Anúncio: oferece-se uma cólica renal!

Por mais voltas que a vida dê, por mais pessoas que me tentem incutir o oposto, não consigo deixar de acreditar cada vez mais na frase “o ser humano nasceu para sofrer!”. Pois eu sou esse tipo de ser humano. Tudo me acontece. Mas nunca se trata de algo positivo. É sempre o pior, o mais doloroso e o que me faz acreditar que, numa outra vida, devo ter sido um dos piores seres humanos de que há memória, pois agora estou a pagar valentemente por isso. Provavelmente devo ter sido um extraordinário ditador, ou um vilão ao estilo de Darth Vader – um ser malicioso, horrível, com poderes extraordinários mas com um coração mole.

Já passei por alguns difíceis dissabores na minha ainda curta vida (Sim, curta… só tenho AINDA 35 anos de idade… Hum.). Já parti um braço, parti nove vezes a cabeça, fiz três luxações e respectiva operação ao ombro, e até três entorses no tornozelo direito. Mas nada disso se compara ao horror por que passei mais recentemente: o raça de uma cólica renal. Por Deus, como isso é simplesmente doloroso. Nunca me tinha acontecido algo assim.

Por norma, todos os domingos faço questão de ir almoçar à casa dos meus pais (Sim, vou mesmo lá cravar o almocinho porque a vida está difícil… Mas para todos os efeitos apenas o faço porque tenho saudades deles e para eles terem a possibilidade de privarem um pouco mais com a sua neta linda e querida. Ficamos assim, está bom. Que eles não irão ler esta crónica. Fica um segredo só nosso…). O almoço correu bem, como sempre. Mas foi a caminho de casa que a coisa se complicou bastante. Foi no carro, enquanto conduzia, que a coisa se complicou. A dor surgiu de repente. Uma dor absurdamente estranha e desconfortável. Assim que cheguei a casa, o meu primordial instinto foi pegar no telemóvel e tentar descobrir onde raio ficava a apêndice. Para tentar saber se a dor provinha desse orgão. Rapidamente apercebi-me que não era o caso. Ocorreu-me, então, a malandra da cólica renal. E após uma breve pesquisa rapidamente cheguei à conclusão que eu, Ricardo Espada, estava a ser alvo de uma valente cólica renal.

Larguei o telemóvel e gritei alto e em bom som: “AMOR, VAMOS JÁ PARA O HOSPITAL! ESTOU COM UMA CÓLICA RENAL!”

Ela ficou estática a olhar para mim, mas não me fiz rogado e em dois minutos estava sentado no carro a apitar para ela se despachar. A dor já apertava de tal forma que não sei como consegui conduzir até ao hospital. A perna esquerda tremia-me das dores e estava cada vez mais mal-disposto. Assim que chegámos ao hospital só tive tempo de dizer à minha cara-metade: “Dá lá a minha entrada na secretaria que eu vou ali à casa-de-banho vomitar.” E foi só chegar à casa-de-banho para a coisa se dar. Enquanto esperara mais tarde para ser chamado para a triagem, voltei a correr para a casa-de-banho para vomitar uma vez mais. Era oficial: tinha acabado de alugar aquela casa-de- banho do hospital por tempo indeterminado.

Lá fui chamado para a triagem onde me colocaram uma pulseira amarela. A dor intensificava-se de uma forma abismal e eu já não sabia onde me colocar. Ora andava de um lado para o outro, ora sentava-me, ora punha-me de cócoras. Não havia posição que acalmasse a dor, pois era tão forte que só não iniciei uma escalada às paredes da urgência do hospital porque tenho a absurda mania de devorar as unhas das mãos e assim era impossível conseguir agarrar-me às paredes.

As horas iam passando, mas ninguém me chamava. As dores eram horríveis, e fui obrigado a ir novamente à casa-de-banho por mais quatro vezes vomitar. O almoço na casa dos meus pais tinha sabido que nem ginjas, mas num instante desapareceu do meu estômago mais rapidamente do que tinha entrado. Tentei chegar à fala com uma médica das urgências para tentar que ela me pudesse receitar algo para acalmar as dores. A única resposta que obtive foi um “Hum? Sim? Vai ter de esperar pela sua vez. Como? Uma cólica renal? Pois, vai ter de esperar pela sua vez..”, o que me levou a pensar em várias formas de poder assassinar aquela pessoa sem ir preso. Como não descobri nenhuma, deixei-me ficar.

Passados quatro horas, lá me chamaram. Já quase não conseguia andar e senti-me como um jovem num corpo de um idoso de 90 anos. A médica auscultou-me e teve uma ideia disparatada que me levou a odiá-la intensamente, mas que rapidamente percebi que se tratava de rotina para estes casos: deu-me uma valente palmada no rim esquerdo. Doeu de tal forma que dei por mim a gritar de forma esganiçada que nem uma menina. Receitou-me medicação em soro e análises para fazer. Por que raio a enfermaria e a zona das análises ficam tão afastadas uma da outra? Ia morrendo para chegar às análises e acabei por desistir a meio. Voltei para trás e fui direito à enfermaria. A enfermeira reparou que eu já não aguentava com tanta dor e puxou-me lá para dentro, espetou-me uma agulha na mão e deu-me aquilo que para mim foi uma espécie de acto de Deus, o todo poderoso: soro milagroso!

Bastou caírem as primeiras gotas para que a dor começasse imediatamente a acalmar. A sensação de alívio foi imediato e das melhores da minha vida — lamento a quem discorde, mas naquela altura foi muito superior ao sexo. De longe…

Passada meia-hora e já não me doía nada! Aleluia! E o mundo passava a ser uma espécie de Paraíso para mim. Agora, começa o calvário dos exames. Ecografia para fazer, análises ao sangue e outras coisas mais, assim como beber cerca de 3 litros de água por dia. Até um chá catita denominado “Quebra-Pedras” estou a beber de forma insana. Faço tudo para não ter de voltar a passar por aquelas dores horríveis.

Dizem que as dores derivadas de uma cólica renal são equivalentes às dores de um parto. Se assim for, por Deus, fico-me só por um filho, está bom? Obrigado.

Isto é que é uma Vida de Cão, hein…