Costuma-se dizer:- quem dá o pão dá a criação!…

Continuando o “Romance da Minha Vida” e o passeio que o Sr. Fagundes resolveu dar, em vez de ir para casa directamente do trabalho, vamos poder viajar um pouquinho por Santo Tirso! Para quem estava aqui de novo, tudo parece ter ganho um colorido e uma imagem inesquecível! Para além de nos falar mais uma vez pormenorizadamente sobre o seu trabalho, fala-nos ainda das primeiras peripécias e mentiras que começaram a surgir, e no preço pago por elas! Um retrato de uma educação severa e austera!
“…Vim nessa estrada, a passar á ponte da passagem e entrei na estrada que vai para Agrela. Passei á cooperativa dos vinhos, logo a seguir aparece a placa- Valinhas! Seguindo passei a capela de Valinhas, mais acima á igreja, lugar de Quinchães, freguesia de Monte Córdova e mais acima os sete sobreiros. Nessa altura a estrada ainda era em terra, continuando cheguei ao Mosteiro de Nossa Senhora da Assunção. Ainda andava em obras, limitei-me apreciar e vim embora pelo lado contrario, passei então por S. Miguel do Couto, Areal e vim pelo tapado. Passei ainda á fonte Maria Velha. Continuando vim pela rua onde hoje existe a central das camionetas, a sair á fabrica do Arco e assim continuando até casa. Há momentos contraditórios não acham? E para mim foi um destes! E continuando agora vou falar mais um pouco do meu trabalho, no caso dos poços. Além da tragédia que se deu, a mim beneficiou-me. A razão é a seguinte:-o meu trabalho já o referi, só que quando chegavam as chuvas outonais, começavam as veias da água a aumentar e encarregaram-me de ter o poço escoado a tempo dos mineiros pegar ao serviço. Houve muitas noites que ligava o motor ás duas e meia da manha, para estar o poço escoado ás oito horas. Estivesse bom tempo ou a chover, ou ainda a trovejar, eu é que tinha de dar o poço como escoado. Como houve esse desastre eu deixei de ter esse pesadelo. Passado pouco tempo, fizeram uma casa sobre o poço e numa das paredes fizeram uma imagem…a imagem de S. José. A partir daí passou-se a chamar …Poço de S.José !Costuma-se dizer que quem dá pão, dá criação. Comigo também aconteceu isso. Um certo dia, por sinal era o último do ano e calhou a um sábado. Os meus companheiros foram ver o ano velho a Santo Tirso e eu que não tinha ordem também fui. No domingo havia duas missas, mas a que fazia a vez de Feitora queria que fosse á primeira, sendo ás oito horas. Como me tinha deitado tarde não acordei e não fui. Por casualidade tinha falecido uma criança lá perto de nós e espetei uma mentira dizendo que a razão de não ir á missa foi por estar nessa casa e de me deitar tarde. Diz-me a feitora:-sendo assim está bem. Eu convencido que estava resolvido, enganei-me bem! Ela procurou saber a verdade e disseram-lhe a realidade. No dia seguinte, deixou-nos tomar o pequeno-almoço e quando me levantei para ir para o trabalho diz-me ela:- Fagundes, anda cá…mas já estava com umas cordas na mão! Agarrou-me num braço e, trás…trás…trás, umas em cima das outras, doendo tanto que disse: -ai..ai! Depois disto diz ela:- este castigo foi por me mentires.

…Entre as mentiras e os castigos… Entre a ascensão no trabalho! A vida do Sr. Fagundes continua…e é o que vamos ver nos próximos capítulos!

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Crónica de Aida Fernandes
A última Etapa