The Book Thief & Saving Mr. Banks

Este mês o espaço do Magazine Mais Opinião dedicado ao cinema trás dois filmes muito diferentes um do outro. Ambos entraram em exibição nas salas portuguesas no início deste ano e é ai onde as semelhanças acabam. Venha comigo revisitar a Alemanha Nazi pelos olhos das crianças e logo de seguida descobrir os problemas que Walt Disney passou para produzir Mary Poppins…

A Rapariga Que Roubava Livros

A Alemanha nazi numa perspectiva diferente….

thebookthiefposter

 

Titulo Original: The Book Thief

Ano: 2013

Realizador: Brian Percival

Produção: Ken Blancato, Karen Rosenfelt, Redmond Morris

Argumento: Markus Zusak (livro), Michael Petroni

Actores: Sophie Nélisse, Geoffrey Rush, Emily Watson

Musica: John Williams

Genero: Drama

 

Ficha técnica completa em:
http://www.imdb.com/title/tt0816442/?ref_=ttfc_fc_tt

“Chapéus há muitos, seu palerma!”, diria Vasco Santana. No entanto, no tempo deste grande actor português algo que não se ouviria tanto seria “Filmes sobre nazis há muitos, seu palerma!”. E de facto é verdade, muitos filmes sobre nazis têm surgido nos últimos 20 ou 30 anos e têm ficado na nossa mente. Por mais cruéis que as tropas nazis tenham sido representadas o que é certo é que adoramos ver nazis em acção, no cinema claro está! E também adoramos quem luta contra eles, de Indiana Jones a Oskar Schindler muitas interpretações passaram pelo ecrã contribuindo para o nosso imaginário. É no entanto agradável quando uma perspectiva nova emerge no cinema actual.

The Book Thief, traduzido para o titulo A Rapariga Que Roubava Livros, é um filme original em muitos aspectos. Em primeiro lugar, retracta a sociedade alemã durante o período nazi, sem grande esforço para transformar esta sociedade num grupo doentio de gente sem opinião formada sobre o regime que se limita a exclamar Heil Hitler! e a ajudar as tropas a perseguir judeus sem sequer questionar as ideias implantadas. Viver sob tutela de um regime autoritário é apenas uma camada na imensidão de realidades que se viveram na época. O filme é interessante por ter uma história maioritariamente vista pelos olhos de uma criança, e isso faz a diferença na maneira como olhamos para o regime, para as instituições e para as relações entre personagens.

O mais impressionante de tudo é o narrador, que acima de tudo se destaca por ser nada mais nada menos do que a Morte, ou pelo menos a personificação desta. A fasquia é elevada devido a esta particularidade, quantos filmes haverá em que “o fim de todas as coisas terrenas” narra com apontamento de sarcasmo, ou até de admiração, os acontecimentos do filme. É uma personagem que nem sempre está presente mas quando surge faz levantar e suspirar pela sua fatalidade e pelo seu anonimato. Peca pela sua participação pequena na narração, o resto é entregue aos actos de Liesel Meminger, a tal Rapariga que Roubava Livros.

Liesel é uma rapariga adoptada aos 9 anos por um casal alemão, filha de uma mãe em fuga devido aos seus ideias comunistas. O seu irmão mais novo morre durante a viagem por causas desconhecidas, sendo nesse momento que a Morte ganha um certo interesse pela rapariga. O filme retrata a sua tentativa de adaptação a um novo mundo, e a uma nova vila onde terá de passar pelos dramas próprios de uma criança, e também com o fantasma da guerra e da perseguição numa história que como seria de esperar vive também de livros, como expresso no titulo.

_U5B5860March 27, 2013.cr2

A jovem actriz Sophie Nélisse que faz de Liesel parece ter uma carreira brilhante à sua frente destacando-se pela sua naturalidade no papel contracenando ao lado de Geoffrey Rush e Emily Watson que criam o casal estranhamente funcional do filme. Geoffrey Rush surge como o pai carinhoso capaz de tudo para agradar à sua nova filha, já a personagem de Emily Watson é uma mãe carrancuda que esconde um coração de ouro. Sendo Liesel a verdadeira protagonista é de esperar que a história se centre nela e por isso o filme vê muitos dos acontecimentos do ponto de vista de uma criança o que é bastante gratificante pois existe uma espécie de suavização de certas gravidades espectáveis de um clima que eventualmente passa pela Segunda Guerra Mundial.

