concerto, desde que adequado a si próprio a às suas preferências; Etc., etc., etc.; As coisas simples na vida que produzem “milagres” na disposição das pessoas e no seu dia.
A mudança de atitude diariamente traz mudanças profundas a longo prazo, e pode mesmo prevenir a doença física ou ajudar à sua cura ou tratamento.
Tenhamos pois a força e a determinação para modificar o nosso “sistema” de pensamento, aprender a gerir as emoções e a transformar os sentimentos.
Associemos a esta mudança novos e saudáveis hábitos e estilos de vida (alimentares, horários, rotinas), tudo isto gradualmente.
Corpo São em Mente Sã, Mente Sã em Corpo São, passam afinal e também pelo “Coração” e pelos sentimentos que alimentamos e transformamos.
Há que confiar que as pequenas mudanças, que transformem o negativismo, a mágoa e a dor, conduzem frequentemente a mudanças profundas que nos tornam pessoas mais saudáveis.
– E se a doença física já se instalou?… Nestes casos o desafio que temos pela frente ainda é maior, sem dúvida, mas uma boa atitude e uma mudança no sentido positivo vão seguramente fazer com que nos sintamos melhor, que consigamos ter melhor qualidade de vida, e lidar melhor com a doença e com o seu tratamento, seja ele para a cura ou para aumentar a qualidade de vida ou até a vida em si.
– Um dia de cada vez. Porque todos os momentos contam como vivência e porque em cada dia temos oportunidades únicas para evoluirmos e usufruirmos desta nossa existência.
– Termino a crónica de hoje com uma reflexão que convosco partilho, que me lembra da importância que a nossa mente tem de fato na gestão da nossa vida, e em como ela se associa com a boa gestão das emoções perante cada situação, muitas delas nada positivas, mas onde é sempre decisiva a nossa atitude no momento e nos tempos que se lhe seguem. Simplesmente:
“Na vida o importante não é ter boas cartas na mão, mas saber jogar bem com um mau jogo”.
Robert Louis Stevenson (*)

(*) Nota da autora: Robert Louis Stevenson, nasceu em 1850 na Escócia, escritor/novelista/poeta. Dentre as várias obras de que foi autor destaca-se o célebre clássico “O Médico e o Monstro”. Foi um ativista político dedicado, humanista e crítico social. Faleceu em 1894, nas Ilhas Samoa.