Bruno de Carvalho, o Presidente sem limites.

Tudo está bem quando acaba bem, é o que se costuma dizer. No entanto, para os lados de Alvalade não se pode afirmar tal coisa, pelo menos durante muito tempo. Nas últimas semanas, Bruno de Carvalho, presidente do Sporting e Marco Silva, o treinador dos leões, têm estado de costas voltadas, algo que, além de ter feito correr muita tinta e ter trazido à ribalta pessoas que não passam sem os holofotes – Zé Eduardo à cabeça – , fez com que toda a opinião pública, incluindo os adeptos do clube, se questionassem sobre as capacidades directivas do presidente. Sábado, após um “caloroso” abraço, fizeram-se capas com as tréguas iminentes. Serão reais? Será algo duradouro? Voltará o ambiente ao que era? Como é que reagirá a equipa?

Audácia sempre foi uma característica positiva, então quando intrinsecamente ligada à coragem e à honestidade, adquire uma importância e um valor extremo. Contudo, o “Presidente sem medo”, como é intitulado Bruno de Carvalho, extravasa do que é ser audaz, honesto e corajoso. Os seus repetidos discursos e comunicados a defender, de forma exacerbada, os supostos interesses do clube, ultrapassam o aceitável. Então quando se entra na crítica constante aos funcionários do clube, aos jogadores e a todos os que, por uma razão ou outra, não concordam com o que diz, já se entra no campo do desastroso. Isto para não dizer ridículo. Sombras de líderes passados pairam sobre a cabeça dos sportinguistas e o futuro, não parece risonho.

Desde que assumiu a presidência do Sporting e se propôs a trazer mudança e mais espírito sportinguista ao clube, que o Gestor de 42 anos tem metido os pés pelas mãos. Começou na mó de cima com uma vassourada gigantesca que foi vital para libertar o clube da asfixia na qual se encontrava. Desde bufos a maus empregados, o Sporting encontrava-se submerso pelo pior período da sua história. Nessa altura, Bruno até parecia saber o que estava a fazer e a, pelo menos tentar, seguir o caminho certo. Tudo mudou. Desde os constantes e desmedidos ataques à imprensa, ao ataque incessantes a todos os outros clubes, afirmando que o seu era o melhor, tal e qual o miúdo de 3 anos que recebe um gameboy nos anos, às críticas por tudo e por nada à arbitragem, entre muitos outros aspectos, tudo isto só serviu para deteriorar o ambiente saudável que se chegou a viver no Sporting Clube de Portugal. Um ambiente que só beneficiaria, e beneficiava, o clube de Alvalade e só serviria para estabilizar o que há muito não era estabilizado. Algo que nos dias que correm parece uma miragem. O recente bate-boca com os jogadores e, nas últimas semanas, com Marco Silva, foi a gota da água, tanto para o público em geral, como para os adeptos do Sporting que ainda acalentavam ver algum discernimento no seu presidente.

Marco Silva, o treinador que levou o Estoril a dois 4º lugares seguidos, vê-se agora entre a espada e a parede. Depois de várias épocas interessantes na sua, ainda curta, carreira de treinador, foi-lhe proposto um desafio aliciante. Treinar uma das maiores equipas de Portugal que se encontra em reestruturação, com o objectivo de tentar manter o Sporting, até ao último minuto, na luta pelo título. Se as coisas desportivamente não estão a correr pelo melhor e o problema em campo acaba por ser central – literalmente -, já fora dele os acontecimentos têm tomado porporções graves que quase o levaram ao despedimento, ou à demissão. Marco Silva tem um carácter forte, uma personalidade vincada e, como tal, não se deixou pisar pelas declarações envenenadas do seu presidente, que haviam sido constantes, e respondeu à letra. O certo é que levou a que tudo azedasse, que Bruno de Carvalho só não o despedisse porque, tanto financeiramente, como desportivamente, seria um descalabro, além de que teria a sua cega falange de apoio, a questionar-se do “porquê” da decisão do seu adorado líder. Nas últimas semanas, o que tem ficado manchado, é, sem sombra de dúvidas, o nome do clube. Um mal estar tão grande, tem tudo para afectar a equipa e intranquilizá-la. Tem tudo para se tornar num descalabro ainda maior. Tanto para Bruno que quer ver Marco Silva pelas costas, como para Marco Silva que não quer ver o seu nome na lama, a situação é frágil, um passo em falso de qualquer um, pode ditar o fim de muito. Marco está com a lâmina da espada encostada à barriga, uma respiração mais ofegante e é ferido com gravidade, quem sabe, se para o seu futuro, não era o melhor a acontecer. Todavia, a solução é a vigente, uma paz falseada e um abraço venenoso, que apenas serão úteis para os que vêem de fora e que continuam a acreditar que tudo é azul, neste caso, verde.

É desta forma que vai a vida do Sporting Clube de Portugal. Numa turbulência tão grande que faz com que todas as pessoas do avião se sintam enjoadas, cansadas e desiludidas, uma vez que nada disso tinha sido o prometido antes de embarcarem. Apesar dos poços de ar, da incompetência do comandante, da ousadia do co-piloto e de um passageiro que têm a presunção de se achar superior, o avião lá se vai aguentando. Com oscilações, sensação de queda e com os coletes salva-vidas a soltarem, o voo parece manter-se na rota. Uma rota que vai mudando com o passar do tempo e com as derivações de humor do comandante que, com o facto de se querer sobressair, só perderá tripulação. No fim, quando o avião não aguentar as tempestades e acabar por ceder, nessa altura, o arrependimento de nada valerá. Que a farsa continue e as palmadinhas entre abraços pervaleçam. Quando tudo der errado, o tombo será de uma dimensão incomensurável.