A música é de John Williams e, como seria de esperar num veterano do cinema, assenta no filme como uma luva e ajuda a criar a magia do cinema.

Será um filme para a toda a família? Sim e não. A visão de uma criança poderia representar um filme agradável para todas as idades, mas é preciso ter uma mente muito mais desenvolvida para perceber a grande complexidade, o grande retracto que o filme representa. No entanto, não deixa de ser um filme sobre família, amizade, guerra e morte. Tudo junto em 131 minutos bastante agradáveis e de grande mestria.

Clube de Dallas e 12 Anos Escravo8,5

 

 

Ao Encontro de Mr. Banks

Um filme sobre as dificuldades em adaptar um livro quando o autor é altamente protector quanto ao seu trabalho.

saving_mr_banks_xlg

 

 

Titulo Original: Saving Mr. Banks

Ano: 2013

Realizador: John Lee Hancock

Produção: Ian Collie, Alison Owen, Philip Steuer

Argumento: Kelly Marcel, Sue Smith

Actores: Emma Thompson, Tom Hanks, Annie Rose Buckley

Musica: Thomas Newman

Género: Biografia, Comédia, Drama

 

 

Ficha técnica completa em:
http://www.imdb.com/title/tt2140373/

As minhas memórias do filme Mary Poppins de 1964 são bastante escassas, é um daqueles filmes que passava trezentas vezes na televisão mas nunca a horas úteis (para mim). Saving Mr. Banks é um filme sobre o making off do clássico de 1964 e também um relato biográfico sobre a autora da obra original, pressionada por Walt Disney durante vinte anos para que os estúdios do próprio pudessem recriar a sua obra para o grande ecrã.

Podemos identificar no filme duas direcções diferentes, ou melhor duas historias que estão interligadas mas que para o final se cruzam com consequências para os protagonistas. Por um lado, o lado biográfico da autora P.L. Travers (Emma Thompson) com a sua infância perturbada pelos problemas de alcoolismo do pai, mas ao mesmo tempo pelo amor que nutria por ele; por outro, as tentativas de Walt Disney de convencer a autora a permitir a adaptação da sua obra, seguido da supervisão do processo criativo marcado pela protecção radical e dando pouca margem aos produtores para fugir da visão da autora.

O filme é uma viagem de auto-descoberta para a autora, que se degladia com o fantasma da sua juventude enquanto esta se cruza consigo na produção do filme. Isso trás consequências imprevisíveis para o filme, e dores de cabeça para Walt Disney e a restante produção que tem de combater o conservadorismo da autora e o seu mau feitio.

adadawd

O filme mostra também algumas relações bem executadas, através da lente do realizador, sobre de que forma a vida de P.L. Travers influencia a obra Mary Poppins e claro o porquê do titulo do filme porque de facto, depois de assistir à infância da autora, torna-se claro que na realidade a protagonista está a tentar salvar, mas claro caro leitor, para isso deve ver o filme.

Os papeis principais, entregues a Tom Hawks e Emma Thompson, não poderiam estar mais bem escolhidos. Embora seja difícil por vezes comparar Walt Disney com Hawks muito devido ao seu reconhecimento e à sua grande carreira cinematográfica, o que é facto é que é uma personagem bastante animada e cómica, mas esse nunca deixa de ser o ponto forte do filme. Emma Thompson capta com perfeição a conservadora P.L. Travers e a sua indignação com os produtores e a personalidade forte e muito “britânica”.

Saving Mr. Banks é uma viagem em jeito de parque de diversões ao universo Disney, é uma viagem sobre a produção de um filme e também uma viagem que por vezes transforma a infância de P.L. Travers na nossa própria juventude.

 

Capitão Phillips e Lobo de Wall Street8.0

 

Volto no próximo mês com mais cinema…

Artigo de Luís Antunes