As Luzes de Setembro – de Carlos Ruiz Zafón

“Há sombras no mundo, Ismael. (…)

Sombras que vêm de dentro de cada um de nós.”

In As Luzes de Setembro, Carlos Ruiz Zafón.

Este livro passou, fisicamente, pela guerra, quase.

“Afogou-se”, “sangrou” e foi sarapintado de argila.

Quando secou, li-o de seguida.

Algo me prendia a ele, algo indescritível.

Não esperem que, devido ao seu nome, este livro seja repleto de luz.

Muito pelo contrário, o livro é uma sombra.

A sombra que todos nós tememos.

Quando acabei de o ler fiquei arrepiada, pasmada, algo que um livro não me fazia há algum tempo.

Desta vez, em vez de vos descrever o livro, vou descrever o que senti ao lê-lo, ainda sinto.

Como este autor uma vez escreveu num outro livro, os livros ficam com pedaços de quem os escreve, os livros ficam também, com pedaços de quem os lê. É aproximadamente isto que ele escreve.

Eu acredito, acredito que n’ As Luzes de Setembro ficou com um pedaço do autor, e garanto-vos… Ficou com um grande pedaço meu.

Relembrou-me algo que o meu pai uma vez me disse “Há sempre uma explicação mágica para tudo”.

Como quando tinha nove anos, quando mo disse, voltei a acreditar.

Claro que acredito em tudo o que racionalidade me dá, mas não é também racional acreditar que há uma explicação mágica para tudo? Não faz parte de nós, humanos?

Carlos Ruiz Zafón não me disse nada que eu já não tivesse aprendido á minha custa.

Foi a maneira como, senti, que ele reescreveu as minhas sombras, que as fizeram um pouco mais luminosas.

É raro sentir que um autor escreve para mim. Senti agora, hoje, que li este livro. Ele escreveu para as minhas sombras, ele transformou-as com as suas palavras.

Se era essa a sua intenção? Duvido. Conseguiu-o.

As pessoas perdem-se, isolam-se, fazem “sombras” onde não as há, outras têm-nas quer queiram quer não.

Todas as sombras têm medo de luz.

Zafón, assusta-as.