Clássico: Precisão de Tello fere de morte frágil leão

Sonho desfeito. Foi desta forma que saiu o Sporting Clube de Portugal do jogo frente ao Futebol Clube do Porto deste Domingo. Em noite de clássico, o Porto foi a única equipa a querer sair vitoriosa e acabou por ser recompensado com um resultado largo, que só não foi maior porque faltou acutilância. Jackson construiu e Tello concretizou, é desta forma que se pode resumir o Clássico. Os leões saem do Dragão com as esperanças desfeitas, não só de ser campeão, algo que há muito tempo já estava afastado, mas de chegar ao 2º lugar. O F.C.Porto, com um jogo muito bem conseguido, nada usual da parte de Lopetegui, cimentou – garantiu – , o 2º posto e manteve-se em perseguição aos encarnados.

Leões e Dragões enfrentavam-se na 23ª jornada da Liga NOS, com objectivos distintos. De um lado, o do Sporting; a vontade de vencer para se aproximar do 2º lugar e sonhar assim com a entrada directa na Liga dos Campeões. Do outro, o F.C.Porto, que entrou no campo para ganhar, pressionando dessa forma o Benfica e sonhando ainda com o 1º lugar. A equipa de Lopetegui, como é seu apanágio, apresentou um onze diferente, sem jogadores como Martins Indi, Quaresma ou mesmo Oliver Torres, que falhou o jogo por lesão. Por seu turno, a equipa comandada por Marco Silva, deslocou-se ao Porto com o seu onze habitual e já rotinado. Tinha tudo para ser um bom espetáculo de futebol, onde o equílibrio era palavra dominante e a incerteza no resultado uma constante. E assim foi. Pelo menos durante 20 minutos.

Apesar do jogo ter começado equilibrado, cedo se percebeu qual seria a toada do mesmo. O Sporting, aos poucos e poucos ia desaparecendo de campo. Os da casa iam explorando os espaços centrais da defesa dos de Alvalade que, fruto da inexperiência e falta de coordenação – para não dizer qualidade -, abriam espaços atrás de espaços, convidando o adversário a fazer o que Tello acabou por fazer aos 31 minutos. Não se pode deixar de referir o passe mágico, carregadinho de classe e qualidade, efectuado por Jackson, que deixou o espanhol fazer o mais fácil, finalizar. A partir deste momento a equipa verde e branca perdeu-se. Perdeu-se e não voltou a encontrar o trilho de volta. Durante essa viagem, foi massacrado, não o suficiente para sair humilhado, mas o necessário para ser pesado. Assim foram as duas equipas para o intervalo. Adrien e Montero eram sobras do que outrora foram. Todavia, o show de Jackson e Tello continuou na 2ª metade, desta vez um espetáculo mais caro, com mais acção e muito mais periodicidade. Valeu a pena pagar bilhete. Foi nesta metade que o Sporting desapareceu, simplesmente, evaporou-se. O F.C.Porto quase que jogava sozinho, tendo um domínio tão avassalador e fustigante que nunca ninguém duvidou do que seria o resultado final. Deu ainda tempo para Tello fazer o gosto ao pé mais duas vezes e decidir assim o clássico. Jogo de sonho. Foi a sua noite, aliás, a noite de todo o clube que simplesmente vergou um dos adversários directos que, aliado ao seu cansaço, apatia e desmotivação,  ainda acrescia o facto de jogar fora e de não ter chegado a entrar em campo. Acabou dessa forma um jogo de sentido único, que fez apenas os Portistas acreditarem e que ainda faz com que sonhem com o campeonato.

Num jogo tão decisivo e fulcral, algumas ilações poderão ser tidas. A primeira é a óbvia: o F.C.Porto tem plantel para fazer o que fez hoje em todos os jogos. Caso não aconteça só há uma explicação: incompetência. Quer do treinador, quer dos próprios executantes, que estariam a ser ingratos para a instituição para a qual trabalham. Outra ilação: Jackson é jogador a mais para o nosso campeonato. Na verdade, é apenas a constatação do óbvio, mas a verdade é que Jackson Martínez tem-se tornado a cada dia qe passa um jogador mais portentoso e cheio de qualidade. Hoje foi exemplo disso. Última ilação: Marco Silva tem cometido erros a mais e, talvez, seja esta a melhor altura para repensar o seu futuro no Sporting. Por mais talento que tenha, o certo é que a produção da equipa já não é a mesma do que foi o ano passado, ou mesmo no inicio desta época. O seu modelo de jogo está gasto e as alternativas não fazem parte do seu cartório, o que significa que a equipa estagnou. O mau momento de forma de Nani, a coqueluche leonina, é outro dos pontos que leva a que a equipa não evolua e, daqui em diante, venha a cair a pique. Posto isto, será provavelmente a altura de Bruno de Carvalho repensar as suas opções para timoneiro verde e branco. Marco Silva parece não dar para mais e, após as temporadas mais negras da história do clube, não convém estagnar ou, no pior dos cenários, retroceder. Agora sim, ver-se-á até que ponto os leões conseguem dar a volta a esta situação. Falta estofo de campeão ao Sporting, porque plantel, esse já têm.

Foi assim mais um clássico do futebol português, este, ao contrário da maioria, com pouca história para contar. É mesmo um livro daqueles de bolso, com poucas páginas e no qual o Prefácio já conta a história toda. Houve um feiticeiro a espalhar magia, que foi toda aproveitada por um guerreiro que, sozinho, derrotou um forte exército. Nada mais. Daqui para a frente veremos, o certo é que o jogo de Domingo serviu para definir lutas. Marco perdeu a luta e neste momento, deve preocupar-se é em não perder o que ainda tem, ou seja, o 3º lugar. Quanto ao F.C.Porto, este resultado permite-lhe sonhar, mantendo a distância para o Benfica de 4 pontos. A hora das decisões aproxima-se. Vitória, vitória, Tello contou a história.