Adeus, Sarah! – João Nogueira

Não bulas, está quietinho…

“Há males que vêm por bem” ou “Deus escreve direito por linhas tortas”. Podes escolher entre a “A” ou a “B”…

Escolho a “C”, então.  Tenho dificuldade em acreditar Nele, quanto mais acreditar que é alfabetizado.

Tudo o que não quero é exorcizar-te de mim. Acho as convulsões muito aborrecidas e não me parece bem estrebuchar e parir-te à frente de toda a gente! Fico com vergonha, com a cútis vermelha!

Tu ainda és o meu alelo, o meu “alelinho”! Ficas em mim!  Não tu, porque tu zarpaste de foguetão, mas o teu “tu” de outrora. Esse, lamento, mas tatuaste-mo na veia cava. Não sai nem a laser!

O tempo cura tudo?

Não, não cura! O tempo não passa de um curandeiro “chupista”, um Pai-de-Santo oportunista, um falso sacerdote maoista. O tempo é um trafulha!

Desancorei “daqui” para te catarsar, Sarah.Eu tinha de voltar a cheirar catinga, de ler, naquela livraria, o Mia, e, lamento se não entendes, mas precisava de olhar para aquele cais, igual a tantos outros, mas tinha de ser aquele.
“Lá”, penso melhor, enquanto fumo desalmadamente, até  o filtro desaparecer!
Acreditei no tempo! acreditei, inclusive, que ia desentrançar os fios do nosso tear. Falso, meu amor! Como Judas!
Fomos desentrelaçando as mãos aos poucos! Aos poucos não, aos muitos!
Gastámos as palavras, como diz o Eugénio…

Somos pretérito perfeito de um verbo irregular, há que assumir!  Gaguejo sempre que te conjugo! Conjugo-te mal, não estou habituado! O Futuro, esse, era suposto ser para nós. E não só para os dois. Por mim, até podíamos ser sete.  Ou dezassete!
O Futuro, esse, fez a trouxa e abalou. Nunca mais ninguém soube nada dele.

“Lá”, no local onde atraquei, sussurram-me, aliás, balbuciaram-me muito baixinho para Te deixar ir…( foi a última vez que te pus uma maiúscula! Dá-me treze segundos para te inspirar e para te expirar, por favor)
Percebi à primeira!
Fomos para o maneta! Não eu e tu. Nós…
“Lá”, percebi aquilo que já me deixava surdo “aqui”! E sim, sem teoremas, por favor. Foi mesmo preciso ir “lá”.

Sarah, que não és nada Sarah, estou quase novo. Catarsado de fresco, com a barba escanhoadinha, cuzinho de bebé!
Não vou bulir em nada! Continuo a responder “C”, vou sempre responder “C”. Tu mereces. És do melhor que há! Mas repito, não bulo em nada! Não faz sentido…

Não foi o tempo que me ajudou! O tempo não sabe nada, nem as horas. Confunde os ponteiros e vê mal ao longe.  Fui eu que me ajudei! Saiu-me do corpo!  E dos olhos. Mas o que  menos doeu foram os jactos de lágrimas. Chorar toda a gente chora. Doía era quando não chorava!

As regras são minhas, agora. Só minhas! Hei-de ir ao Evereste! Não para já, porque não tenho vontade! Não para já, mas hei-de lá ir e auto-propor-me subir a montanha mais alta do mundo! É provável que não o consiga, os meus bíceps são tão fraquinhos, coitados! Mas vou…

Os meus braços podem não chegar lá acima, mas chegam para ” partir o focinho” ao meu Adamastor e chegar aonde tiver que chegar! O meu destino, mesmo para quem não acredita em destinos, é aí, nesse lugar…

Quanto a ti Sarah, serás sempre uma viajante da minha viagem! É incontornável este pleonasmo, não estejamos com Avé Marias cheias de graça! Sem graça nenhuma…
Não vais é ao meu lado…

Este fulano, finguelas, trinca-espinhas, ateu, em tempo algum o será com a vida. Nela creio e dela sou apóstolo…

Adeus, Sarah!

JoãoNogueiraLogoCrónica de João Nogueira
Pés bem assentes na lua

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