Cada um luta com as armas que tem, mesmo que sejam autocarros de dois andares

Todas as pessoas gostam de espetáculo. Seja onde for, o espetáculo move multidões e atrai atenções. No que concerne ao futebol, ninguém fica indiferente a uma jogada ao primeiro toque, a um golo de bandeira, a 90% de posse de bola, a uma jogo ganho por 5 ou 6. Ninguém. Contudo, no futebol, assim como na vida, é importante conhecermos as nossas limitações, é imperativo reconhecermos o nosso estatuto e, com isso, saber travar o adversário com as armas que temos.

O mais importante no desporto é ganhar. É para isso que se treina, é para isso que se investe e é para tal que se vai a jogo. Na impossibilidade de ganhar, resta apenas lutar pelo “mal menor”, no caso do futebol, o empate. De forma a ser possível “roubar” o máximo que se consegue, é necessário saber as limitações da equipa, além de perceber o que se tem em casa, também é essencial perceber quem se vai enfrentar. O pior erro possível é cair na presunção, na vitória virtual e nas probabilidades, isso só dará mais força a quem tem menos. Aos “outsiders”.

O que se passa no futebol em geral e no futebol português em particular, é o facto de se criticar quem com menos consegue impor-se a quem tem mais. É peremptório perceber-se que uma equipa com um orçamento de tostões, nunca poderá bater-se com as mesmas armas de uma equipa de milhões. O tempo passa, no entanto continua a ser difícil entender, por parte das equipas de maiores dimensão, que ir jogar a um estádio com mais de 40 mil pessoas contra um plantel no qual constam jogadores 3 vezes mais caros e experientes, não é fácil. Em virtude disso mesmo, de ser uma missão quase hercúlea, as equipas mais modestas – ou de uma dimensão não tão grande, se preferirem – têm de se precaver, têm de procurar defender-se o mais possível ao mesmo tempo que exploram um possível erro do adversário. Tudo isto com o objectivo de não saírem derrotados, vexados.

Há várias formas de por em prática uma estratégia. Não há uma forma de jogo, não existe um modelo a seguir e muito menos uma táctica. Para muitos a forma de defender um resultado apostando tudo na defesa é chamada de autocarro, ou, como já foi celebrizada por diversos treinadores, porta-aviões. Contudo, convém não esquecer que defender é uma arte. Que montar uma teia que impede o adversário de conseguir o que almeja, neste caso, a vitória, é de louvar. Em vez de se valorizar quem empata, prefere-se criticar quem se deixou empatar. Nunca há mérito dos, supostamente, mais fracos. Na imprensa vem constantemente uma critica ao modelo de jogo adpotado, servindo-se das estatísticas de jogo, as mesmas que indicam mais remates, ataques, posse de bola e cantos, para basear uma suposta injustiça num resultado que, no final de contas, acabou por ser justo. É óbvio que se deve valorizar quem tenta ganhar, marcar golos, agradar aos adeptos, todavia, não se pode crucificar quem não o consegue fazer e, com os argumentos que tem, não consegue mais do que tentar retardar um golo que, mais tarde ou mais cedo, irá  acontecer.

Na selva a luta é feita com as armas que se arranjam, que se têm à mão. Se só perto de nós só há uma lança não podemos lutar de peito feito contra alguém que está armado com uma pistola, simplesmente não dá. É necessário encontrar uma forma de contrariar um favoritismo quase avassalador e uma “morte” mais do que anunciada. É tempo de se deixar de ser faccioso, de dar a mão à palmatória e reconhecer os méritos do adversário e os deméritos da nossa equipa. Que se deixe de falar em autocarro, porta-aviões ou tanque, o que interessa é defender os interesses do clube que se representa, ao mesmo tempo que se dá também uma alegria aos adeptos, mesmo aqueles que vão para o jogo resignados e sem esperança. Os três grandes em Portugal tem argumentos que mais ninguém possui, não podem exigir que toda e qualquer equipa jogue de peito feito. Quem leva 5-0 por jogar olhos nos olhos não merece ser mais elogiado do que alguém que jogou à defesa e empatou 1-1. Pensem nisto, parem com os rótulos.