O amor não escolhe géneros

Crença. A grandiosa premissa para a verdade. Ou para o parecer bem educado. Convicta. A malvada.

Não abono em Deus. Não acredito nesse ser que fala de boca encerrada. De boca encobrida. Nem tão pouco na fidelidade absoluta. De Deus, obviamente. Mas devo obediência. À opinião alheia.

Não acredito nessa máquina voraz que cura malefícios. Não acredito nessa solidez que embala o destino. Que o classifica. Não creio nessa firmeza que promove a alegria. Tudo de forma gratuita. Enfim.

Acredito na fome. Ou na penúria. Porque tem rosto. Acredito na violência. Quer física, quer verbal. Porque deixa marcas. Acredito no padecimento. Porque deixa consequências. Conclusões abreviadas. Mas, apesar de todas estas convicções; respeito, acato, apreço. Até o falso moralismo. A falsa preeminência da moral.

Os “Teus Olhos” de Florbela Espanca

Olhos do meu Amor! Infantes loiros/Que trazem os meus presos, endoidados!/Neles deixei, um dia, os meus tesoiros/Meus anéis, as minhas rendas, meus brocados

Esqueleto. Um pequeno mantimento que sustenta algo. O amor. Que não tem raça. Que não possui idade. O amor. Que não escolhe género ou religião. Somos apenas humanos. Pedaços de experiências quotidianas. Somos.

O amor não escolhe géneros. Homem com homem. Mulher com mulher. Mas existe o julgamento. Do que é visível. E do que se encontra escondido. Vulgaridades ainda bastante discutidas nos dias que correm.  Com a orientação sexual a atingir o expoente máximo. A mãe de todos os preconceitos. De todas as questões. O ladrar de todos os cães inoportunos.

Homem com homem. Sentir as mais diversas tempestades na barriga. É possível. Mulher com mulher. O olhar perdido. É possível. Homem com homem. A cabeça nas nuvens. É possível. Mulher com mulher. A vontade de querer sempre mais e mais. É possível. Porque o amor acontece. É normal. Inesperado. E funciona. Apesar do longo caminho. Apesar da luta constante. Por todos os direitos. É possível. E pode ser belo.

Recuso-me a guardar um mundo que não rega as flores de igual forma. Recuso-me a aceitar a desigualdade. Admiro a naturalidade.  Ambiciono a narrativa do amor. A linguagem universal de todos os sentires. O desejo sexual. O desejo homossexual. Ou bissexual. Não importa. O que realmente carateriza o amor é a legitimidade. E a igualdade.

O “Silêncio” de Florbela Espanca

Estou junto de ti e não me vês…/Quantas vezes no livro que tu lês/Meu olhar se pousou e se perdeu!

O amor acontece quando deixamos de ser parvos. Casmurros. O amor acontece quando deixamos a porta aberta. Juntamente com as janelas. Quando entra alguém. Sem licenças. Sem pés a raspar o tapete. O amor une dois sentimentos. O amor une duas pessoas. E um infinito amor.

A aptidão de amar impera. Supera todas as barreiras existentes. Quebra todas as orientações. Ou opções. Para os palermas do costume. A capacidade é um factor importante. Principalmente para os que sentem atração física, estética, ou emocional por outros do mesmo sexo ou género. A tão implicativa homossexualidade.

O “Nosso Livro” de Florbela Espanca

Livro do meu amor, do teu amor/Livro do nosso amor, do nosso peito…/Abre-lhe as folhas devagar, com jeito/Como se fossem pétalas de flor

O momento é irrelevante. O cansaço inexistente. Espero por ti desde que nasci. O coração deixou de exercer a sua função. Por alguns segundos. O movimento dos lábios é inebriante. Dos teus. Dos meus. Os olhos reviram a terra. E recomeço. Porque cada dia na tua presença é uma vida inteira. Inundo o corpo de água. Ou de suor. Penso em ti quando acordo. Sorrio. Penso em ti antes de adormecer. E vislumbro um milhão de estrelas. Dedos com dedos. Entendo-te como se hoje fosse. E o tempo é agora. Sou agradecida por não acreditar em Deus. Sou agradecido por não acreditar em Deus. E nas ideologias que denunciam a ignorância. Contigo as dificuldades fazem sentido. O amor é tudo aquilo que sou quando estou a teu lado. O melhor de mim.

De Joana Para Maria.

De André para Miguel.