A Bandeira Negra

Olhando para a cúpula infinitamente limitada, que se mantém explicavelmente sobre a minha cabeça, questiono-me quando esta ignomínia se torna na minha sobrevivência, ao invés do meu entretenimento. O entretenimento do deus que regia o mundo que eu havia criado. Penso… Pensava antes de ser subitamente atingido por uma onda, enregelando o ser que me rodeava.

O que sou eu? Eu sou a presa. A presa que de tão perseguida, perdeu tudo o que tinha a ganhar, atirando para fora da sua mente o receio por aquilo que de mais divino há, por entre as brumas do ser humano. Neste caso, poder-se-ia pensar que pior do que nada ganhar, seria algo perder. Mas essa era a ilusão de quem enfrentava o mar. De quem via mais do que o mar: os nativos do mesmo, perseguindo cardumes, grupos de homens, como leão persegue um grupo de gazelas. Pior ainda quando as gazelas ganham dentes…

Chegou o tempo.

De… Hastear a bandeira. Negra, como véu, apenas quebrado pela Deusa da Noite que neste crepúsculo… Havia ficado escondida, enamorada pelo seu amante, no outro ponto do Mundo.

Ataque!

Prolongamento de uma protuberância, comummente apelidada de braço, vitalícia ironia da vida, à medida que esquarteja o nível microbiológico, componente essencial da morte… Indispensável a esta lucrativa atividade. A coloração… De uma beleza ferrugenta agradável à vista do mais próximo sociopata, enquanto festeja a conquista da fera.

Nada a perder. Nada a ganhar…

Qual o sentido de tamanha constituição social? Sobrevivência era a mais simples das respostas. Era tudo o que importava.

Nada mais.

Apenas o ADN decorrente da corrente sanguínea, quase capaz de o cegar, não usasse ele uma bandana. Vermelha do seu desgaste emocional.

Como podia um sociopata… Fixo na sua necessidade. Na sua visão de túnel, quase subvalorizada, ser capaz de estar cansado? Como vampiro que aspirava ser… As suas incapacidades eram evidentes.

Em última análise, tudo o que restava era o contentamento bêbado da esperança num Mundo novo. Numa vida melhor. Na expetativa de que aqueles que lhe eram queridos, e haviam ficado para trás, na terra de onde ninguém jamais voltaria, poderiam vir a salvar-se de tudo isto. Não restava honra, ou glória, para tudo o mais.

Porquê?

O desespero escolhe, tal como seu irmão, o destino, alturas extremamente propícias para as suas aparições… Neste caso, sob a forma de uma esfera, perfurando, em câmara, aparentemente, lenta, o seu corpo.

O que fez ele?

Olhou em frente. E sorriu.

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