Angola: dois passos atrás

O “sonho angolano” terminou. O crescimento do PIB de Angola à custa do elevado preço do petróleo tem agora o seu fim, e a economia muito dependente do “ouro negro” fica refém das suas próprias contradições internas.

O regime autocrático do Presidente José Eduardo dos Santos, e do seu MPLA, chega a 2016 e vê a Standard & Poors a baixar o seu rating, de “B+” para “B”, face à queda nas exportações de petróleo e na geração de escasso lucro daí advindo.

Voltemos um pouco atrás na história. Já em Novembro de 2014, o orçamento de Estado angolano fazia previsões do crescimento do PIB angolano em 9,7%, para mais de 133 mil milhões de euros. Porém, esse crescimento foi muito mais modesto, restando ainda saber dados oficiais acerca dos valores de crescimeno angolano para 2015. A descida do preço do barril de petróleo, que atingiu valores a rondar os 30 dólares, far-se-á notar para o orçamento de Luanda para 2016, em que o preço tem por referência uns razoáveis 45 euros…isto sem contar, claro com a presença do Irão a vender cada vez mais petróleo e a preços cada vez mais competitivos. Por isso mesmo, o crescimento angolano já só será de 3,3%…segundo as previsões do Orçamento angolano. E para isso o barril de petróleo terá de valer pelo menos 45 euros…o que deixa antever crescimento zero para o país africano durante este ano de 2016.

A China, principal investidor em Luanda, já começou a “tremer” com “miniderrocadas” financeiras que denotam a fragilidade da sua economia capitalista de inspiração maoista, onde o governo chinês se transveste de bancos e de seguradoras para controlar os mercados de acções. O Deutsche Bank, investidor de grande porte na China, e que terá activos no valor de vários triliões de euros, necessitará de farta liquidez para o Verão deste ano, e para o próximo ano…o dinheiro faltará…será que forçar Portugal a mais um resgate resultará desta vez, isto em plena crise europeia de Schengen? Será que a velha receita da austeridade nos países do Sul da Europa, por forma a “alimentar” os bancos alemães, verá novamente a luz do dia, para mais aquando da iminente derrocada da UE como a conhecemos?

Voltando a Luanda, e perante os preços baixos do petróleo, em que a Europa tanto beneficia, a questão que se impõe será: até quando estarão os agentes exploradores petrolíferos disponíveis para manter o investimento actual na extração de brent em Angola? Ou seja, por aquilo que se pode verificar, o preço de exploração do petróleo, desde a extração até à refinação, é cada vez mais baixo, logo os custos serão cada vez mais incomportáveis, o que poderá colocar reservas a algumas petrolíferas quanto à continuidade do nível de investimento nos negócios em solo angolano. Angola, segundo maior produtor de petróleo da África a sul do Saara, produziu em média mais de um milhão e meio de barris por dia. As consequências de um desinvestimento estrangeiro em terras de José Eduardo dos Santos serão desastrosas.

As primeiras consequências do abrandamento da economia angolana fizeram-se ver desde o princípio da crise cambial. Luanda não consegue comportar o preço elevado do cambio de kuanzas para euros e dólares, o que fez com que se limitasse a troca de divisas. Os vencimentos dos trabalhadores estrangeiros que eram pagos em moeda estrangeira passaram a sofrer atrasos, o que já provocou o regresso de milhares de trabalhadores portugueses a Portugal, sendo que milhares de outros provenientes de diversos países africanos também já abandonaram aquele que foi, durante estes últimos dez anos, o “eldorado” para uma série de empresas portuguesas.

Agora, e perante uma economia pouco diversificada, Luanda luta contra a terceiromundista falta de medicamentos e alimentos. O regime angolano luta pela própria sobrevivência, fazendo a chamada “fuga para a frente”, levando a julgamento grupos de cidadãos que se manifestam pacificamente contra o poder instalado de forma tirana em Luanda desde o 27 de Maio de 1977, lançando lutas diversas em Portugal para controle de bancos e orgãos de comunicação social, mas terá a oposição, pelo menos aparente, do BCE e do Parlamento Europeu, e claro do governo português, que conta garantidamente com a actual Ministra da Justiça, Francisca Van Dunem. Em dez anos, Angola deu um passo em frente, mas agora poderá estar prestes a dar dois passos atrás.